CRISÁLIDA - parte I
Uma garota de aparência frágil desceu a rua deserta aos tropeços. Carregava em seu rosto uma expressão de angústia e desepero. Já passava de meia-noite, a cidade encontrava-se silenciosa, e ela era a única alma viva num raio de quilômetros.
Depois de tanto correr, o fôlego dela estava acabando e foi inevitável uma parada pra tomar um pouco de ar. Ela olhou ao redor, e só então percebeu estar no meio de uma praça rodeada por árvores centenárias, com vários bancos de madeira e uma grande fonte no centro.
— Eu tenho que conseguir... — disse ela sussurrando, como se temesse que as próprias árvores do local a ouvissem.
A menina por alguns instantes ficou inerte, olhando fixamente para o céu estrelado que parecia curiosamente mais belo do que de costume. Ela então sentiu um arrepio que fez seu sangue gelar e seu coração bater acelerado. A menina sentia que chegara o momento...
Faltava muito pouco para amanhecer, quando uma senhora que cruzava a praça a caminho do trabalho soltou um grito pavoroso. Diante dela, pendurada no braço da estátua que jorrava água na fonte, havia o corpo de uma menina. Estava com os membros dilacerados, e sua face estava desfigurada. Daquele cadáver exalava um odor demasiadamente fétido - semelhante ao de carne queimada - e no peito desnudo da garota havia um símbolo: o desenho de uma estrela de oito pontas, que provavelmente tinha sido feito com uma faca.
A velhinha ficou paralisada ao se deparar com aquilo e não conseguiu de início esboçar reação alguma.
Devido ao grito da senhora, logo a praça já estava lotada de pessoas que queriam ver o que havia acontecido, e que se espantavam ao ver aquele corpo em estado deplorável. Muitos sentiam náuseas, e alguns já começavam a inventar hipóteses sobre o que havia de fato ocorrido. Houve muito borburinho, mas nenhum deles chegou perto de adivinhar o que realmente tinha acontecido com a menina durante aquela madrugada fatídica...