Tinta & Pena VI - Pena & Luz - Parte 2
Capítulo VI : Pena & Luz - Parte 2 (continuação)
"- UAIGUI GOSTOOOOoooosooOOOO......ROoOoOoOoRrrrr"
Isso não soou bem aos ouvidos de Vinci e Elih. Este último tinha poucas escolhas a fazer, ferido como estava. Logo Vinci viu-se na obrigação de fazer alguma coisa. Não que ele tenha tido tempo para meditar nisso. Numa fração de segundos ele desamarrou o machado enferrujado e saltou no buraco com ele. Muito tempo depois ele ainda não sabia explicar por que fez aquilo, nem tampouco como teve coragem. Ele apenas foi. E praticamente pousou no chão sem sentir dor alguma. Estava anestesiado.
Lá, sob a luz da lua de Silan entrando pela janela da meia-lua, estava uma criatura incrivelmente estranha. Mas tarde Vinci a chamou de lagarta gigante. Mas era na verdade um verme, habitante de cavernas escuras e úmidas, chamado pelo Povo Antigo de grook. O grook parecia mesmo uma lagarta gigante (diria mutante), devia ter uns cinco metros. Mas ele não foi o que mais assustou Vinci Laipotem. O que o deixou praticamente sem respirar, foi o fato de não haver sinal do Olíre Ciquem. Só estava lá o bicho gordo lambendo aquilo que ele chamava de beiços. Os olhos do grook brilhavam amarelados na luz azul-prateada-estelar. O bicho era gordo como um tira americano.
- MaIs UM uaiGuI... NãÃooo, GIMO Já tA ChEIOooo.....
- Cuidado é um grook! - Gritou Elih lá de cima, sem nada de importante pra dizer.
- O que você fez seu monte de lama. - Disparou Vinci de imediato (para o grook).
- UmMMm UAgUI FaLANnDO COMIGO? GiMo NÂoo FalAA Comm ComiiDA.... MãE De GImO DiZIA QUe ErA FEIooOO-Muiiito FEIOUUooUu... MÃe DE GimOoo SeMPre DiSsSs IsSsOoo. GruAUquIIIIIiiiiii.
- Eu não escapei da queda de minha cidade, não voei numa groenpiterix, não escapei de mothinas malucas para nada! E eu não vou morrer num buraco sujo com você. - Disse Vinci sem tirar os olhos dos dois brilhos amarelos do grook, num tom de voz que nem ele já tinha ouvido.
- OOOoOOooOOOooorrRrrRrRr.... MAMãE De GimO seMPrE DiSssS PrAa NuuNca DIsPeRDiÇAR COMIDA!!!!
Gimo urrou isso e partiu pra cima de Vinci. Lançando, de alguma glândula, um ácido verde nele. Felizmente o ele era lento como uma lesma, mesmo quando não estava cheio, como uma sucuri depois de engolir sua presa. Movia-se em movimentos de ferradura, como algumas lagartas verdes fazem. O ácido atingiou a lâmina do machado, que derreteu que nem vela. Vinci, com movimentos infinitamente mais rápidos que Gimo, jogou a cabo no rosto do grook sem dó.
- AAAAAaaAAIIiiIIII SEU UaGUI BrUTO...
Sem dar ouvidos a Gimo, Vinci tateou no escuro pela cimitarra chanfrada de Martha.
Elih assistia tudo de camarote. O homem que tinha o salvo tinha sido comido, e o rapaz lutava sozinho com um monstro imbecil. Mas ele nem pensou em descer. Se iria ajudar em alguma coisa, ia ser dali de cima, pensava ele.
- Vinci, olha, no meio da coisa. - Gritou ele.
Na barriga de Gimo tinha um brilho fraco, como se ele estivesse pegando fogo por dentro.
- O QUeEE EhHH IsSsOSs....
Vinci examinava o chão rapidamente. O grook era um adversário relativamente fácil de lidar, podia ser mortal, mas era difícil de atacar. Finalmente achou a cimitarra. que além de chanfrada agora estava uma parte derretida.
Vinci fitou a luz e sem pensar uma vez, rasgou a carne do grook naquela região. O corte foi grande e fundo, o "material" do corpo de Gimo era mole como o da lagarta. Para Vinci que não gostava nem de "limpar" peixes pescados, aquilo era um horror. O caldo o banhou como uma onda do mar. O grook urrou:
- UAAaaAaARRrrRRRRRrrrrr UaGUIiii MalDItOOOoooo!!!
E torceu-se atingindo Vinci com a parte traseira de seu enorme corpo cilíndrico. Ele bateu com força na parede soltando a cimitarra no chão frio. Nem assim Elih se mexeu. Os espasmos de Gimo aumentaram até que, da brecha aberta por Vinci, surgiu uma mão segurando uma pena brilhante. Era a mão de Ciquem Laminuel claro. Tudo estava embaçado para Vinci e logo (mais uma vez naquele mesmo dia) ele não viu mais nada.