A nuvem da paz

Era uma vez uma linda e pequena nuvem branca como a neve, que parecia um floquinho de algodão. Por onde ela passava, espalhava doçura, emoção e, às vezes, confusão.

As suas companheiras não conseguiam entendê-la e a achavam muito boba, pois ela era muito calma e sorridente com todos.

Entretanto, um dia a pequena nuvem estava muito triste e o céu azul lhe perguntou:

- Querida nuvem, o que há com você? Está triste?

- Sim e por que não deveria estar?

- Não entendi – disse o céu.

- Como não entendeu? Será que você não percebeu que lá embaixo tem uma nuvem de violência?

- Violência?

- Sim, as nossas companheiras resolveram se debandar e como um raio desceram para espalhar a guerra e a violência pelo mundo. Pior ainda, resolveram atacar a humanidade por inteiro, inclusive as nossas pobres crianças que ali desceram para aprender e estão sendo influenciadas por elas o tempo todo.

- Engraçado – disse o céu – eu não havia percebido. Acho que é porque ando muito cansado!

- Não, você não anda cansado. O problema é que você é muito acomodado, pois permanece na imensidão do azul e não vê as coisas que acontecem ao seu redor!

- Que coisas?

- A violência, a guerra, a agressividade, a desordem social, a discriminação, o preconceito e outras coisas que acabam causando a desunião entre as pessoas.

- É acho que você tem razão...ultimamente não tenho preocupado com isso. Ah! Mas também o que é que eu posso fazer? Nunca poderei mudar o mundo, então deixa para lá...

A nuvem sem perder a calma disse:

- É exatamente por isso que o mundo lá embaixo está violento. As pessoas não acreditam no sossego, na tranquilidade, na união e se acomodam vendo a guerra e a violência gerada no mundo.

- Mas como disse, não podemos fazer nada e já que é assim, é melhor que você se conforme.

- Conformar? Ah! Mas não vou mesmo! Eu vou é unir minhas forças, conversar com as nuvens debandadas e tentar modificar essa situação!

- Eu não acredito que você vá conseguir! – disse o céu desesperançoso.

A nuvem, então, reuniu todas as suas forças e decidiu descer à Terra sozinha.

Ao chegar lá notou que não era vista pelos adultos e que as crianças a viam, mas a repeliam porque sentiam medo dela, pois a achavam perigosa.

A branca nuvem vendo que a sua tentativa de mudar o mundo, espalhar o amor e calmaria estava chegando ao fim, sentou-se numa pedra e muito triste começou a chorar. Porém, naquele momento apareceu uma linda menina que lhe perguntou:

- Por que você está chorando?

A nuvem chorosa lhe respondeu:

- Porque estou muito triste!

- Triste? Por quê?

- Porque desde que cheguei aqui só presenciei a violência entre as pessoas que habitam neste planeta. Vejo muita incompreensão por parte de todos os seus habitantes. Quando estava lá em cima via tudo isso de longe, mas agora vejo que por perto é bem mais triste do que eu pensava...

- É tudo isso é muito triste! Sabe, se eu pudesse mudaria tudo isso – disse a menina.

- Eu também e foi por isso que vim para a Terra, ou seja, para espalhar amor, solidariedade, tranquilidade e união entre as pessoas. No entanto, eu não consegui. Tentei primeiro falar com os adultos, mas eles não conseguiram me ver e com as crianças não consegui falar porque elas têm medo de mim.

- Medo? Eu não tenho medo de você!

- É, mas a maioria tem, pois não estão acostumadas com o amor, a paz e todas as coisas boas que existem aqui na Terra. Então acabam fugindo de tudo isto, prendendo-se à violência desde cedo, fazendo com que as nuvens debandadas a espalhe pelo mundo afora.

- Nuvens debandadas?O que é isto?

- São nuvens revoltadas que não aceitam o amor e perpetuam a violência entre as pessoas.

- Entendi – disse a menina – Mas então por que você veio à Terra sozinha?

- Porque as minhas companheiras ficaram com medo de enfrentar as nuvens debandadas e resolveram me ajudar lá de cima, após inúmeros pedidos. Elas acharam que foi loucura eu vir aqui. O problema é que eu ainda acredito que posso mudar o mundo, mas para isto preciso de ajuda também aqui na Terra, pois só lá de cima não irá resolver muita coisa. Mas quem vai me ajudar, se todos têm medo de mim?

- Ah! Isto não é problema! Eu te ajudo!

- Você? Como? – perguntou a nuvem.

- É simples, vamos reunir as crianças e fazer com que a vejam sem medo. Vamos espalhar todas as coisas boas pelo mundo e fazer com que ele mude.

- De que jeito? Eu já tentei e não consegui...

- Nuvenzinha, você não pode desanimar porque as pessoas não veem você ou sentem medo! Devemos sempre tentar e nunca desistir, não acha?

- É você tem razão. Minha viagem tem que continuar e não pode ser em vão.

E foi exatamente o que a nuvenzinha e a menina fizeram. Reuniram o grupo de crianças e falaram da importância do amor, da solidariedade, do respeito, da compreensão e da união entre as pessoas.

O grupo, com muito interesse, resolveu passar a ideia adiante e começou a transmiti-la para as outras crianças, até que finalmente chegou para um grupo de adultos.

As nuvens debandadas ao perceberem o que estava acontecendo, revoltaram-se mais ainda e foram ao encontro da branca nuvenzinha. A chefe do grupo lhe perguntou:

- O que há com você? Sabia que você está atrapalhando o nosso trabalho?

- Trabalho? Você chama isso de trabalho? Vocês espalham guerras, violência, desunião, discórdia no mundo e chamam isso de trabalho?

- É um trabalho divertido e não queremos que você nos atrapalhe!

A nuvenzinha indignada retrucou:

- Pois saiba que o tempo de vocês aqui na Terra está acabando. A violência, tudo isto que vocês fazem não leva a nada. Logo, logo vocês terão que ir embora, pois as pessoas perceberão que a guerra e a maldade não valem a pena e que só se vence com amor, solidariedade e união.

- Isto é o que nós vamos ver! – disse a cinzenta nuvem.

Alguns dias passaram e foi se espalhando um clima de muita harmonia e tranquilidade na Terra. Já não se ouvia falar de guerras e discórdias. As nuvens cinzentas forma indo embora e juntando-se à colônia das nuvens brancas, procurando a purificação.

A branca nuvenzinha estava radiante com o seu trabalho até que um dia recebeu uma visita muito importante.

- Olá, nuvenzinha.

- Mamãe? O que faz aqui?

- Vim parabenizá-la pelo seu trabalho. Sinto-me orgulhosa pela sua coragem e persistência, porém está na hora de irmos embora.

- Embora para onde?

- Querida, para a sua casa. O seu trabalho agora deverá ser visto lá de cima. Você deve agora deixar as pessoas caminharem sozinhas aqui na Terra, sem interferir nas suas decisões.

- Mas mamãe, não é justo! As pessoas aqui na Terra precisam de mim!

- Nuvenzinha, ou melhor, Paz, como é o seu verdadeiro nome, todas as pessoas precisam umas das outras. O seu trabalho foi acompanhado lá de cima. Ficamos orgulhosas com a sua força, coragem, perseverança e luta para ajudar as pessoas, porém agora elas têm que seguir sozinhas a sua caminhada, escolhendo o que é melhor para elas e para o mundo.

- É mamãe, você tem razão. Eu não posso interferir no pensamento e atitudes das pessoas. Mas vou sentir muita falta da Terra, pois aqui é um lindo lugar!

- É, mas você sabe que o seu trabalho não termina aqui e você continuará com ele lá em cima. A nossa luta perpetuará por muitos anos. Você apenas plantou a semente, as árvores crescerão e darão frutos. Estes frutos darão sementes e as sementes se perpetuarão. É um ciclo, você sabe – disse-lhe sua mãe.

A nuvenzinha, então, despediu-se das pessoas da Terra e numa cauda de um cometa voltou para casa muito contente por ter conseguido plantar a sua semente, e esperançosa voltou a sorrir, mesmo sem saber que frutos as sementes dariam e que caminho eles iriam seguir...

Lucifrance Carvalhar
Enviado por Lucifrance Carvalhar em 24/06/2009
Código do texto: T1665557
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