Ata da reunião pelo aconselhamento de um amigo
Ata da reunião extraordinária para aprovação dos conselhos que serão oferecidos ao amigo senhor Adalberto Aléssio de Mesquita, em virtude de sua situação amorosa presente, realizada em vinte e nove de abril de dois mil e nove, no recinto mental do senhor Gustavo Rodriguez. A reunião foi realizada a portas abertas, presidida pela Consciência, secretariada pela Razão e teve como presentes as faculdades intelectuais e morais, bem como todos os pensamentos cuja entrada no recinto foi permitida pelo Juízo. O Presidente ordenou que a Memória expusesse os fatos narrados previamente pelo senhor Adalberto, abrindo cada um à intervenção dos presentes. A Memória principiou pela dificuldade do senhor Adalberto de conciliar sua agenda com a de sua namorada em virtude do excesso de trabalho. A Observação interveio expondo um breve resumo dos afazares de ambos. A Percepção declarou que há um excesso de divertimentos desnecessários em suas vidas e chamou a atenção de todos os presentes para o egoísmo do senhor Adalberto, que exige muito de sua senhora sem oferecer em troca seu empenho em prol do relacionamento. A Memória relatou que o senhor Adalberto se disse pressionado ao casamento, por sua dama e por ambas as famílias. A Observação, a Percepção e o Entendimento atestaram a veracidade e acrescentaram que o amigo muito se tem esforçado pela constituição da família nos âmbitos econômico, profissional e social, embora sejam raros os momentos em que pensa na importância deste casamento e na futura educação dos filhos. A Memória iniciou o relato do amigo sobre a intimidade do casal, ao que diversos pensamentos tentaram invadir a reunião em nome do Instinto. A Consciência ordenou que o Juízo os expulsasse e convencionou-se por unanimidade não mais recordar tais fatos. A Memória expos ainda que a dama do senhor Adalberto se encontra com frequência na presença de três ou quatro amigas que são más conselheiras. A Razão confirmou o fato e sua característica negativa para o relacionamento, pedindo que sua manifestação constasse nesta Ata. Houve um período de deliberação em que muitos pensamentos ingressavam para sugerir atitudes, sendo todos interrogados pela Consciência, que os permitia ficar ou os expulsava. Em conclusão, foi decidido por unanimidade, inclusive com a aprovação da Sensibilidade, o seguinte: o amigo será aconselhado a (A) observar com maior atenção seus afazeres diários, em busca de compromissos que podem ser dispensados para que possa dedicar mais tempo à sua dama; (B) refletir sobre a responsabilidade do casamento e seu papel como marido e futuro pai, identificando os pensamentos de que deverá servir-se para tal e preparando-se para criá-los ou fortificá-los; (C) conversar com sua dama a respeito do valor da amizade apresentando-lhe seu conceito, bem como incentivá-la a criar um círculo de amigas que respeitem seu namoro e que possam auxiliá-la a se livrar do egoísmo, da falsa sensação de liberdade e dos comportamentos que tanto viciam sua alma; (D) dar-lhe tempo para a recolocação, sem pressioná-la; e (E) em caso do item C falhar, assumir, de forma mais direta porém sem irritações, a postura contrária a sua atitude, considerando a hipótese de término apenas se essa atitude também falhar. Sem mais a tratar do assunto, foi lavrada por mim, a Razão, esta Ata, assinada por todos os que estavam presentes no fim da reunião.