Entrega mortal

- Conte-me os seus segredos!

- Segredos são feitos para serem guardados, e não sucumbirei a um pedido vil de um galantiador. - ela disse com um ar de desafio.

- Desvendarei-te até o último centímetro, penetrarei em tua consiência, conhecerei-te melhor do que ti mesma! - ele respondeu e aceita o desafio da dama.

- Não tens tal capacidade, atrevido rapaz. E... - ele interrompeu-a com um beijo, e com a mesma necessidade ela correspondeu o beijo.

O sol estava se pondo, o mar estava agitado e estava começando a esfriar. Ela tremia.

- Está com frio minha delicada flor?

- Não te esqueças que algumas flores tem espinhos e não são tão delicadas. Não tremo de frio, mas de repudio as tuas atitudes. Como ousa beijar-me sem minha autorização?

- Mas tu gostastes, pois se de outra forma fosse não me permitirias beijar-te por tanto tempo.

- Como ousas? Sou uma dama de respeito!

- Nunca disse que não eras. Fique calma, paixão não é pecado.

- Paixão... é isso que sentes?

- Creio que não pode ser outra coisa.

- Vou embora, sonho com algo mais que paixão.

- Sonhas com ilusão, sonhas com o inatingível amor. A paixão é algo mais verdadeiro, é instantâneo, não sofre com o tempo, simplesmente acontece, sem nem mesmo pensarmos.

- Mas não é correto! - ela chora.

- O que é correto? Privar-se de seus desejos em nome da suposta moral? Desejo não é pecado minha adorada!

- Mas o que virá depois? Sonho com um futuro, se a ti entrego a minha castidade o que farei? Nem casada poderei ser. Se me entregar a paixão tu me abandonarás, e com isso eu sofrerei!

- Jamais faria-te sofrer.

- Mas já o fazes.

- Me diga, como? - ele perguntou com curiosidade sem imaginar os sentimentos da dama.

- Amo-te, não sou apenas apaixonada por ti! O que sinto é maior que eu, maior do que a minha vontade de não te amar.

A noite caiu em definitivo, eles não viam mais a face um do outro.

- Seja minha, pelo menos por essa noite!

- Sim, serei sua, mas a desgraça inevitável que está a bater em minha porta recairá em teu ombros, serei tua e de mais ninguém! Tu serás eternamente responsável pelo que cativaste!

- Aceito para mim essa responsabilidade!

Eles se amaram, não somente por uma noite, mas por muitas outras. Então em uma outra noite:

- Trago notícias! - disse ela contente.

- Diga querida.

- Trago em meu ventre um pedacinho de ti!

- Como assim?

- Estou grávida.

- Eu entendi! E eu também tenho notícias... - ele parou para respirar - parto amanhã com meus pais.

Ele levantou e foi embora. Ela caminhou na direção do mar, andou até não mais conseguir atingir o chão. Afundou-se até não ouvir o seu coração bater.