Diz a lenda e se não diz eu invento, que o Rio das Antas no RS, famoso pelo rafting e por sua beleza absurda, já foi um pequeno e belo riacho. Um riachinho de vilarejo, que corria entre flores, lenta e suavemente.

Pois bem, havia uma menina, bonita em seus olhos claros e cabelos aloirados que todo fim de tarde ia lá, sentava à sua margem e ficava, por horas, conversando, contando coisas. E o riachinho apenas ouvia. Só que pra ela, ele mais que ouvia, ele falava, argumentava, a fazia rir. E sentiam-se felizes.
Ela via seus olhos refletidos nas águas e ele pensava em como seria poder beijá-la. Era sempre assim... Até que a noite se fazia alta e a lua a chamava de volta pra casa. O riachinho saudoso esperava.

Tantas confidências, tantas alegrias entre a menina e pequeno riacho! A lua sempre por perto. Os vizinhos não entendiam aquilo, a chamavam de louca. Mas os dois entendiam, era o que bastava.

Mais tarde ela vai pra cidade estudar, mas sempre volta, para pôr suas mãos naquelas águas tão suas.

Passam-se os anos. Ela se forma, torna-se mãe, mulher, faz carreira. O riachinho lá na memória e a magia daqueles finais de tarde...

Vamos encurtar a conversa.

Um belo dia, ao anoitecer, ela que está visitando parentes, resolve voltar ao seu velho amigo. Não o encontra mais. Nem as florzinhas vermelhas, que cresciam à sua margem. Viu um rio! Lindo, sinuoso e ficou muda à sua frente. Olhou para si e viu uma mulher também.
Entendeu tudo! Já não eram os mesmos...
Ia dando as costas e voltando, quando olhou de novo pra onde sempre havia uma florzinha vermelha de talinho verde, e ela estava lá.  Seus olhos então sorriram.
Seu riacho, agora era um belo rio, mas não esquecera de dar a florzinha à sua pequena menina mulher...

Ele também a reconhecera!