Tinta & Pena III - Aprendendo A Voar - Parte 2
Capítulo III
Aprendendo A Voar (Continuação)
Foi difícil para Vinci se acostumar. Sua vida estava de "pernas pro ar".
Literalmente.
- Vamos descer, vamos descer, pelo amor de Deus. - Nosso querido (acho que já podemos chama-lo assim) amigo Vinci estava tendo uma crise de fobia.
- Se descermos vamos levar dias para chegar na Floresta Anã. - Disse Ciquem com os cabelos voando.
- Eu não quero ir pra nenhum jardim de quintal!
- Não entendi.
- Essa tal de Floresta Pequenina...
- Você é engraçado Laipotem.
- Sou, as vezes - Disse Vinci sem rir, como seria costumeiro a ele, não estivesse tão longe do chão.
O sol ia para o Oeste, enquanto eles viajavam e as planícies e os montes ficavam para trás. A vegetação era rica e variada, tanto em forma como em cores. Havia árvores de um verde tão jovem que pareciam "mudas-gigantes", as de folhas alaranjadas eram altas como edifícios. Rios e lagos refletiam os raios solares. Rivergard era uma terra muito bonita na Época do Reis.
- Estamos perto?
- Não posso dizer exatamente, por que por algum motivo, não encontro o meu mapa. Mas, pelo que me lembro, acho que estamos perto.
- Achei que você conhecia tudo.
- Tudo?
- Sim, tudo, como os seus próprios dedos.
- Raramente viajei pra esses lados. E sempre que vim, vim pelo litoral. Mas, como sabemos, o litoral não é seguro. Não sabemos em quais direções o Vazio pode atacar. É disso que eu mais tenho medo.
- Você não parece ter medo de nada... Diz-me em que cavalgas que te direi quem és.
- Não há produto da terra que não tema o Vazio. Mesmo aqueles que foram tragados por ele.
- Guiaaaauuuuii
- O que ela disse?
- Que não tem medo de nada. Entenda, ela ainda é muito jovem para os padrões fenixianos.
- Guia?
Ciquem não respondeu a pergunta de Delaina. Apenas a acariciou passando a mão em suas plumas.
No horizonte a frente mostrava-se agora uma chapada enorme. Ciquem lembrou-se que aquele era o marco do sul/sudeste. Em algum lugar a oeste dali estavam as Quedas de Seal, segundo o mapa (Que antigamente - quando toda Rivergard eram "As Terras Selvagens" para o Povo Livre de Holigard - chamava-se Cachoeira dos Findolinos).
Estavam se aproximando do paredão, Delaina começou então a ganhar altura. O que causou verdadeiros "frios na barriga" de Vinci.
Uma floresta enorme aguardava-os em cima. Árvores de quatro troncos cada, em média, todas altas e de copas vastas. Não havia falhas no verde (indicando a localização de uma trilha) nem montes próximos. O sol já estava perto da linha do horizonte. Eles tinham que achar um lugar qualquer que fosse para, pelo menos, passar a noite.
Voaram até que Vinci já podia olhar para o sol moribundo sem problemas. Então viram os galhos na copa de uma árvore balançar - um pouco adiante.
- Bico calado Ina. - Disse Ciquem (e essa expressão nunca foi tão bem aplicada!) - Vamos descer - Acrescentou ele - Segure-se Vinci, segure firme.
- Acha mesmo que eu não vou?
- Chiii.
Delaina fez uma manobra arriscada (para os passageiros). Vinci segurou-se em Ciquem como se lá embaixo estivessem as Fendas da Perdição de Orodruin esperando por ele - Tamanho era o seu pavor. A ave pousou em um galho, grosso como um tronco, fincando suas garras nele fazendo escorrer uma seiva verde-escura. O impacto da decida foi bem menor do que Vinci esperava. Embora o que ele esperava fosse "o pior", a Greonpiterix era uma Ave de Montaria Real e era treinada para levar seus amos no melhor conforto possível. Tanto que ela desceu da árvore facilmente até o chão sem problemas, além do medo, para Vinci. Na decida eles observaram flores grandes (escuras pelo horário) nos galhos daquelas árvores. Por os pés no chão - ainda que naquele fim de mundo escurecendo - era o céu para Vinci. (Com ou sem trocadilho)
- Obrigado meu Deus, obrigado.
- Ainda é cedo para agradecer. Vamos ver o que balançou.
- Você tem idéia em que direção fica, depois da decida?
Em vez de responder o olíre simplesmente foi andando cuidadosamente em meio as árvores. Seus passos crepitavam nas folhas secas - O que era ruim. E estava cada vez mais escuro - O que era pior. Ciquem ia na frente, seguido por Vinci, seguido por Delaina - extremamente desajeitada tendo que caminhar e ainda por cima "andar nas pontas das patas". Era uma cena que valeria a pena ver na luz do dia.
- Consegue ouvir? - Sussurrou Ciquem após ouvir mais um farfalhar de galhos.
- Sim. Estou com medo.
- Como pode temer o que ainda nem viu?
- Por isso mesmo estou com medo. Medo do desconhecido.
- Então logo vai passar.
- Como assim?
O olíre o deixou mas uma vez sem resposta. Continuou andando em frente. Delaina vinha trás emitindo um chiado interno curto, de vez em quando. Embora o manto de escuridão já tivesse se estendido pelo mundo, a escuridão não era total - Uma suave luz prateada-azulada-estelar atravessava as folhas nas copas acima.
- Essa floresta não tem nada de anã - disse Vinci aproximando novamente de Ciquem.
- Ainda não estamos lá. Ah só uma coisa com respeito aos habitantes da floresta, eles são diferentes.
- Diferentes como?
- Você verá se chegarmos lá. - Vinci não gostou nada desse "se".
- Estamos muito próximos, todo cuidado e silêncio... - Ia dizendo Ciquem sussurrando.
- Groooooououo!!
- Guiaaaahhh
- O QUE É ISSO? - Gritou Vinci assustado.
- CALMA INA! - Ciquem tentou conte-la.
- GUIAAAAAA!
Foi tudo muito rápido. Uma coruja apareceu do nada (na verdade de uma toca numa árvore) o que assustou Delaina. Ela tentou atacar a coruja que voou acima das copas das árvores. Delaina a seguiu.
- Ela não gosta de corujas. - Disse Ciquem baixinho
- Eu também não, a partir de hoje.
- O pior é que fomos descobertos, esconda-se...
- Nessa escuridão quelquer lugar é um escon....
- CUIDADO MOTHINAS! - Ciquem gritou inutilmente. Ao ver aquelas criaturas noturnas.
Foi tomado por um sono profundo de escuridão, o mesmo aconteceu a Vinci.