Bárbaros (parte 4)

O vapor saia do balde de água quente que um homem carregava. Ele era louro, forte, e andava arrastando suas sandálias cuidando para não derramar o conteúdo em seu corpo coberto apenas por uma calça surrada.

- Anda logo com isso, seu verme! Não temos o dia todo!

- Ah, cala a boca! Tá com pressa vem aqui e carrega essa água você seu inútil!

- Parem de reclamar os dois! Ele já deve estar acordando!

Os três homens se aproximaram do corpo que estava dependurado através de cordas grossas a um metro do chão. A cabeça de Luck pendia descontrolada, ele ainda encontrava-se desacordado da pancada forte que levara na cabeça.

A porta da sala bateu com um estrondo, o barulho das botas pesadas encheu o ambiente quando três nobres entraram.

- Soubemos que ele já estava acordando e viemos presenciar. Ele já deu algum sinal? - perguntou o mais velho dos nobres que ostentava um pesado colar de ouro no peito desnudo.

- Ainda nenhum, mas parece que o patife está acordando, isso que eu nem bati forte demais nele - um dos bárbaros respondeu.

Luck abriu os olhos e forçou seu pescoço a tomar uma posição mais ereta. A pancada fazia sua cabeça latejar, seus olhos ainda estavam embaraçados das lágrimas incontidas que a dor causara. Ele sentira suas mãos atadas sob sua cabeça sustentando o peso de seu corpo que estava nú. Ele vislumbrou suas roupas jogadas no canto da sala e desejou estar vestido para não parecer como aqueles bárbaros.

- A princesinha deu sinal de vida! - o comentário seguiu-se a uma chicotada que atingiu em cheio as costas de Luck deixando-o com um vergão doloroso. Luck sentiu um filete de sangue escorrer em sua pele enquanto uma mão grande e forte apertava seu queixo.

Os olhos do bárbaro podiam-no ter perfurado, mas as unhas do homem o preocupavam mais, encravando-se na pele do rosto dele, imundas e pestilentas. Um sorriso surgiu nos dentes podres do bárbaro quando ele falou:

- Vejo que temos um espécime exótico entre nós! Quem seria você? Um dos servos do rei nojento desse lugar enviado para nos espionar?

O som de alguém cuspindo no chão quando a palavra romanos foi falada mostrava o quanto desgostavam deles.

- Responde seu patife! - outra chicotada seguiu-se às palavras, mas Luck manteve-se silencioso.

- Esse merda não vai falar nada pelo jeito! Vamos, façam logo esse trabalho, depois voltamos pra ver se ele abre o bico! - um dos nobres falou enquanto se retirava.

A água quente voou em direção ao peito de Luck, o vapor queimava seu rosto enquanto as bolhas surgiam em sua pele.

Uma tropa de cavaleiros e lanceiros se aproximou do acampamento onde os soldados sob o comando de Luck estavam acampados. O rei não poupara esforços, sabia da demanda que necessitariam e enviou reforços mais do que necessários para acabar com os invasores.

- Onde está o comandante? - um dos cavaleiros havia se destacado da massa e perguntava em voz alta.

- Não o encontramos em lugar algum - falaram três soldados que voltavam correndo do interior da floresta.

- Alguém pode nos reportar qual a situação? - voltou a perguntar o cavaleiro.

Um dos generais que antes estava com Luck destacou-se e reportou:

- Três navios apinhados de bárbaros aportaram na baía, e trouxeram com eles caixotes cheios de armamentos e pólvora pelo que imaginamos. Luck estava lá observando, logo ele nos trará notícias pelo que imagino.

Um grito foi ouvido, estava fraco pela distância, mas a dor era audível, e sua voz inconfundível: Luck.

- Acho que isso nos responde algumas perguntas. Luck foi capturado. Hora de atacar homens. Preparem suas tropas!

Os cavaleiros e lanceiros tomaram a frente de marcha enquanto os generais mobilizavam seus homens para se prepararem para partir para o ataque.

Emília Kesheh
Enviado por Emília Kesheh em 23/04/2009
Reeditado em 24/04/2009
Código do texto: T1555987
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