Bárbaros (parte 3)
Luck ficara escondido em uma densa área florestal um tanto longe da cidade outrora sitiada. O restante do exército preferira a segurança de um lugar mais longínquo. Ele agora aguardava informações sobre a chegada de reforços vindos do rei, mas sua preocupação e sua raiva estavam canalizadas para a praia.
Três navios haviam aportado logo depois de seu homens terem abandonado seus postos. Certo que a ordem fora dele, contrariado pela pressão exercida pelos generais ele decidira pelo aguardo dos reforços, mas agora, escondido onde estava, sentia seu sangue ferver e seus nervos clamarem por uma batalha.
As velas encardidas e escurecidas dos navios estavam recolhidas, centenas de homens haviam desembarcado molhando-se nas águas salgadas e geladas do mar, agora descarregavam caixotes aparentemente pesados com ajuda de tábuas e cordas.
Os caixotes eram levados para dentro da cidade, o portão que não cedera com o força do aríete agora estava escancarado. Luck não conseguia ver, mas, podia imaginar o sorriso de sarcasmo e vitória que os bárbaros insolentes estavam ostentando por conta de sua fuga.
- Isso não ficar assim malditos! Aguardem e verão! - ele sussurou entre os dentes para ninguém.
Ele divisou um amontoado de árvores mais próximo do muro da cidade e decidiu se arriscar por uma visão mais acurada dos inimigos. Correu de árvore em árvore até a borda da floresta, agora restava-lhe uma pequena distância à céu aberto.
Olhou novamente para os homens que transitavam pela região. Haviam guardas, guerreiros e alguns espécimes nobres, mas pareciam atarefados demais para prestarem atenção a ele, embora, ele nunca pudesse ter certeza.
Luck retirou uma faca do cinto e cortou um galho alto de uma árvore ao seu lado, e usou-a para tentar uma camuflagem. Em passos rápidos, sempre atrás da árvore ele correu até o agrupamento de árvores.
Elas não ofereciam um refúgio bom, mas alguns arbustos ali o escondiam melhor. Ele deitou no chão, conseguindo encontrar uma pequena fresta entre a folhagem para analisar o movimento inimigo.
Dois homens bem vestidos conversavam perto do portão, a aparência deles o colocaria como nobres perante aquele povo bárbaro. Eles usavam botas de couro bem trabalhadas, capas pretas enfurnavam-se nas pernas, o peito nú adornado com jóias caras que cobriam também os braços e dedos.
Os demais homens, soldados e guerreiros, usavam botas de algum material menos nobre, e suas vestimentas se reduziam a uma calça surrada. Os músculos à mostra dos dois homens que carregavam o caixote demonstravam a força daquele povo.
O vai e vem dos homens continuou monotonamente por cerca de uma hora, Luck já pensava em voltar para a segurança da floresta quando algo mudou seus pensamentos.
Dois jovens magricelos carregavam uma das caixas, já próximo ao portão onde os nobres conversavam a caixa escorregou dos braços deles quando a força lhes falhou, caindo ao chão e se quebrando.
O conteúdo da caixa espalhou-se pelo chão e Luck sobresaltou-se ao ver o que eles carregavam para dentro da cidade. Um berro seco morreu em sua garganta quando alguém a tapou com uma mão imunda.
Luck olhou para cima a tempo de ver o rosto do homem, então um bastão atingiu sua cabeça e ele caiu desacordado.