Amaldiçoada
Três sombras eram vistas no interior da floresta. Estavam agachadas como se tivessem corrido por muito tempo. Uma delas se virou rapidamente, os cabelos cor de fogo foram jogados pelo vento, e uma cascata de luz soltou-se dos fios.
A luminosidade temporária provocada permitiu ao caçador admirar suas presas. A elfa ruiva sempre fora sua predileta, mas ela era difícil de ser pega, hoje conseguiria. Estivera observando-a durante semanas, ela fora ao combate com os dois companheiros, seu povo estava guerreando com os orcs dos pântanos do sul, e agora ela levava mensagens ao palácio real.
A corrida de mais de doze horas deixara o corpo dos três elfos esgotado, eles estavam cansados, com sede e famintos, mas haviam se privado de toda a carga para fazer a viagem mais rapidamente.
- Você viu alguma coisa Ariê? – um elfo de cabelos esverdeados perguntou enquanto se apoiava com a mão ao solo numa tentativa de não sentar.
- Pensei ter visto, mas acho que não é nada. Melhor descansarmos um pouco, ali, aquela clareira parece interessante – ela apontou para um ponto mais ao norte, onde as árvores formavam um círculo perfeito e no centro dele a relva crescia macia e delicada.
Os três elfos se arrastaram para lá e se jogaram ao solo.
- Eu realmente preciso ingerir algum líquido, estou desidratado – desta vez era o elfo de cabelos negros que tentou falar, a saliva parecia faltar à boca dele e a voz saiu enrolada.
Ariê aproximou-se do elfo e colocou a mão sobre sua testa, o corpo de Klim ardia.
- Você está muito mal, deveria ter nos avisado antes! – ela repreendeu o amigo enquanto cavava um pequeno buraco na terra.
A menos de vinte metros de distância, sobre uma árvore alta a dríade observava cuidadosamente a cena. Seria uma luta até injusta, mas ela preparou-se mesmo assim. Ela descalçou as luvas e agarrou dois galhos fortes do carvalho em que estava. A vida da planta era drenada pra dentro dela.
Ariê colocou as mãos nas têmporas e concentrou-se, o solo era úmido, ela conseguiria extrair água dali mesmo fraca do jeito que estava. Uma mão colocou-se no seu ombro e ela sentiu a pouca força de Ninrod associar-se à sua.
As gotículas de água brotavam do solo e formavam um bolsão na concavidade. Ela concentrou as forças e levou a água até os lábios sedentos de Kim que absorvia tudo sem pestanejar.
A dríade pulou silenciosamente pelos galhos até se encontrar dentro do círculo, a força renovada em suas veias a deixou poderosa. Ela deixou seu corpo cair ao solo.
O baque surdo dos pés descalços fez os elfos levantarem seus rostos concentrados e pularem em posição de defesa mesmo exaustos como estavam. Ariê moldava o solo em contato com sua mão para endurecê-lo formando uma arma.
Klim inconscientemente sacou uma faca comprida do cinto, e Ninrod empunhava sua espada curva enquanto mantinha os pés em posição de ataque.
A dríade balançou os cabelos em forma de cipó e impulsionou os pés plantígrados no solo pulando sobre Ninrod. O elfo pulou para trás e com um movimento do braço jogou a espada contra a criatura, que se esquivou tomando novamente a posição de ataque cravando as unhas no ombro do oponente.
O sangue jorrou pela artéria rompida, o movimento do braço tornou-se mais fraco e a espada caiu aos pés dele. A dríade jogou-se contra Ninrod fazendo-o chocar-se contra uma árvore, o crânio dele batendo na madeira dura.
Ariê terminara de montar sua arma, segundo o conhecimento que havia adquirido dríades só podiam ser derrotadas por elementos da natureza, o aço temperado seria inútil contra ela. Ela empunhou a estava afiada de minérios e terra que havia construído e deu três pulos longos em direção à criatura, a mão direcionada ao local onde seria o coração dela, se é que havia algum.
A dríade virou-se e segurou a elfa pelo pescoço, a estaca a centímetros de seu peito. Klim apareceu subitamente golpeando a dríade no braço com a faca, um corte profundo foi feito, mas não parecia haver dano, a faca caiu ao solo, e ela o chutou fazendo-o voar cerca de três metros.
Ariê debatia-se no ar, sua concentração toda focada na estaca, ela fez o instrumento levitar, sua mão caiu inerte ao lado do corpo, a mão esmagava o pescoço, um tom arroxeado começou a tomar suas faces, mas ela não perdeu o foco.
A estaca avançava milímetro a milímetro mais próximo do corpo da dríade que parecia não notar o ataque. Os outros dois elfos estavam caídos inconscientes, inertes, sem vida, não havia mais força em seus corpos para retornar a viver.
A estaca cravou no peito da dríade ao mesmo tempo que Ariê perdia a consciência, inerte nos braços fortes da caçadora, que mesmo ferida mortalmente estava satisfeita consigo mesma por ter aniquilado aquela que a fez ser uma prisioneira mortal das árvores.