Abedula e os Impostos
• Da série "Abedula”
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ABEDULA E OS IMPOSTOS
A filosofia do árabe Abedula no que tocava ao recolhimento de tributos era muito particular , mas nas conversas reservadas de fim de tarde ou nos jantares da confraria ele sempre revelava para os mais íntimos - “... brá bolíticos corrubtos , batrício não baga imbostos ... eles tudo brá buta que bariu ...”
Perante as autoridades Abedula apresentava-se como um bom samaritano – um sujeito inofensivo – “Eu baga todos meus imbostos com muito brazer” , dizia ele aos fiscais que, contudo, sempre desconfiavam da quantidade de notas fiscais emitidas em comparação ao estoque e ao movimento da loja .
Dizem que numa certa ocasião estava um veículo tipo furgão carregando caixas e mais caixas de camisetas, todas com destino certo para muito além das fronteiras de Uruguaiana , quiçá até mesmo para o Uruguai, via travessia fluvial pela Barra do Quarai e tudo ia muito rápido, com o próprio Abedula auxiliando no carregamento .
Foi de inesperado que surgiu a figura do Fiscal da Coletoria de Impostos, encarregado de controlar o recolhimento do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias, o qual percebendo toda aquela estranha movimentação prontamente dirigiu-se para Abedula interpelando-o com uma certa dose de ironia – “Então, fazendo uma venda graúda seu Abedula ?? – Pode me apresentar as Notas Fiscais do destinatário da mercadoria ??
Evidentemente que não havia Nota Fiscal alguma , posto que a mercadoria estava toda destinada para o estrangeiro , e quando era iminente a autuação de Abedula , com o ambiente já impregnado de um certo nervosismo , eis que o árabe surpreendeu a todos e começou um bate-boca com o motorista do furgão:
- “Eu já havia falado bra você que não vende batrício não vende mercadoria sem nota fiscal – batrício não quer se incomodar com fiscal”
O fiscal meio sem entender aquilo tudo foi dizendo que não adiantava a conversa e que iria aplicar a multa por sonegação fiscal, mas nesse momento foi interpelado novamente por Abedula, que bradou a seus funcionários:
- “bodem descarregar a mercadoria toda – batrício desiste da venda...”
E prontamente os funcionários começaram a inverter o procedimento todo, isto é, devolver para o interior da loja todas as caixas que já haviam sido transportadas para o interior do furgão. Sob o olhar desnorteado do Fiscal , Abedula bradava:
“- se não tem venda , não tem multa – volta toda a mercadoria brás brateleiras do loja ...”
O fiscal ainda tentou argumentar algumas palavras, mas Abedula diminuindo o tom da voz e com um certo ar de lamentação dizia ao agente público:
“- Eu brefere o brejuízo de não vender do que brigar com a Fiscal”!
O funcionário da coletoria de impostos ficou sem ação, pois a aplicação da multa dependia da ultimação do negócio e, evidentemente, se o árabe estava desistindo da venda e restituindo a mercadoria para o interior do estabelecimento, recompondo-a no estoque da loja, era impossível ou temerária a aplicação da multa. Esse dilema todo suscitou uma dúvida profunda no fiscal que, entre contrariado e vacilante, retirou-se do local após a saída do furgão vazio da frente da loja de Abedula.
A meia boca, comentam que durante a mesma noite diversas pessoas foram vistas se deslocando da casa comercial de Abedula portando grandes sacolas e em direção a um posto de gasolina na estrada de saída para Barra do Quarai . Alguns comentavam que nos fundos do posto havia um furgão estacionado ...