- Pé-de-garrafa -
(Por Onofre Ferreira do Prado)
(Narrativa sobre um ser folclórico, que segundo a crença popular, habitava as densas matas de alguns estados brasileiros)
No começo de 1950, o seu Júlio Ribeiro, a esposa e os cinco filhos, mudaram-se da Fazenda Riachinho para a Fazenda Mato Grande, no mesmo município, no sertão de Minas Gerais. Fazia tempo que seu Júlio vinha reunindo recursos para a compra de uma área com maior extensão, onde todos pudessem construir a sua própria independência. A Fazenda Mato Grande tinha todas as vantagens. Era espaçosa, de cultura, com densas matas, água abundante, além da diversidade de animais para a caça e a pesca. Aquele seria o lugar ideal, o futuro garantido para toda a família.
No início era só alegria, muita empolgação, mas aos poucos dona Josefina e os meninos, foram percebendo que não era o paraíso que seu Júlio fantasiou. A educação dos meninos nunca esteve na lista de prioridades de seu Júlio, a região era inóspita, o vizinho mais próximo ficava a cinco quilômetros dali, o único povoado ficava ainda bem mais longe. Como se não bastasse, logo que chegaram, dona Josefina foi avisada para ter cuidado com os meninos, pois corriam boatos da existência de um monstro estranho, de grande tamanho, que habitava aquelas matas, conhecido pelo nome de Pé-de-garrafa. Era um ser invisível, de hábitos noturnos, que costumava rondar as casas durante à noite. Cada um contava uma história mais terrível, eram boatos que nunca ouviram antes dizer. Corria a notícia que um garoto de uma família que viveu nas redondezas havia sido levado. Quando seu Júlio tinha que ir ao povoado, então, era uma agonia, principalmente se tivesse que dormir fora de casa.
Seu Júlio, no entanto, sempre levou esse caso na brincadeira. Dona Josefina, com os filhos viviam apavorados e já arquitevam planos para se mudarem para a vila.
Um dia, um tal de Zé Trindade, ficou sabendo que seu Júlio tinha que ir ao povoado, com retorno marcado para o dia seguinte. Ciente do revelado medo daqueles vizinhos, arquitetou um plano de ir àquela fazenda, fingindo-se que era o Pé-de-garrafa. Quando deu meia noite ele foi chegando devagarzinho. Os cachorros fizeram o maior barulho, mas mesmo assim ele conseguiu deixar várias marcas pelo chão, ao redor da casa, com o fundo de uma garrafa. Dona Josefina em orações e tremendo muito, reuniu os filhos no quarto do casal, vindo a se acalmar um pouco mais só depois que todos perceberam que o pseudo-monstro havia ido embora. Dali para frente ficaram em vigília até o dia clarear, quando foram abrir as portas com muito cuidado, conferindo logo se havia ficado algum vestígio pelo chão. Em cada pegada que encontravam era um grito! Olhem aqui, o tal Pé-de-garrafa existe de verdade! De hoje em diante ninguém duvidará mais, até o nosso pai, a partir de agora vai ter que acreditar!