A Princesa e o Camponês

Em um Reino não muito distante havia uma linda Princesa. Era tão bela e encantadora que pretendentes de vários cantos vinham cortejá-la. Traziam-lhe os mais ricos presentes; pedras preciosas, raridades de terras distantes; tapeçarias e frutas exóticas. Todos apareciam em suas carruagens adornadas nos mais belos relevos, engastadas em pedras de ouro; os cavalos vestiam túnicas de seda e tinham plumas em suas cabeças.

Era tão formosa que era motivo de orgulho para seus súditos. Haviam alguns entre eles que se perdiam em seu encanto. Certa vez, um pobre Camponês se enamorou da Princesa, porém a distância era-lhe tão grande, que o jovem Camponês se sentia diminuído e apenas de longe contemplava a bela Rosa.

Algo se modificou para sempre em sua vida quando os dois se encontraram por acaso em uma das alamedas do Reino. Seus olhos brilharam como nunca antes. A Princesa o tratou com a maior atenção (assim como tratava todos os seus suditos). Ficou todavia fascinado. Noites seguidas sonhou com um novo encontro e imaginou dentro de seu mundo a felicidade se aproximando.

Trabalhava horas a fio. Em seu cabriolé, percorria todos os confins do Reino. Não tirou da cabeça a imagem da Princesa que lhe sorrira. Ao longe via o Castelo e imaginava em qual janela surgiria sua bela silueta. Mas a Princesa nunca apareceu.

Sentia profunda necessidade de revê-la. Com efeito, o destino conspirou a seu favor e suas consequências mudaram sua vida. Ao se parar com ela em um de seus passeios semanais, o Camponês ofegante e com o coração descompassado, tornou-se a mais atrapalhada das criaturas. Não soube conter suas emoções e acabou não reverenciando a Princesa como deveria. De forma desastrada, acabou pisando em seu manto róseo, deixando a marca de sua pegada estragando-lhe o vestido.

A Princesa ficou tão ofendida, que o tratou com o mais puro desprezo. Rogou as céus que nunca mais o visse novamente.

O Camponês quis morrer. Por algum tempo mergulhou no mais puro ostracismo. Depois se encheu de brio e decidiu irradiar o mundo com seu amor, pois sua alma estava plena de sentimentos. Misturou suas lágrimas às palavras, untou sua saudade ao lirismo; depositou em suas poesias a voz de seu coração, de seu sofrimento e suas esperanças temperou com esmero suas estórias e fábulas. Fez com tal perfeição, que de seus poemas irradiavam a mais pura ternura. Tornou-se muito famoso e quem o lia sentia na própria alma aquele amor sincero e intenso de seu autor. Casais apaixonados trocavam trechos de seus poemas e se aproximavam em seus ideais.

Arrependido, o Camponês quis desculpar-se de sua Princesa. Numa tarde chuvosa, inspirado, mandou uma carta à Princesa pedindo que revisse sua pena, pois se era doloroso viver sem o seu amor, era muito mais penoso viver condenado a um eterno desprezo. A Princesa porém, nunca respondeu.

O Camponês passou então a escrever mais e mais. Escrevia as coisas mais lindas sobre a Dona de seus pensamentos. Pendurava suas poesias em árvores e estas imediatamente floriam; as flores enviadas pelos apaixonados tinham um perfume mais intenso, quando anexava-se um de seus poemas. Nos cruzamentos, ao lado dos avisos Reais, nas portas dos estabelecimentos sempre apareciam alguns de seus versos. Invariavelmente alguém era sempre pego, lendo e viajando com olhares distantes.

A Princesa porém, fingiu nunca ter lido nenhum de seus poemas...

Os anos se passaram e o tempo tratou de conservar a beleza da Princesa. O Camponês renunciou a qualquer outro amor sonhando em um círculo viciante de inspiração e dor. Apesar disto, contagiou todo o Reino com sua paixão. Se ele não soubera amar a sua Princesa, disseminou o melhor de si entre aqueles que o rodeavam. Não viveu muito. A vida sofrida debilitou seu corpo e sua passagem se deu sozinho, segurando um lápis curto debruçado sobre umas frases ininteligíveis. Não houve quem não se emocionasse com a notícia. Alguns amigos entoavam seus versos mais conhecidos enquanto o solo abraçava seu corpo. Foi enterrado próximo a um Ipê, que por anos floriu e acariciava seu túmulo com flores amarelas. Em sua lápide o epitáfio que ele mesmo escreveu :

“ Por toda minha vida te procurei. Deixei meu rastro e o meu amor na esperança de ser perdoado. E agora que aqui estais me sinto recompensado “.

Mas a Princesa porém, nunca apareceu...

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Essa estória não termina aqui.

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Espero que gostem.

Almeida Ricá
Enviado por Almeida Ricá em 25/03/2009
Reeditado em 31/07/2024
Código do texto: T1505307
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