A Carta
A carta
Pegou o envelope timbrado que conhecia tão bem. Era o vigésimo aquela semana. A caligrafia corrida e descuidada de alguém que nunca se preocupou muito com cartas, papéis e outras coisas materiais. Era da era digital. colocar o selo e despachar mensagens se resumia em uma ação para ele: Apertar uma tecla.
Ficou ali, de pé na sala cingida pela mortiça luz da tarde. Correu os dedos mais uma vez pelas letras como para sentir quem escrevera aquilo. Parecia de alguém de outra época, até mesmo outro século.
Mas sabia que não poderia ser tal. Esperava que não fosse.
Uma gota de suor lhe desce pela face esquerda.
"Será que o velho estava certo? Será que realmente tudo aquilo iria acontecer? E tão rápido?"
Sentiu um gelado arrepio lhe subir pela espinha e fazer cócegas embaixo de seu maxilar.
Olhava a data da carta: 01 de Março de 1827 escrita a tinta fina e com um selo de cera emblazonado. O papel gasto e amarelado como se houvesse sido guardado por anos. Do outro lado do envelope, para seu mudo horror, um nome conhecido como remetente: o seu.