Medusa

Perseu é o dono do salão de beleza mais badalado da cidade. É um homem bonito, de cabelos desgrenhados, ma cuidados; olhos castanhos e escuros, vivos e perscrutadores de defeitos; boca carnuda e lábios molhados; corpo definido pelos exercícios; e mente aquecida pelos livros. É o tipo de homem que faz as mulheres delirarem quando passa.

Mas não era só isso. Perseu tinha muito mais do que um corpinho bonito e dinheiro no bolso. Ele é um herói. Isso mesmo, um herói. Não que chegasse ao Lendário Perseu, filho dos Deuses antigos, como era costume dos heróis da época, mas Perseu se orgulhava de estar próximo ao parente mitológico.

Por que ele era um herói? Pergunta-se o curioso leitor.

Respondo eu, que Perseu cortava cabelo não só das mulheres da cidade, mas também das figuras mitológicas que vivem por ali: As fúrias, com cabelos de bronze, as Deusas, com cabelos de ouro; as Gréias, com pouco cabelo. E a mais misteriosa e assustadora criatura de que se tem noticia desde o imposto de renda: A Górgona, mais conhecida como, Medusa.

Medusa é uma mulher bonita. De curvas sinuosas e lábios finos e sensuais. O único problema desse pedaço de mulher são os cabelos em forma de serpente. Isso mesmo que você leu: SSerrrpentesss...

Quando Medusa vai ao salão ela se cobre com um manto muito comprido de capuz que cai sobre o rosto. Ela não permite que as pessoas olhem em seu rosto a morte de pedra. Pois é isso que acontece com quem a observa -vira pedra- e perde a alma. O Jardim dos Amantes, como ficou conhecida a casa de Medusa, é um espaço lotado de estátuas de pedras em posições horrorizadas (exceto por Télios, que foi cometeu o suicídio para fugir de uma C.P.I, mas isso não vem ao caso)

Claro, muitos cabeleireiros já tentaram cortar o cabelo da Medusa, e todos, sem exceção, caíam vitimados pelo olhar aterrador das serpentes mortíferas das madeixas da cabeça monstruosa da criatura nefanda. Quando digo que , sem exceção, todos caíram, não me refiro a nosso herói. Perseu. Pois este, como já dito, cortava cabelos de criaturas muito mais aterradoras que a Medusa. Entre outras, cortara o cabelo de Eqüidna, e de Geia, e até mesmo cortar o cabelo de Freya, uma Deusa de outro panteão, o que provava sua competência suprema sobre outros cabeleireiros!

Estamos no ponto em que Medusa entra no salão.

Silêncio total. As almas escurecem, o medo explode nos corações humanos e divinos, muitos Deuses viram seus rostos enquanto Medusa atravessa o salão...tira o manto, todos já estão do lado de fora, observando. Perseu não está ali, mas tudo já está preparado para a ação seguinte.

O som de trombetas ecoa pelo salão, o barulho de rodas quebrando o asfalta reverbera no silêncio que se segue após as trombetas se calarem, um urro quebra esse silêncio e é seguido de aplausos e ovações: Perseu se aproxima com sua armadura reluzente , a tesoura de ouro, o pente de prata , Atena, ao seu lado, Apolo em seu coração. Ó Musas! Que inspiram os Aedos, levantem esse coração aos céus!

O herói aparece no salão vestido com sua armadura dourada com o grande penacho no elmo! Corre com a carruagem dos reis , tesouras na cintura, prendedores de cabelo nas costas, pente, usado como escudo. Ele vira a carruagem e o raiar de Apolo faz com que a divina aura resplandeça aos Olimpos sacros! Esse é Perseu, nosso herói!

“Não muito curto, e sem pontas.” Diz Medusa.

“Vai querer lavar primeiro?” são as palavras do audacioso Ateniense, elas cortam os gritos da multidão como mil relâmpagos de Zeus.

Do lado de fora a multidão pára. Coríntios gritam jubilosos, Atenienses vibram, tebanos comemoram, Macedônios saltam ,Espartanos ficam calados.Todos reconhecem, na imagem do herói, a nação guerreira. Até mesmo os Persas, inimigos da Grécia, param para ver a batalha.

Perseu corta um lado , corta outro. A tesoura trabalha numa velocidade frenética.O pente impede os cabelos de picarem o ateniense, que se esquiva inspirado pelos Deuses ágeis: Ártemis, Hera, hécate, todas unidas pela batalha sacra. Mas Perseu não olha diretamente para o inimigo, utiliza um truque de espelhos , vira-os de modo que não seja atingido pelo espectro da maldição.

Em certo ponto, a tesoura cai. Perseu está tenso. A platéia, emudecida. A Górgona abaixa para pegar o utensílio de trabalho do cabeleireiro.

As ações à seguir acontecem todas em câmera lenta.

Perseu tenta se proteger do raio espectral que o transformará em pedra. A medusa vira o rosto amigavelmente, os menos atentos na platéia viram pedra, um a um. Perseu esquiva do primeiro raio mas é picado por uma das cobras que se desprendem do prendedor de cabelos. O herói acaba fitando a górgona por um instante.

Silêncio.

Até hoje, quando as pessoas reparam na estátua de pedra no canto do salão de beleza e perguntam sobre ela, os rostos dos atendentes são invadidos por um aspecto sorumbático. Seguido de algumas perguntas sobre como o cliente que o corte.

Mas ninguém, naquele lugar, pede um corte “não muito curto, e sem pontas.”

Oghan Crann Criath
Enviado por Oghan Crann Criath em 23/04/2006
Código do texto: T144158