UM SONHO DE NOME ELIS

Saboreava meu substancioso bife acebolado, que só o Allis sabia fazer em Caxias do Sul, quando três monumentos postaram-se à minha mesa. Tímido diante de mulheres, como eu ainda era naquele tempo, especialmente as poderosas, olhei sem grandes pretensões quando a loura perguntou com olhar maldoso se poderiam ocupar os três lugares vagos junto à mim. Vendo-me como um garotinho num arem, apesar dos meus vinte e três anos, franqueei os lugares, sendo que a lancheria estava repleta e todas as mesas ocupadas, mas sequer me atrevi a pensar que poderia vir a ter a atenção de uma que fosse daquelas beldades.

Enquanto comia, desacomodado ao mesmo tempo em que em êstase, ouvi todas as suas conversas sobre o trabalho, a empresa onde trabalhavam, etc., memorizando o nome da morena mais linda que eu já tinha visto, a qual levantou e foi ao caixa pagar a conta, e dela pensei que se não era modelo era somente por algum equívoco muito grave das produtoras de moda. Aliás, sobre as três meus pensamento se resumiam nisso.

Passados três messes, recebera a incumbência de criar e produzir a capa da edição do mês da Revista Móvel Press, publicação de abrangência nacional do Jornal Pioneiro voltada para a industria moveleira. A edição trataria de móveis de jardim, pelo que pensei em reproduzir um instante em uma piscina equipada com os móveis da tendência do momento. E para caracterizar um bom momento em uma piscina nada melhor do que uma mulher de linhas perfeitas, bronzeada, acompanhada de um pequeno menino como seu filho para quebrar o clima erótico.

Ao receber aprovação do layout, perguntei-me quem seria a mulher, tendo logo em seguida o vislumbre daquelas três no almoço, especialmente a morena Elis que eu vira junto ao balcão. Todavia, onde encontrá-la? Concentrando-me em suas falas junto à mesa, lembrei que pronunciaram varias vezes um nome que parecia de mulher, mais quando o pronunciavam estava inserido num contexto empresarial. Soava inclusive parecido com Elis, tendo uma sílaba e uma consoante a mais.

Indagando dos colegas, caxienses antigos, se havia na região alguma empresa cujo nome se parecia com aquele, deram-me logo o nome de uma fábrica de móveis requintados de latão, na qual em menos de quinze minutos eu já falava com a morena Elis por telefone.

Porque ela achou melhor conversarmos frente-a-frente para tratar da foto para a capa da revista, às nove horas da noite toquei o interfone no apartamento em que ela morava num bairro quase centro afastado um pouco da região central da cidade. Presumindo eu que lhe daria uma grande oportunidade, ofereci-lhe a chance imperdível de sair na capa de uma revista de circulação nacional, presumindo que ficaria satisfeita com um pequeno cachê. Já no início de nossa conversa ela me mostrou fôlderes, revistas, fotos e um vasto material publicitário para os quais já tinha pousado. Tratava-se, portanto, de modelo profissional, trabalhando, porém, em turno integral na empresa cujo nome soava parecido com o seu.

Sem querer demonstrar o fascínio que sentia frente à sua beleza esfuziante de cabelos negros lisos, rosto arredondado, nariz afilado, lábios pequenos carnudos, cochas e glúteos bem torneados e com pêlos descoloridos, o que era possível ver apesar do chorte comportado que vestia, despedi-me sem confirmar o negócio, restando apenas aprovar com a direção da revista o cachê que ela pedira e confirmar por telefone, sem ter que encontrá-la novamente a não ser para a produção da fotografia na data que seria agendada.

Empolgado por causa da prona aprovação do valor, liguei para confirmar, pensando que estaria tudo acertado, mas ela disse que à noite, quando eu fosse novamente em sua casa para a certar esse detalhe, conversaríamos melhor. Passei a tarde a pensar o que teria mudado em sua decisão para que eu tivesse que ainda ir à sua casa, não sendo suficiente o contato telefônico. À noite, eufórico por vê-la mais uma vez na flor dos seus vinte e três anos, às nove horas em ponto bati em seu apartamento, achando estranhamente conveniente seus pais estarem de saída, pondo colchões e roupas-de-cama no carro para ir passar a noite guarnecendo a loja da sua irmã, conforme a Elis disse depois, que tinha sido arrombada na noite anterior.

Entretanto, minha mente pobre negou-se a meramente pensar na possibilidade de ao menos beijar sua boca apetitosa, que ornava tal monumento com tanta volúpia, pondo-me em delírios. Dela eu sequer admitia que pudesse receber atenção que não fosse profissional. Nem mesmo me atreveria a dizer-lhe quão dominado e febril estava pela simples lembrança de sua beleza monumental, quanto ainda mais por sua presença e perfume, sendo que no dia anterior tivera tempo inclusive para me apaixonar por sua maneira suave, sua voz acolhedora e atenção inteligente e carinhosa. Imaginava que se tivesse seu carinho por um instante sairia do corpo, morrendo a flutuar numa dominadora convulsão sufocado pela paixão.

O tempo passou rápido demais e mal falamos no assunto do cachê para a foto, sendo que isto estava certo mesmo. De resto, mal fiz menção de sua beleza, dizendo-lhe que ela me fascinava, todavia, pretendendo disfarçar a “babação” remendando a conversa com aspectos profissionais, mas não conseguindo disfarçar em nada.

Quanto a ela, sentada na poltrona a minha frente, vestida de uma blusinha leve e um chortinho comportado, fez profunda investigação sobre meus gostos e objetivos, indagando, inclusive, sobre minha preferência por marcas, modelos e cores de carros. Enquanto o som entorpecente que fluía daqueles lábios dominadores seduziam meus ouvidos, meu olhar se deixava arrastar pelas curvas libidinosas daquele corpo bronzeado, produzindo impulsos incontroláveis que eu dominei a contragosto só para não tomá-la de súbito e calar-lhe a voz com beijos vorazes, arriscando levar um grande corridão. Sabedor que passaria daquela noite sem satisfazer ao impulso sempre mais arrítmico do meu coração, comecei a idealizar um jantar amigável em meu apartamento, onde me sentiria no próprio terreno, encorajado a ouvir o não que estava certo que seria constrangido a ouvir quando lhe declarasse o sentimento.

Mais adiante fui tirado do transe por sua indagação de se a ajudaria a escolher e ensinaria a dirigir o Volkswagen Gol azul marinho que ela decidira comprar, sendo que esse era o carro que eu lhe dissera há pouco que tivera. Apesar disso, não me atrevi a pensar que pudesse estar sentindo algo por mim, ao contrário, argumentei em pensamento que essa tal demonstrações de afeição era nada mais que cortesia.

Perto da meia-noite, observando a hora avançada, comentei que precisava ir. Impressionada com o avançado da hora, ela comentou que a irmã estava tardando e pediu que eu ficasse mais um pouco, pois ela não gostava de passar a noite sozinha. Pensando fazer um grande favor, concordei em ficar um pouco mais, mas comentei que não ficaria muito mais, pois achava abuso da minha parte permanecer por muito tempo dispondo de sua atenção, até porque seus pais não estavam.

Sinceramente preocupado em não abusar, a meia noite e trinta levantei decidido a ir embora e fui saindo, não obstante seu protesto de que a irmã demorava muito e ela tinha pavor de ficar só. Até a saída do edifício lutei contra o impulso de voltar e ficar com pretexto de esperar a irmã retornar. Pensei que pareceria oportunista, tornando-me inconveniente. Já na rua, por várias vezes voltei ao interfone, mas acabei vencendo a tentação e fui para casa convencendo-me que do jantar que marcaria com ela não passaria.

No dia marcado para a produção da foto, aguardamos numa sorveteria na praça Dante Alighieri, no Centro da cidade, o colega do jornal cujo filhinho posaria com ela na cena da piscina, bem como o fotógrafo e o caminhão com os mo´veis para a produção. Enquanto aguardávamos, tomávamos refrigerantes, quando um vendedor de flores sugeriu que eu comprasse uma rosa, mas dispensei-o dizendo que não tinha a quem dar, apesar de que desejei dar uma a ela, mas achei inconveniente, pois pensei que pareceria oportunismo. No dia seguinte, marquei encontrá-la na mesma sorveteria para fazer o acerto de contas do trabalho, despedindo-me logo depois por ter o assunto por encerrado. Ela solicitou, porém, que eu ficasse, pois precisava aguardar sua amiga loura, que não apareceu. Mais tarde ela foi ao banheiro e, ao sairmos, quando fui acertar a conta ela já tinha acertado. A censurei por isto, dizendo que não era justo ela pagar a conta em meu lugar, sendo que era a mulher. Ela justificou-se dizendo que gostava de pagar a conta para mim. Timidamente entusiasmado, acompanhei-a ao ponto de ônibus segurando o desejo de lhe confessar meus sentimentos. Contive-me, porém, deixando para o dia do jantar em meu apartamento ao qual a convidaria.

No dia seguinte ligou cedo da tarde convidando para tomarmos sorvete no mesmo local. Atrevi-me então a presumir que poderia ter despertado algo na moça, só não descobri o que teria causado, sendo que duvidava que algo em mim pudesse causar-lhe tal efeito. Por causa da paixão que estava me dominando dia e noite, em certo momento na sorveteria meu atrevimento subiu de nível, pelo que lhe disse que precisava lhe confessar algo que me punha inquieto. Por duas vezes ela me animou a dizer, esclarecendo que tinha grande interesse em saber. Porém, desvirtuei o assunto, pois temia perder sua amizade, com o que estava disposto a me satisfazer.

Quando nos despedimos com os três beijinhos e senti o cheiro arrebatador do seu corpo embebido de perfume, defendi-me da repreensão da minha consciência convencendo-me que a atitude requerida não passaria do jantar no meu apartamento, ao qual eu a convidara para o próximo sábado.

Na sexta-feira à tarde ela ligou para adiar o jantar para a terça feira da semana seguinte, notificando que passaria o final de semana em Tramandaí, informando a hora que embarcaria, o endereço em que se hospedaria e o local da praia onde ficaria. Tudo me pareceu mera informação, pois embora que não houvesse o por quê de ela informar, não via como uma mulher como ela poderia se apaixonar por um baixinho de um metro e sessenta e cinco, feio e em processo de engorda, como eu era.

Planejei ir como quem vai sem propósito, mas contratempos de sexta-feira me prenderam no jornal até muito tarde, quanto sai correndo rumo à estação rodoviária, conseguindo ainda tomar o mesmo ônibus, que já estava de partida. Ao embarcar, vi-a logo nos primeiros bancos, mas com umas amigas que eu não conhecia. Em Porto Alegre tomei para Osório o ônibus que ela e as amigas tomaram para Tramandaí. No dia seguinte, tão logo saiu da estação rodoviária de Osório um ônibus para Tramandaí, fui para a praia, porém achando que porque não fora convidado pareceria perseguição. Tarde da manhã não a tinha localizado ainda, pelo que a convidei através do sistema de comunicação a comparecer no quiosque do som, onde ela esteve para me dar três beijinhos e um abraço, voltando logo pra junto das amigas.

Isso me convenceu de sua maneira cortês, sendo que se foi sem me convidar a ficar junto delas. Durante o resto do final de semana somente fiquei por ali, cumprimentando-a quando a via, mas mais distante do que perto, procurando não aparecer muito para não ser tomado por perseguidor.

Praticamente convencido de que não havia mesmo qualquer chance com a deusa da qual eu me tornava reles adorador, voltei para Caxias certo, porém, que daria minha investida derradeira no jantar de terça à noite. Estava agora disposto a tudo, indo às últimas conseqüências se ela chegasse a entrar no meu apartamento, pois lhe prepararia um jantar delicioso com todo requinte, servindo vinho caro e tudo o mais, sem luz velas, é claro.

Após o meio-dia de terça liguei para ela a fim de confirmar a hora e o local onde a pegaria, apesar de que eu morava no centro da cidade. Ela, porém, adiou o jantar para a próxima semana, alegando que precisava visitar sua avó que estava hospitalizada.

Quase sem saber como, esperei chegar a terça-feira da semana seguinte, quando liguei para ouvi-la adiar novamente o jantar, alegando outro empecilho. Na terceira vez que adiou, fui esperá-la na saída do trabalho a fim de saber o que estava acontecendo. Na saída não a vi, mas esarrei com a poderosa amiga loura que três meses antes perguntara se podiam sentar comigo no restaurante onde eu comia meu substancioso bife acebolado. Após cumprimentar-me surpresa, a única coisa que a loura fez foi indagar irritada o que eu pensava que eu era, se seria preciso a Elis esfregar-me em rosto para eu entender...

Aconselhou-me a deixá-la em paz. Então nunca mais a vi.

Passados pouco mais de dois anos desse episódio, em 1990, quando eu trabalhava numa das agências de propaganda mais importantes da Região Nordeste do Estado, já nem lembrava da Elis. Num dos churrascos que a empresa patrocinava mensalmente, eu estava assentado ao lado esquerdo do patrão, tendo sua esposa à minha esquerda e o diretor de criação com a esposa à frente. Após a janta e algumas rodadas de vinho e cerveja, todos contavam piadas e faziam brincadeiras e troças uns dos outros sorrindo e falando em voz alta, quando a colega Nega aproximou-se da nossa mesa muito sorridente, e, cheia de malícia no olhar, perguntou se os presentes sabiam que eu era o maior de todos os Dons Juans, esclarecendo logo em seguida que só eu tinha conseguido levar a Elis para a cama. Sufocado pelo súbito, mal acreditando que ela dissera tal coisa, sem argumentos para refutar, apenas observei que bom seria se fosse verdade.

Até hoje não sei de onde ela tirou tal informação, ou qualquer uma que pudesse me relacionar com a modelo, sendo que eu jamais teria dito algo dessa forma para alguém, especialmente para uma mulher, até porque a moça em questão era conhecida no meio de comunicação e eu sabia que qualquer mulher se veria em situação delicada se um homem passasse a divulgar algum caso que tenha tido ou não com ela.

Quanto a Nega, somente lançou essa brincadeira maldosa sobre a mesa para ver o circo pegar fogo em meio aos olhares estranhamente aturdidos, saindo com pressa para fazer troças em outra mesa. Logo percebi que a piada fez-se indigesta para todos, sendo que todos pararam e ficaram sem ter o que dizer, mas explodiu qual um míssil em minha mão, visto de pronto o interesse voraz do chefe, bem como o olhar de desentendida de sua esposa. Minha preocupação, porém, não era com relação a minha reputação, pois não era casado e nem namorada tinha, mas quanto ao que a Elis pensaria de mim se tal brincadeira chegasse a seus ouvidos. Quanto a mim, o fato de alguém, especialmente uma mulher bonita como a Nega, testemunhar de minhas qualidades conquistadoras só poderia me deixar bem à vista dos outros, especialmente no meio masculino.

Muito interessado, o chefe indagou várias vezes sobre os detalhes de como eu conseguira tal façanha e, bastante constrangido com a surpreendente descoberta e exposição relacionada a tal assunto à frente das colegas, inclusive, da esposa do patrão, não desejava estender o assunto, limitando-me a esclarecer que tal fofoca dita em tom de brincadeira não correspondia a verdade, que jamais tivera o grande privilégio, explicando que minha relação com a modelo não ultrapassara a esfera profissional, crendo, inclusive, que ela não se sujeitaria a algo parecido nem por somas infinitamente superiores as que eu lhe paguei pela capa da revista Móvel Press, pois no meu conceito ela não precisava. Reiterei que se tratava de brincadeira da Nega, mas inquiriram dela se era verdade, ao que ela, mantendo o ar de malícia, confirmou, ignorando meus sinais para que desmentisse. Ainda disse por sacanagem que não adiantava eu sinalizar, pois ela não ia mentir.

Outra vez o chefe inquiriu como eu conseguira tal façanha, ao que eu, surpreso e temeroso pelo tão grande interesse, insisti que não era verdade, sendo apenas brincadeira da colega.

Próximo ao final da tarde do dia seguinte, tendo me chamado à sua sala, o chefe me convidou para acompanhá-lo ao hapyhour no bar dos magnatas no centro da cidade, para tomar umas doses de uísque e me apresentar para alguns figurões. Apesar de meio desconfiado e certo de que esse convite tinha relação com a brincadeira da colega, fui, pois no ramo da publicidade nunca é demais conhecer mais algum empresário.

No dia seguinte repetiu o convite, pelo que freqüentei o bar com ele alguns dias, até que uma noite, ao sairmos do bar, ele seguiu para uma pizzaria cujo rodízio é um dos melhores, senão o melhor e mais caro da cidade.

Sem perguntar-lhe o porque de tanta adulação, e instigado pelas indagações maldosas da Nega sobre as conversas no bar dos magnatas, eu já andava até preocupado que o homem tivesse queda por homossexualismo e quisesse caso comigo. Todavia, logo que começamos a comer, passei a entender seu objetivo em me assediar, pois de mim inquiriu sem serimônia como conseguira levar a Elis para cama.

Insisti que não era verdade, que achava, inclusive, que seria uma catástrofe se ela soubesse de tal falatório, mas quanto mais eu negava, mais ele se orgulhava de minha aparente nobreza e discrição de come-quieto, pondo-me desanimado de tentar convencê-lo de que a fofoca se tratava de uma pegadinha da colega, que, como nós e os outros colegas, gostava de fazer pegadinhas constrangedoras em lugares e presenças impróprias.

Sem desistir de seu intento, mas para esclarecer seu grande interesse no assunto, ele contou-me que tentara levar ela para a cama em tempos passados e não entendia como um empresário tão bem-sucedido, com tanto dinheiro, carro de luxo e bom contrato de trabalho na mão não conseguira, ao passo que eu, pobre, simples, praticamente sem beleza física, conseguira. Relatou que a escolheu entre muitas candidatas para fechar um contrato caro com um grande cliente moveleiro a fim de fazer divulgação dos produtos de sua indústria em televisão e outros veículos em nível nacional. Disse que, após acordado a promessa inicial de trabalho, preparou toda a papelada para celebrar o contrato, fez um polpudo cheque, que pretendia dar-lhe no mesmo dia, e marcou encontro para assinatura da documentação na discrição da suíte de um luxuoso hotel. Mas, apesar de todos os seus apelos, depois de ele ter exposto todas as vantagens, assinarem os papéis e ela receber o cheque, quando ele cobrou-lhe as vantagens sexuais por tanto, sem a menor cerimônia, ela rasgou os documentos e o cheque, jogando-lhe tudo na cara e saindo decidida e sem dar-lhe mais atenção. Portanto, ele queria saber a receita para levar essa mulher para a cama, pois ele tinha oferecido tudo o que entendia que interessava a uma mulher, mas ela desprezara impiedosamente, o que o punha irritado e intrigado, intrigando-o ainda mais agora que sabia que sem oferecer nada eu a levara para a cama.

Apesar de toda essa história demonstrativa de desrespeito para com a mulher e presunção e prepotência para comigo, ainda insisti que não a levara para a cama. Todavia, já indignado com minha insistência em enganá-lo, ele pediu que parasse de mentir e entregasse o ouro de uma vez.

Dissuadido então de negar, contei-lhe com detalhes a história que de fato se passou, deixando nas entrelinhas o entender de que ela se apaixonara por minha discrição e desinteresse, encantando-se mais ainda pelo respeito que demonstrei por seus sentimentos e desejos, por minha sensibilidade capaz de compreender a alma feminina. Com tudo isso ele ficou muito admirado, entendendo que era mais fácil conquistar uma mulher com respeito do que com dinheiro. Sendo assim, o equívoco ficou por isso mesmo, tendo-se por certo até hoje que de fato eu levei aquela deusa para a cama. Todavia, esclareço a quem interessar possa que jamais me elevei acima do mundo dos mortais.