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O olhar vazio contrapunha com a cabeça cheia de preocupações. Pela janela, a Mulher via se por ela poderiam surgir soluções. Gostava de ficar debruçada ali horas a fio contemplando a natureza, sentindo o Vento afagando-lhe  os  cabelos e beijando o seu rosto.

O céu estava azul com algumas pequeninas nuvens brancas. Sol a pino. Uma tarde agradável num lugar aprazível. Era mais ou menos meio-dia.

De onde estava não se via rua, trânsito, pessoas. A natureza ali imperava livre da crescente destruição poluidora. Parecia miragem tão bela visão. Era seu momento mágico de contemplação.

Do olhar disperso, rolaram lágrimas. Amigo Vento veio  lamber-lhe a face. Secou-lhe as gotas salgadas que deslizavam apressadas. As lágrimas transbordavam do peito sufocado de sentimentos nocivos que entristecem o espírito e adoecem o corpo.

Foi então que o Vento lhe sussurrou ao ouvido:

- Vá até a senhora Montanha, ela deseja ver-te, Mulher.

-Ah... Estou triste... Não tenho vontade para nada. Não quero falar com ninguém, não estou boa companhia...

– respondeu a Mulher desanimada.

- Quando se está triste é quando mais temos que falar.

– Filosofou o amigo Vento.

- Para fazer o outro sofrer junto? Não... Deixa-me só!

– Rebateu a Mulher.

- Não... Para desabafar. Para que saia a angústia

e entre a esperança! – Quis confortá-la o Vento.

O Vento continuou:

- Muitas vezes alimentamos pensamentos destrutivos,

vamos nutrindo a vida com decepções, desilusões,

desamor, ausências, carências, e acabamos nos

afundando em nós mesmos. Aí, precisamos do outro,

da palavra, da mão amiga para nos retirar das profundezas

que a dor vai nos enterrando. – Soprou o Vento sobre

a Mulher uma aragem de ânimo.

 

Sentindo a boa vontade do amigo Vento, a Mulher disse:

- Levarei água, sentirei sede pelo caminho.

- Não te preocupes com isso. Dá-se um jeito! – Advertiu o Vento.

 

- Levarei algo para comer, sentirei fome, a distância é longa até a Montanha. – A Mulher justificou.

 

- Por que te preocupas tanto, Mulher? Esvazia-te por ora... Siga somente em frente, tenha confiança, pois não sabes “quem deseja tudo alcança”? – Brincou o Vento.

 

A Mulher fez menção de riso. E partiu para ouvir o que a Montanha tinha a lhe dizer.

 

No meio da subida, a Mulher teve sede. O Vento assoprou-lhe a face, então ela olhou em sua direção, viu brotando da pedra uma mina d’água.

- Puxa! Água cristalina e fresca... Já subi muitas vezes por aqui, não havia reparado nela.

 

- A vida atribulada, a cabeça ocupada com inquietações fecham nossos olhos de modo que deixamos passar muitas boas e belas oportunidades.

– Suspirou o Vento.

 

A Mulher percebia que à medida em que o amigo

Vento ia expelindo suas ideias, sentia-se mais aliviada dos problemas que carregava em si.

 

Algumas subidas a frente, a Mulher sentiu fome.

O Vento fez-se pequeno vendaval, então caíram goiabas e pêssegos das árvores frutíferas próximos a mulher.

 

A Mulher ficou maravilhada. Percebeu ali que o Vento tinha razão. Não deveria mesmo preocupar-se

demais com o depois. Tudo a seu tempo. Tudo no tempo certo! E se fizesse desse modo com suas aflições haveria de ser mais fácil solucioná-las. Assim como fazia com as frutas, a Mulher ia saboreando também as palavras do Vento amigo. “Vento sabido!” – Pensava ela.

Após saciar-se do alimento que a gentil Natureza ofertara, a Mulher e o Vento seguiram até o topo da Montanha.

- Que dádiva amorosa, Vento amigo, da Mãe Natureza! Dá-nos frutos, água, contemplação sem nada cobrar.

Quisera no mundo ter um amor sublime assim...

 

- Há, amiga Mulher! Basta saber onde encontrar. É preciso ter o dom da paciência e da observância.

As pessoas não querem perder tempo, estão impacientes. Por isso estão sempre tendo uma companhia mais ou menos, uma amizade mais ou menos, um amor mais ou menos... Quase ninguém tem um amor que se doa plenamente; um amigo leal que não traia; uma doação espontânea sem cobrar nada nem obter favores em troca. – Sussurrou o Vento no ouvido Mulher.

 

O Vento percebeu na expressão facial que a Mulher parecia outra. Quase não se assemelhava aquela feição taciturna que estava debruçada na janela horas atrás. Então, o Vento novamente se fez ventania, e deixou pousar sobre a Mulher uma diversidade das mais lindas e perfumosas flores multicoloridas.

 

A Mulher rodopiou numa dança de liberdade onde o corpo quase era tão leve quanto os seus pensamentos. Momento de rara alegria. Leveza de alma. Belo. Único.

 

Nem percebeu que já estava a um passo do topo. A Mulher deslumbrou-se:

- Vento! Que encanto estar aqui, só vejo belezas a alegrar e preencher meu o coração!!!

- Penso que o Vento fez com êxito o que lhe fora confiado!

- Disse a alegre Montanha. A Montanha estava radiante de satisfação. O Vento, seu companheiro, havia devolvido a alegria, a esperança e a vontade de viver àquela Mulher.

 

- Ah... Senhora Montanha, há muito não sentia meu coração tão leve e sereno! Já não sabia o quanto é gostoso o barulho de uma feliz risada. Por que acho que meus problemas são tão microscópicos agora?

 

- Porque você se permitiu ouvir o Vento. Somente um amigo leal é capaz de nos abrir a mente e nos fazer enxergar por outros ângulos, e geralmente nos faz encontrar dentro de nós mesmos as respostas e as soluções para os nossos conflitos.

 

A velha Montanha continuou sua explicação:

 

Aprenda, Mulher que um amigo precisa ter as qualidades do Vento: às vezes precisa se fazer tufão, usar de palavras enérgicas para não lhe deixar cair e, no caso de já ter caído, reerguê-la. Em outras vezes, ser uma aragem para lhe secar as lágrimas, de modo que os olhos possam enxergar uma nova ou melhor solução ou, ainda, um outro caminho a seguir.

Por fim, o amigo tem que ser por toda vida, uma Ventania para que faça você desabafar, dançar, sorrir, cantar, sonhar, e acreditar que pode contar com apoio amigo em todos os momentos.

A Mulher desceu o monte agradecida pela gratuidade das palavras da velha e sábia Montanha. Foi seguindo sempre em companhia do Vento. Olhou pare ele e disse:

- Querido amigo Vento, sinto-me tão leve quanto você, pois meus problemas já não pesam tanto!

Rodopiando, o Vento assoviou e foi descendo em companhia da Mulher. Ambos dançavam livres. Leves.  Animados. Felizes.