II - A Imagem no Lago (FIM)

Seguiram pela margem juncosa até o pier. A alguns passos da beira da água, ainda sob o canto da cigarra, um alto estalo e um grito fez Poliana estacar, assustada. Sob uma raiz espessa podia ver o pé de bruno, num ângulo estranho em relação à perna. Não havia sangue ou cortes mas o garoto parecia estar sentindo uma dor tremenda.

- Ai, ai, aaaaaaaaai meu pé - gritava, tentando arrancar a raiz, que não cedia.

- Para Bruno, não se mexe, fica parado.

- Mas tá doendo. Tá doendo muito - choramingou.

- Eu sei que tá doendo, mas não se mexe, pode piorar.

Poli analisou a raiz que prendia o pé do amigo, não conseguiria arrancá-la ali onde tropeçara, teria que ser em um lugar onde fosse mais frágil. Seguiu o curso da planta, que entrava na água poucos metros adiante. Ali era mais fina e certamente conseguiria, ao menos, levantá-la.

- Que droga. Ai. O que a gente tá fazendo aqui. Aaaaai.

- Você disse que queria vir.

- Eu sei, mas... aaaau! O que tá fazendo?

- Quieto, to tentando te soltar.

- Vai devagar. Ai. Eu disse que queria vir com você porque não queria te deixar sozinha. Imagina acontece isso com você - disse, apontando o próprio pé. - Ai.

Poli não disse nada. Aquilo fora a coisa mais bonita que ouvira alguma vez de Bruno. Corou e continuou tentando levantar a raiz. Estava obtendo um sucesso razoável.

- Afinal, qual é a do lago?

- Nem sei se é verdade, seu bobo. As meninas da quinta série é que falam que dá pra ver o futuro nele, ou coisa assim.

- E voce acredita nisso?

Poli consegue levantar a raiz o suficiente para soltar o pé do amigo. Coloca uma pedra para escorá-la enquanto ajuda Bruno a levantar, cuidadosamente.

- Vem, apoia em mim.

- Ai. Devagar. Voce não respondeu.

- O que?

- Se acredita nelas. Nas meninas.

- Não sei. Não sei nem se quero acreditar. Algumas coisas são mais importantes que o futuro. Vem, vamos embora.

- Tá. Mas devagar hein?

E naquele instante, quem olhasse para superfície fria e lodosa do lago, poderia ver a imagem dos dois amigos se abraçando num prelúdio de eterna amizade.

Opus Magno
Enviado por Opus Magno em 03/02/2009
Reeditado em 19/02/2009
Código do texto: T1419747
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