O Retorno do Dragão de Trevaterra. Parte III
- Querida?
- Desculpe, estive distraída por uns instantes.
- Ouviste quando pedi que retornasse ao castelo?
- Não.- Ela estava intrigada.
Aquilo não era normal. O Rei realmente parecia desinteressado em qualquer tipo de vantagem que isto pudesse trazer. Por alguns milésimos de segundo, o suficiente para que seu raciocínio pudesse funcionar, um filme passou pela sua cabeça. Desde o inicio fora um banco de vantagens para o Rei. Quando a Rainha Mãe já não mais tinha condições de governar, precisava casar com alguém para que pudesse assumir o posto de monarca. Filhos para continuação da realeza. Uma imagem para o povo (e como a Rainha de Lugarnenhum era apreciada pelo povo...). Prova disto, é que quando a Rainha afastou-se, o povo inclusive negava-se a pagar seus impostos. O Rei estava a beira da falência, quando ela retornou, para que pudessem pelo menos alimentar os principezinhos. A humilde filha de um sapateiro agora andava de salto e maquiagem, consolava pobres e era um exemplo a ser seguido pelo menos por metade das habitantes femininas de Lugarnenhum, segundo o Ministro dos Assuntos Escolares, que em uma audiência onde ganharia um prêmio de melhor ministro, fez a Rainha corar, pois se dizia um de seus mais fanáticos súditos, provocando assim a ira do Rei, logicamente. De quando em vez a Rainha se questionava se o problema do Rei era realmente em relação ao ciúme da esposa, ou a tratava como concorrente. Se era assim, não seria muito mais prático então que cada um tomasse seu rumo?
Talvez não. Havia os principezinhos. Eles necessitavam da herança. Eram de sangue real. Se fossem levados pela mãe, seriam deserdados. Se não fossem levados... ela não suportaria tal coisa. O Rei já havia dito que se um dia se sentisse traído, proibiria a Rainha de ver os filhos. Imagina se ele se sentisse abandonado?
- E então? - Ele a olhava docemente.
- Sim. Posso voltar. Mas...
- Qualquer condição... eu a amo, minha Rainha...
- A condição é simples. Durante o dia, ficarei fora do castelo. Durante a noite, dentro. Não olharei para os lados. Apenas quero estar em contato com serviço dos ministros. E além disto, que nunca mais me questione, nem sobre meu trabalho, muito menos sobre o Dr...
O Rei pôs as mãos sobre seus lábios.
- Sim, sim querida...nunca mais citaremos este nome. E se algum deles se aproximar do Reino, será banido.
Era a chance que a Rainha tinha de estar perto do que mais gostava. Trabalharia com afinco durante o dia, e durante a noite, poderia inspecionar de perto o crescimento dos principezinhos... que saudade que tinha de quando chegava ao castelo, e eles vinham correndo de bracinhos abertos...
Mas seu coração clamava por outra coisa: liberdade. Não era só por causa do Dragão. Queria ver a mãe e os irmãozinhos, que agora deveriam ter se tornado dois belos rapazes e uma bela moça. Queria ver o pai, que poderia ter deixado de ser sapateiro, para comprar um moinho. Sabia que o velho tinha tino para negócios. Sabia que algumas pessoas de sua família deveriam até ter falecido, e fatalmente, por estar na torre, ela não pode estar ao lado delas nos últimos dias. Os olhos dela eram um poço sem fundo, pois a alma da Rainha era assim.
E que mal havia nisto? Uma Rainha que ressurgisse das cinzas, assim como uma fênix, era um bom negócio. Se fizesse tudo direitinho, teria do Rei o que quisesse.
-Então está bem. Voltarei.
E beijou o Rei. Mas de olhos bem abertos... já que a menina que carregava um Dragão no coração dormia dentro dela.
Continuação de "O Retorno do Dragão de Trevaterra. Parte II".