O REINO DO SILÊNCIO

Perdido nas memórias do tempo e do espaço vivia um Reino feliz, o Reino de Palavras, governado pelo sábio Rei Arnon.

O Rei tinha duas filhas, princesas de rara beleza, cantada em prosa em verso pelos poetas da terra.

O Reino era conhecido por produzir muitos poetas e cantadores que eram dotados do dom da Divina Palavra.

Artistas que viajam a outros Reinos, encantando a todos pela sua habilidade em produzir, cantar e declamar poemas.

Uma das princesas, alem da beleza, era dotada também de uma voz de raríssimo timbre e afinação.

Todos que a ouviam cantar a beira do lago ou caminhando pelos bosques adjacentes ao Castelo se impressionavam.

Ao norte havia o Reino de Armas, respeitado pelo seu poderoso exercito e comandado pelo temido Rei Urias, guerreiro fortíssimo e mestre de varias armas.

Como a região era ameaçada por hordas bárbaras que invadiam os dois Reinos em incursões e ataques inesperados, o Rei Urias sugeriu que os dois Reinos se unissem em um único com o casamento de seus príncipes sucessores.

O Rei Arnon gostou da sugestão e se dispôs a casar sua filha Leonara que era a primeira na linha de sucessão.

O príncipe Willians, do Reino de Armas disse que aceitaria se casar apenas com a outra princesa, Helenia, a que cantava.

E assim foi feito e os Reinos de Palavras e de Armas se uniram passando a se chamar Império de Parmas.

O casamento fora marcado para a próxima primavera, dalí há alguns meses.

Leonara inconformada, e sabedora que a irmã ia toda tarde para beira do lago se encontrar e cantar com o jovem poeta Arturo, passou a espalhar pelo Reino que a princesa Helenia tinha um amante e que traia o seu prometido.

Aquelas palavras venenosas passaram a circular o Reino pela boca de seus súditos e chegaram aos ouvidos do Rei Urias.

O Rei de Armas, furioso, cancelou o contrato de união entre os Reinos e ameaçou invadir e destruir o Reino de Palavras.

Ciente de que não seria páreo para o exercito de Armas o Rei Arnon mandou emissário propondo a Urias que ditasse seus termos para se evitar a invasão.

O Rei Urias declarou que só uma medida seria aceita para se evitar a guerra, que a princesa Helenia fosse aprisionada na torre do castelo e que de lá isolada, pudesse apenas mirar seus lagos e bosques, pena cruel para a jovem princesa.

Helenia, privada de sua liberdade e do convívio com o que mais gostava começou a definhar, tendo caído em coma profundo.

Leonara, arrependida, foi ao Rei, seu pai e revelou a trama que promovera para o rompimento do casamento e do acordo entre os dois Reinos.

O Rei Arnon transtornado determinou que a filha fosse banida do Reino junto com um grupo de damas e cavalheiros de sua confiança e expediu ordem para que os médicos da corte fizessem de tudo para salvar a vida da princesa Helenia.

Nada do que foi feito conseguiu reverter o quadro e a princesa permanecia em seu sono profundo.

O Rei Arnon decretou que a partir daquela data e até que a princesa se recuperasse qualquer palavra estaria proibida no Reino sob pena de morte. Todos só poderiam se comunicar com gestos.

Estabeleceu então o Reino do Silêncio Absoluto.

O Poeta Arturo e alguns companheiros continuaram se reunindo às escondidos em cavernas da região para promover seus poemas e cantos e não deixar que a velha arte se perdesse.

Arturo não se conformava com aquela proibição absurda e num determinado dia, propôs aos seus companheiros desafiarem a lei do silencio, mesmo que isto implicasse na pena capital. A revolução das palavras teve inicio com um grupo de jovens cantores e poetas, cantando com toda a força de suas palavras pelos bosques e vales do Reino.

Logo chegou a guarda real e prendou o pequeno grupo de revoltosos, lançando-os na masmorra.

O julgamento foi sumario e marcada a data da execução.

Num dia sombrio, o cadafalso montado no pátio em frente ao castelo se matinha como testemunha muda daquela lei de exceção que condenava à morte a manifestação sagrada da livre palavra.

No momento em que o verdugo se colocou em posição para acionar a alavanca do engenho da forca, o silencio de morte foi interrompido por uma voz maviosa que parecia vinda dos céus. A voz de um anjo ecoava agora com força se espalhando mágica por todos os recantos do castelo.

Todos os olhares se voltaram para a torre mais alta e lá estava ela, a princesa Helenia que, refeita do seu sono profundo, pedia clemente em seu canto divino, pela vida dos seus amigos poetas e pelo resgate do maior valor do Reino que fora colocado sob lei marcial, todas as palavras e cantos e todas as formas de livre manifestação

João Drummond
Enviado por João Drummond em 15/01/2009
Reeditado em 15/01/2009
Código do texto: T1386522
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