O COLÉGIO

O sol,entra na manhã clara,suave,morna,e toca em mim,de maneira poética.

Vejo as flores,coloridas e buliçosas brincando com o vento que vem do mar.As lembranças acendem a nostalgia de coisas que ficaram no passado,e que me faz relembrar.

De olhos abertos,ultrapasso o horizonte e chego ao passado.

O colégio era lindo!enorme,cheio de árvores e flores que en feitavam o corredor de entrada,até a porta onde ficava uma madre,como porteira.Ao entrar,passando pela sala de espera ,sempre ocupada,viamos a secretaria,lugar bastante temido pelos pais.

Os corredores infinitos,as escadas a caminho do céu,tudo limpo,elegante,lustrosos e em seus lugares a séculos.

Tantas,tantas classes,todas repletas de alunas...sim.Só alunas,afinal era um colégio feminino.De tendência católica que em nome de Deus dividiam os sexos.As alunas,chegavam limpas,lindas cada uma no seu estilo e elegante no fardamento azulmarinho com pregas,blusa branca de langerrie tendo um H de alças spobre o peito e a gravata de lacinho,no pescoço.Sapatos estilo boneca e meias cor de carne.

Alunas ricas,vinham de cidades diversas,e ficavam internas.

Alunas que os pais não tinham com quem as deixar,ou para aparentar

posses,semi-internas.E as externas,entre elas eu.

Como todo colégio religioso,era dirigido por freiras.Elas sempre estavam vestidas com roupas longas escuras,sapatos brilhantes e pretos com meias brancas.Na cabeça,um véu que saía de uma moldura

de preguinhas brancas,só deixando o rosto à mostra.Pareciam pinguins,com um cordão segurando um cricifixo ao redor do pescoço.

Eram bravas,elegantes e cultas.Estavam sempre alertas.Parecia que todas pensavam da mesma forma,em série.Eu sentia-me sempre pecadora.Não rezava tanto quanto elas,sempre com um terço à mão,e a boca,balbuciando em silêncio,abrindo...e fechando.

Penso que rezam maquinalmente,mas pensam em outras coisas.

Eu seguia escondida,olhando aquêle bando de pinguins,uma atrás das outras,deslizando pelos corredores,cantando ou rezando,todas com os braços por baixo do hábito que ficava na frente cobrindo os peitos.

Geralmente seguiam para a bela capela,que ficava no andar acima do refeitório.A escada que dava do refeitório para a capela,servia perfeitamente,quando roubavamos os paezinhos e bolos gostosos que iriam para as bocas das internas.

Com as mãos cheias de pães e bolos,subiamos correndo,engolindo degraus,para chegar rápido a capela.

Lá,me arrependia pedindo perdão e jurando não fazer mais,tão vil atitude.

Como eram santas e virtuosas essas freiras.Eu olhava para a cruz,e via Deus.Tinha pena de seu sofrimento,e tinha MEDO.

Como todo colégio,tinhamos muitos professores,mas eram as freiras que nos ensinavam Português,Francês,Inglês,Latim, Canto Orfeônico,Artes,e RELIGIÃO.Foi lá que comecei a ter medo de Deus.

Íamos ao estúdio,e lá nos martirizavam.

Sejam sempre pessoas de bem,cuidado com o que fazem;

Deus está em toda parte.

Deus vê tudo, inclusive o que você faz.

Deus vai punir quem peca.

É pecado;ser sapeca,vaidosa,insinuante,namorar, beijar,mentir

ser mal educada,não estudar,ter sonhos mau.

Devem estar sempre alerta,Deus vai punir quem peca.

E ENTENDI QUE TUDO ERA PECADO.E foi aí que cheguei a conclusão ;tenho medo de Deus,e me pareço muito com o diabo.

Ele é radical ,benevolente,e liberal.Detestei ser tão certinha,era muito chato.Por isso tinha medo de tudo,e me escondia dentro das minhas

profundezas no meu interior.

Às vêzes,a classe morria de medo do pecado que cometiamos

quando alguma externa levava do irmão safado revistas de sexo explícito em quadrinhos,era um alvoroço.Eu tinha tanta vergonha,que não me confessava ao padre,muito menos comungava.

Um dia,fui parar em frente a uma porta que vivia fechada,e ninguém podia entrar,tinha o nome CLAUSURA.Tive tanto medo de abrir,que ao abrí-la pensei ter passado séculos.

Botei a cabeça para dentro,e fiquei extasiada.Camas,camas

e mais camas,uma ao lado das outras,cobertas com lençóis brancos impecáveis,Lembrei-me de Branca de Neve e os sete Anões.Desci a escada correndo,cheguei ao pátio aliviada por ninguém ter me encontrado,crente que Deus ia me punir.

Sentei no banco,ao lado do canteiro de Hortências,e fiquei pensando na vida sem sal das freiras do colégio.

Sem amor,sem família,sem sexo.Por isso é que são tão sem graça.Se no céu for assim,acho que não vou pra'lá não.

Desse lado de cá do horizonte,no céu passavam nuvens brancas,fazendo minha cabeça girar.Correndo de volta para casa,o dia já acabando,pensei;Tudo mudou,só não mudou o meu medo de Deus.

Toda vêz que faço sexo,antes em silêncio balbuciando,

lembro das freiras e peço gentilmente para Deus ficar de costas,me deixando a vontade ,como uma capeta.

Alzira Paiva Tavares

Tamandaré,21/12/08

arizla
Enviado por arizla em 13/01/2009
Reeditado em 10/10/2010
Código do texto: T1383438
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