BRINCADEIRA DE RODA
A menina dança e contempla a beleza ao redor. Livrou-se das vendas que a impediam de olhar a vida, obrigando-a à introspecção.
Seu mundo, por muito tempo, ficou cinzento, amargo e triste. Foi necessária uma cura profunda. Por um longo período a menina pôs-se a chorar, a gritar, a vomitar o que lhe agredia a alma.
Convalescendo, segurou outras mãos, recebeu força, carinho, devoção. Levantou-se e entrou na roda.
Na ciranda a menina dança e canta. Enxuga disfarçadamente uma lágrima, que ainda insiste em cair de vez em quando, mas já ri com sincera alegria.
Retém consigo as melhores imagens do passado, mas mantém fechada a caixa onde guarda aquelas que ainda não devem ser vistas por enquanto.
No momento há sol, mar, morros, cores, sabores e novas sensações a desfrutar. Há gente nova para abraçar. Por isso a menina roda a cantar.
"Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia."
Redescobrir, Gonzaguinha.
Imagem: Tela de F. Pinto. WEB