O Homem abraçado à árvore

Semblante triste, coração amargurado, lá estava ele abraçado àquela árvore todas as manhãs. Era um verdadeiro ritual. Todo dia acordava, tomava um café, saía pela porta do fundo da casa e a abraçava, com todo o carinho que tinha no coração. Ele realmente amava aquela árvore. O abraço era longo, apertado e enquanto a abraçava dizia palavras que fariam derreter a jovem de mais duro coração na face da Terra. “Você é linda, eu te amo muito e nunca vou te deixar. Não importa o que aconteça nunca vão me separar de você”.

Quando o pai dele comprou aquela casa há quase quarenta anos atrás, aquela árvore já estava lá. Enorme, tronco de quase um metro e meio de largura. A copa toda verde vivia cheia de passarinhos que nela cantavam todo o tempo. Foi amor à primeira vista. Quando criança ele fazia tudo debaixo daquela árvore; lanchava, dormia, sonhava, sentia a brisa, fazia a lição de casa. Quando seus pais ficavam bravos ele ia para debaixo dela, chorava e a abraçava e isso parecia consolá-lo. Às vezes trazia amigos para conhecê-la e a apresentava como se fosse uma pessoa. Os amigos não entendiam direito o que estava acontecendo, achavam-no louco. Na escola, quando a professora pedia para que desenhasse a família, ele desenhava o pai, a mãe, ele e a árvore. “A árvore faz parte da minha família professora”.

O tempo passou. Jonas cresceu, estudou e viveu muitos romances, mas não se distanciava da árvore. Mesmo que viajasse, pedia para que alguém dela cuidasse. Mais tempo passou e seu pai veio a falecer e foi com ela que se consolou. Apesar dos estudos, com o tempo as coisas começaram a ficar difíceis para ele, veio o desemprego, mal tinha dinheiro para pegar um ônibus para procurar emprego. Cada dia sua vida ficava mais difícil. Não conseguia arranjar uma saída. A vida dele estava realmente complicada, pois tivera várias namoradas, mas com nenhuma dava certo, talvez faltasse a química do amor, mas com a árvore não, ali havia muita química, ele a amava de verdade e entre os dois não havia crise amorosa.

Na verdade, quanto mais Jonas vivia desilusões perante a vida, mais ele precisava daquela árvore. Ela não exigia nada dele, dava-lhe sombra, o canto dos pássaros, ouvia suas lamentações e não reclamava de nada do que fazia. Ela era simplesmente maravilhosa. Passou mais algum tempo e sua mãe também veio a falecer e ele sozinho consolou-se abraçado a ela. Sem emprego, sem de onde tirar dinheiro, sem ter como viver, só teria uma saída, vender a casa e ir embora. Pensando nisso, olhou para a grande amiga, debaixo até em cima. Não poderia deixá-la. Ele havia prometido e ademais também não suportaria fazê-lo. Com aquele pensamento na cabeça, passou a noite inteira chorando abraçado à amiga. Tinha de haver uma saída. Pensou muito, mas não conseguiu arranjar nenhuma. De manhã fez todo ritual ao qual estava acostumado. Depois, pegou uma escada, alguns mantimentos que lhe restavam e subiu em dois troncos que pareciam ter crescido para acolhê-lo. Lá ficou, lá comia, lá dormia, lá sonhava e se sentia como se estivesse no colo de sua mãe ouvindo canções de ninar. O tempo passou e os vizinhos sentindo sua falta, resolveram procurá-lo. Sabedores do amor que tinha pela árvore, olharam para cima e lá estava ele. Subiram, mas não havia mais como salvá-lo. Morrera ali nos braços da amada. Quem viu disse que os galhos da árvore pareciam estar entrelaçados, como se estivessem abraçando-o e acariciando-o. No bolso dele encontraram uma poesia, que assim dizia:

Por ti minha amada

Valeu a pena a vida

Tive muitos amigos

Tive muitos amores

Mas nenhum tão valioso como você.

Seus abraços foram sempre os mais carinhosos.

Tive muitas desilusões,

Mas você nunca me desiludiu,

Nunca deixou de me ouvir,

Nunca me traiu,

Sempre me aceitou como eu sou.

Esteve presente comigo nos momentos mais difíceis,

Sempre me recebeu de braços abertos.

Você foi a causa dos momentos mais felizes de minha triste vida.