Cap 3 - Falando com Orochi
Agora sim. Eu ja estava sabendo que tipos de duvidas eu tinha e de quem eu deveria procurar informações. Assim ficava mais fácil a caçada das respostas minhas perguntas curiosas.
Ali, no meio daquelas pessoas, eu era uma fantasma. Ninguém sabia que eu existia, portanto, as coisas podiam ficar mais fáceis.
Pensei em David, que havia deixado algo entrar em curto circuito na sala de holografia. Balancei a cabeça quase não acreditando que ele havia me sacaneado. A explosão havia me mandado inesperadamente para o ano de 1997 no meio de uma briga das grandes. E agora eu estava envolvida até o pescoço com as pessoas que vi ali.
Ainda com a ponta dos dedos da mão direita sobre a testa do homem de cabelos brancos e semblante maléfico, percebi que nome aquela figura sobre humana tinha: Orochi. Olhei bem fundo em seus olhos, mas as imagens que me vinham em mente arrancaram lágrimas de meus olhos. Uma mistura triste de perdas, sangue, morte, dominação e ódio.
Orochi é uma entidade maligna, que tem como objetivo dominar a raça humana com intuito de livrá-la da ganância e da arrogância. Orochi apareceu pela primeira vez na Terra há 1800 anos atrás, mas foi detido pelos clãs Kusanagi e Yagami, tendo seu poder selado. Há 660 anos atrás, Orochi fez um pacto de sangue com a família Yagami, dando-lhe um pouco de poder Orochi. Em 1997 o selo que barrava o poder Orochi foi quebrado e aquela confusão se iniciou.
Baixei a mão rapidamente ao ler aquelas informações, eu estava totalmente confusa.
A cena de morte de algumas pessoas na frente daquele rapaz me chocou. Sentei ao chão, a frente dele, desnorteada e de boca aberta. Olhei em seus olhos paralisados e em um sussurro perguntei:
- O que fizeram com você, garoto? – uma tristeza fez meu coração apertar.
Olho para algumas cicatrizes que ele possuia no corpo. Onde estaria localizado o tal “selo”?
Logo imaginei que eram selos feitos de corpos humanos. As pessoas prendiam seres demoníacos no Japão e China antigos em corpos de crianças. Um arrepio percorre minhas costas ao perceber que ele estava forçando para sair da barreira temporal que eu criara.
Exitei por instantes, mas decidi fazê-lo. Toquei em sua perna esquerda com ambas minhas mãos e o libertei do tempo paralisado. Fiquei observando sua reação ao ver os “supostos inimigos” congelados em movimentos de ataque contra ele.
- Oi...- falei rapidamente acenando e sorrindo enquanto ele se virava em um reflexo para me olhar - Acho que é minha vez de perguntar se você está bem, não é? – aceno com as mãos enquanto ainda estou sentada no chão bem próxima a sua perna.
Ele me ignora e da uma volta entre Iori e Kyo. Percebi que ele queria matar ambos enquanto estavam sobre o efeito de meu poder.
Levanto-me e paro na frente daquele homem gigante:
- Não faça isso... – toco um de seus punhos feridos fechado com ódio. Um filete de sangue corria entre os dedos.
Sento os olhos frios daquele ser pairarem em cima de mim.
- Você me deu uma boa chance, garota. – sorriu com maldade e me afastou para o lado de forma brusca.
- Não lhe dei chance de matar mais pessoas. Nem de alimentar essa raiva que carrega dentro de si. – respirei quando ele parou de andar – Eu não entendi os motivos de tanto ódio Chris.
Pensei comigo: mentira! Eu tava mentindo! Eu sabia que ele tinha ódio de quem estava ali naquela luta porque as famílias do japonês e do ruivo haviam isolado aquele ser maligno no corpo de um garoto. Mas não podia me dar ao luxo dele se irritar comigo.
Quando o chamei por Chris (nome do garoto em a ele fora selado) um lampejo de luz passou em seus olhos e ele se virou me encarando ferozmente.
- Não me lembro de ninguém me chamando pelo nome do hospedeiro, até agora. – começou a caminhar em minha direção de forma ameaçadora.
Senti minhas pernas tremerem. Acho que consegui um pouco de aventura em minha vida.
Ele achava que eu era uma tal “guardiã” do selo que o prendia no garoto Chris.
Muitas vezes em horas como essas eu me questionava o porquê de ler as mentes das pessoas! Eu sentia que o Orochi iria me atacar. Há anos não levantava meus poderes contra alguém. Não seria ali que eu quebraria essa regra.
- Aii – gemi e dei alguns passos para trás, com medo da reação dele e tropecei nos pés de mais alguém que estava no meio daquela bagunça de pessoas – Eu não sou quem você esta pensando! Nem humana sou! Ou você conhece alguém que faça isso que eu fiz? – apontei para todos congelados.
Olhei para trás para ver em quem eu havia tropeçado. Era o tal americano de boné que estava em pé observando a cena e fazia um gesto de que iria entrar na cena de luta logo.
O semblante do homem tatuado mudou por alguns segundos.
- Não imaginei que tinha sido você q tivesse parado o tempo. – ele se abaixou a minha frente e ficou da minha altura. – Por que deu esta chance para conversarmos?
Pensei em algumas palavras, nada que explicasse meus motivos. Mas comecei a falar:
- Primeiro: eu não tenho nada a ver com isso aqui. – aponto o muvuco de pessoas ao nosso redor – Segundo: eu não sou humana, então você não tem motivo para me odiar e querer ver churrasquinho de mim. Ah sim... eu não tinha me apresentado... sou Nisa – estendi a mão direita e sorri.
O tal Orochi, o homem-monstro que todo mundo ali estava querendo matar, sentou-se a minha frente debochadamente e gargalhou. Senti-me patética e baixei a mão de cumprimento.
O que eu esperaria de um ser feito para matar? Que ele me pegasse no colo e sorrisse?
Meneei a cabeça negativamente para meus pensamentos idiotas e olhei para ele rindo. Apesar de ser grande e ter cara de mal, a aura que aparecia aos poucos ao redor dele me deixava menos apreensiva.
E sem motivo algum, ele começou a narrar uma historia de mais de mil anos atrás. A mesma historia que eu havia lido em sua mente ha alguns minutos atrás.
Deixei que falasse e prestei muita atenção aos detalhes.
Ele falou de uma Guerra de sangue e maldições entre 2 famílias que fizeram um pacto com ele.
- Os últimos de ambas as famílias que me selaram estão aqui. – apontou para o oriental e para o ruivo. – Vou matá-los e me livrar da maldição de ser preso novamente na forma humana.
Suspirei e falei para mim mesma:
- E eu que optei por parecer humana... e você que quer sumir dentre eles. – virei os olhos na direção do céu, que apresentava algumas estrelas palidas.
Senti que o olhar dele seguiu o meu. Achei que estava conseguindo chegar onde queria: seu coração.
- Humanos não prestam, porque você quis ser como eles? – ele voltou para mim e observou a cor anormal de meus cabelos. – Nenhum deles tem cabelos como os seus.
Abri um sorriso. Caraca!! Aquilo era um elogio? Já comecei a pensar em como fazer os outros acreditarem que ele não é de todo um ser das trevas.
- É um presente genético de meus pais, que não conheci. – fiz algumas mechas de cabelo ficarem curtas e negras com um toque leve de mãos na altura dos meus ombros. – Viu?
Curioso, vi-o fazer comparações entre ele e minhas transformações. Para se transformar naquele ser que era agora ele sentira fortes dores.
Balancei a cabeça negativamente para responder a pergunta sobre dor que ele iria fazer para mim:
- Eu não sinto dor quando me transformo assim... – desviei o olhar para que ele não percebesse o sentimento de dó que me corroia.
Ele se levantou e voltou a posição de luta em que se encontrava antes de tirá-lo para conversar.
Às vezes sei que não posso mudar o curso das história humana. Mas, naquele momento, eu queria que aquele Orochi tivesse uma chance de voltar a ser o que foi antes daquela luta insana que eu via na minha frente começar. Queria que ele visse as coisas de forma diferente.
Nada pude fazer naquele momento, afinal cada um tem um destino. O dele, estava ali na mão daquelas pessoas. Apenas me aproximei e abracei-o forte.
Sentei-me no muro em que estava inicialmente e descongelei a cena de luta que iniciou violentamente.
Com apenas um golpe ele derrubou todos os lutadores que estavam contra ele, mas a insistencia de Kyo e Iori vencem o poder que o Orochi aparentava ter.
Kyo e Iori voltam a luta com suas ultimas forças e, de fato, conseguem derrotar o Orochi. A batalha de 1800 anos atrás, contada a mim a poucos minutos atras, se repetia na minha frente. As duas familias rivais: Kusanagi e Yagami estavam lutando juntas não na intenção de se matarem, mas de finalmente derrotarem o motivo de tanta desavença entre eles.
Virei de costas, pois não queria ver a cena final. As lágrimas embaçaram minha visão aos poucos.
De novo, alguém teve que cumprir seu destino. E eu não pude ajudar em nada.
Senti um leve tremor e uma fenda temporal reabriu a minha frente. A voz de David ecoava de la.
Engasgada com aquilo que eu vira acabei voltando ao ano de 2008, mais de 10 anos depois da luta que acabei de presenciar.
Voltei para casa com mil idéias na cabeça. Queria saber quem eram os lutadores, o nome do torneio e como chegar até eles.