A GAIOLA DOURADA

Bela era a mais encantadora das moças do lugar.

Caminhava toda manhã pelos campos colhendo flores.

Era tão natural e pura que provocava ciúme nas outras mulheres.

Não se dava conta dos suspiros que arrancava dos homens e nem percebia os olhares de inveja das outras moças.

Os pés pequeninos caminhavam como se aquele corpinho de moça não tivesse peso, e as pernas bem torneadas com as caminhadas se tornavam ainda mais bonitas.

Os quadris bem proporcionados possuíam um gingo próprio e todos ficavam de boca aberta vendo-a passar.

Os dourados cabelos, ao vento, ganhavam ainda mais brilho com os raios de sol sobre eles.

A tez ganhava uma cor levemente acobreada.

A boca delicada se abria em sorrisos para os pássaros e animais.

Tantas vezes o seu cão a acompanhava em suas caminhadas e os dois formavam um belo quadro.

Toda moça bonita que se preza guarda o segredo de tanta “formosura”. O segredo de Bela era a liberdade, a natureza.

Ela era livre e caminhava pelos campos todas as manhãs.

Todos os homens a cobiçavam e um mais que todos. Este estava disposto a fazer qualquer coisa para conquistá-la, qualquer coisa.

Era o moço mais rico do lugar. Tinha tudo o que podia desejar e desejou aquela moça que caminhava pelos campos.

Bruno a queria só para si. Queria a beleza daquela moça simples, para que só ele pudesse contemplá-la.

Resolveu que a conquistaria a qualquer preço, qualquer preço.

Bela não estava à venda e ele logo soube disso.

Usando de artimanhas o rapaz conseguiu descobrir uma dívida de jogo que o pai da moça fizera, e apareceu diante do pobre homem munido de promissórias que o colocaria na cadeia em dois tempos.

Pai de uma única filha Antenor se desesperou, mas relutou em entregar seu único tesouro para livrar-se da prisão.

Bela quando soube, concordou em salvar o pai e em pouco tempo estava casada com o asqueroso Bruno.

Dizem que a felicidade não faz morada se não for conquistada.

A linda moça, presa em sua bela gaiola dourada, foi definhando e perdendo a beleza.

Bruno descobriu que a felicidade não se compra e que podia desfrutar o corpo de mulher, mas que a alma desta nem de longe lhe pertencia. Devia pertencer aos campos, ao sol dourado, aos passeios matinais, aos ventos.

A moça foi definhando, definhando e o marido vendo-a consumir-se chegou mesmo a odiá-la.

Em vez de soltá-la prendeu-a mais para que pagasse caro por não ter aprendido a amá-lo.

Depois de um ano de casados, da beleza antiga da moça quase nada lhe restara. O brilho do olhar se apagara e o corpo extremamente magro mais parecia um monte de ossos.

Os lábios nunca mais se abriram em sorrisos e a tristeza se estampava em seu rosto.

O marido não se dava conta de que matava a beleza, aos poucos.

E por fim ela acabou mesmo morrendo de tristeza, de mágoa.

Então as moças do lugar podiam competir entre si qual era a mais bonita, porque não havia Bela para se sobressair.

Bela só ficou na lembrança de todos como a moça mais bonita que já existira naquele vilarejo.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 13/11/2008
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T1281140
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