O Vôo da Liberdade

Lá estava ela, nua, debaixo do chuveiro. A água caía quente e escorria a partir de sua cabeça para todo o corpo. Um mundo de sensações a envolvia. Sentia leveza, algo, que não diria, estranho, mas prazeroso... Profundamente prazeroso. Um bom banho, na sexta-feira, depois de uma semana estressante e muito cansativa. A água caía e ela se sentia livre. Só de pensar no fim de semana prolongado, poder dormir até tarde, ninguém para mandar: “faça isso, faça aquilo”. Certamente alugaria um bom filme na locadora e assistiria, quem sabe debaixo de uma coberta... Bem quentinha. Chegava mesmo a se arrepiar, só de pensar.

Nesse astral, de repente, o tempo pareceu ter diminuído seu ritmo e as gotas de água passaram a cair devagar e levemente. Lentamente, elas caiam...Uma a uma. Tornaram-se coloridas: azuis, vermelhas, verdes, amarelas, diante de seus olhos... Ela passou a ver em cada gota, imagens. Sentiu-se entorpecida. Em aparente câmera lenta, estendeu a mão e uma gota caiu sobre ela. Não se desfez e ao cair o tempo parou de vez e ela olhou-a atentamente... E o seu olhar pareceu tornar-se muito mais profundo e poderoso. Viu-se no meio daquela gota, jovem, linda, com cabelos longos, muito longos e esvoaçantes... A temperatura era a dos melhores dias de verão e o vento soprava forte, levantando seus cabelos longos pelo espaço. Vestia roupas, mas não eram roupas comuns... Elas eram leves e voavam muito mais do que seus cabelos. Toda azul clara. Estava perto de um abismo, que a muitos assustaria, mas isso não a perturbava. Levantou-se, olhou para frente, para o alto e não teve dúvidas, saltou no abismo e voou, voou e voou... Sentiu-se como um pássaro. Sua roupa e seus cabelos se espalharam. Às vezes fechava e em outras abria os olhos. Teve mesmo a percepção de não estar sozinha, mas pouco importava, pois quem a acompanhava fazia-lhe se sentir muito bem.

Pousou... Novamente, em um momento repentino, sentiu-se encaixar em si mesma e olhou novamente para a mão, na qual a gota já não estava mais. Havia se esvaído. Sorriu, levantou o rosto em direção aos jatos de água do chuveiro, fechou os olhos, sentiu a água quente escorrer pelo corpo novamente por alguns momentos e desligou o chuveiro. Pegou a toalha para se secar, sentindo-se outra pessoa; feliz e de bem consigo mesma. Não entendera o acontecido, mas aquele banho quente refez suas energias vitais para enfrentar a vida novamente.

Aguarde em breve "A Marca". Texto (dueto) de suspense em três partes, onde ninguem que já fôra marcado conseguiu sobreviver.