Shelem era um rude pastor que vivia nas distantes montanhas de Sawar. Seus únicos companheiros eram os cães e as ovelhas, os quais não mereciam dele qualquer carinho. Trabalhava nos campos e colinas e, à noite, retornava à sua choupana, onde vivia com os pais e mais três irmãos.

 

Certa vez, Shelem perdeu-se em uma horrível tempestade e, depois de muito vagar, caiu em um poço e lá ficou, ferido e sem poder sair. Seus cães o olhavam assustados da longínqua abertura lá em cima e tudo o que Shelem pôde pedir-lhes foi:

 

‘Tragam ajuda!’.

 

Os cães se olharam, imóveis. Os grossos pingos d’água castigavam Shelem, já enregelado. Irritado, bradou:

 

‘Andem, cães estúpidos!’.

 

Então, Thoruk, o cão mais velho, adiantou-se e, para espanto de Shelem, falou:

 

‘Não somos estúpidos. Somos cães. E cão não sonha, mestre. Acorde.’

 

Shelem agitou-se e despertou em uma faixa verde de pasto, sob a sombra generosa de uma árvore. Seu prato de comida ainda estava ao lado e, um pouco afastado, zelando pelo seu sono, Thoruk o examinava, com os olhos negros como a noite.

 

Shelem estendeu-lhe a mão e sentiu o corpo quente do animal devolver-lhe a vida. A vida real.