Ernesto, O Lobo Bom

Certo dia, em Serra Talhada, no interior de Pernambuco, um homem que teve uma idéia de viajar por vários lugares do mundo e trazer de cada parte um animal, pois, seu grande sonho era montar um circo... Sonho sonhado, sonho realizado! O Circo Miramar foi criado.

A principal atração desse circo era um lobo chamado Ernesto, ele fazia um tremendo sucesso em todos os lugares que o circo passava. Ele cantava, dançava, tocava e se equilibrava sob a bola, era um artista completo e o principal trunfo para que o circo pudesse conquistar os estrelato e finalmente se apresentar em Recife, a capital . Ernesto tinha uma namorada, uma lobinha muito meiga que se chamava Lucrécia, uma artista “meia-boca”, mas, sempre muito simpática e sedutora. Por ela, Ernesto era louco de amores, não subia no palco sem que antes ela lhe desejasse boa sorte, até que um dia, Lucrécia se apaixona por Mário Ribamar, figura extremamente sem graça e antipática, um Hipopótamo velho e ranzinza. O circo ia de vento em poupa, grandes platéias, grandes bilheterias, sucesso absoluto, o lobo artista arrastava multidões por onde passava. Autógrafos, a glória e finalmente o convite para se apresentar na capital chegou. Junto à comemoração do ilustre feito, chega também aos ouvidos de Ernesto o conhecimento da paixão de Lucrécia por Mário Ribamar, justamente na noite do dia em que o circo faria uma apresentação solene para as grandes personalidades da cidade. A decepção e a tristeza foram tão grandes quanto o seu sucesso como artista. De nada adiantou os apelos de Marcos, o Ganso, de Paola, a Girafa, de Dunga, o Burro e de Edmilson, o Elefante. Ernesto decide abandonar o Circo.

Sozinho, triste, carente e com uma carta no bolso, o ex-astro circense começa uma caminhada solitária que terminou em um fatídico episódio, que de tão cômico daria uma bela história infantil. Ao Cruzar com uma jovem garota em uma de suas andanças, ele que se encontrava fragilizado e carente, foi seduzido pelos encantos de Maria do Chapéu Vermelho da Silva, que má intencionada o conduziu até casa da sua avó, que por hora, havia saído para fazer compras.

Ao chegar a casa, a garota ninfomaníaca tentou se aproveitar da fragilidade momentânea do benigno mamífero que resistindo aos seus assédios, fez com que a Jovem problemática se irritasse e o agredisse. Com a chegada repentina da sua avó, ela se vê em uma situação constrangedora e instintivamente dispara a infame calúnia que o lobo tentara lhe atacar. Em meio ao desespero, a avó sai na rua gritando e pedindo ajuda, no momento, coincidentemente uma viatura da policia se aproxima e sem apurar os fatos adentra na casa e arbitrariamente dispara vários tiros na direção do peito moribundo lobo. Chega à linha de chegada a história do lobo artista mais famoso que já se ouviu falar. Seria exagero culpar Lucrécia, mas, é extremamente cabível relatar que foi um triste fim.

Simmmm... E é bom que fique bem claro que, essa história da velhinha encontrada na barriga do lobo é tudo conversa fiada, é estória para criança dormir.

Ah, e o Circo!!!? Ouvi dizer que depois das leis que proíbem animais em circos, todos procuraram outra opção de vida. Edmilson virou artista em Hollywood, foi protagonista de um filme de muito sucesso chamado Dumbo. Marcos hoje trabalha como ganso de lago no interior de São Paulo. Paola se casou com um fulano aí bem de vida. Já Dunga investiu pesado em seu sonho de se tornar treinador de futebol e hoje é treinador da seleção brasileira. Mario Ribamar ingressou na aeronáutica e junto com Lucrécia está feliz da vida com a chegada de seu filho nº 2. Quanto os demais animais, não sei, acho que voltaram para as suas respectivas terras.

Tenho a certeza que no fundo do peito de Lucrécia o arrependimento é latente, perturba, ressoa e faz de sua vida um teatro, um jogo de cenas que por muito pode parecer tranqüilidade, mas, nada é tão perturbador como o talvez.

Eis abaixo a carta encontrada no bolso do cadáver do Lobo:

Talvez

Talvez o seu dia nunca chegue

Talvez a possibilidade de me ter do seu lado não exista

Talvez eu nunca encontre alguém para me fazer sorrir, ou chorar

Talvez eu case, talvez não

Talvez ache uma tábua de salvação

Talvez eu seja pai, talvez não

Talvez me reste a consideração

Talvez a vida seja apenas um jogo

Sem valores para marcar

Nem no papel, nem no placar

Mas, certamente alguém perdeu

E esse alguém não fui eu

Pois, jogo ainda não acabou

Para mim foi bom, economizei um amor

O velho moço
Enviado por O velho moço em 05/11/2008
Reeditado em 05/11/2008
Código do texto: T1267225