Cap 2 - Observando os Lutadores

Eu, Nisa Benthon, estava afastando-me um pouco daquilo tudo para ter uma visão global da situação. Procurava pensar em uma maneira de sair daquele tempo e voltar ao Brasil no ano de 2008 para pesquisar o que ocorreu. No mínimo, eu estava curiosa sobre aqueles homens que estavam brigando com tanto empenho...

Senti um pouco a mente de algumas pessoas ali, em especial, os pensamentos dos 4 que tive contato visual: o rapaz de cabelos brancos e tatuagem que caiu em cima de mim; o de cabelos ruivos e cara sádica que mandou fogo para cima da gente; o Japonês que toquei na franja e observei as roupas e o loiro de boné e cabelos longos que parecia ser um americano… Um leve enjôo me ocorreu quando pensei neles.

Todos eles pareciam ter problemas sérios. Aquilo parecia uma final de campeonato em que dois times muito grandes se enfrentavam.

Problemas não eram coisas raras para lutadores de torneios, que tentam se reafirmarem na base da violência. Aos poucos também consegui farejar que aquilo era um tipo de final. As cenas estavam parecendo uma final sem UM vencedor, e sim com ALGUNS BONS VENCEDORES.

Pensei na possibilidade de sabotagem da final e, talvez, por isso eles estavam tão alterados. Observei a multidão com cuidado procurando algum responsável pelo caos anunciado que eu presenciava.

Estacionei o olhar em um grupo de pessoas que possuía pensamentos obscuros, eles estavam se divertindo demais às custas do sofrimento do loiro, japonês e do ruivo que lutavam desesperadamente um contra o homem de tatuagem.

- Sacanagem eles gostarem de ver a dor daqueles quatro que lutam. – sussurrei para mim mesma olhando a platéia ensandecida.

Senti que eu precisava me aproximar e tocar a pele de algum deles para reativar a memória sensorial e ver como posso ajudar aquelas pessoas.

Volto meu olhar para os garotos que ainda lutam contra aquele rapaz que caiu em cima de mim. A coisa parecia feia, porque o Japonês e o Ruivo estavam apanhando demais. Fixo meu olhar em ambos e consigo descobrir seus nomes quando alguém na platéia os grita: Kusanagi e Yagami.

Mergulho nas informações mentais que capto de todos eles. Fazer isso não é difícil, o ruim é tirar as sensações que vêm à tona em meu corpo, junto com a memoria deles.

Movimentei os braços para cima e espalmei as mãos desejando que o tempo parasse.

Caminhei para o meio da luta enquanto todos estavam em uma imagem congelada no tempo.

Olhei para o japonês de jeans e jaqueta branca que se chamava Kyo Kusanagi, toquei levemente o seu braço chamuscado pela luta com as chamas que ele utilizava como armas. Ele carregava o nome de uma família tradicional em forja de espadas e lutas com manuseio de fogo. Aquele homem possui o peso de ser o último da geração do seu lendário clã.

Kusanagi era uma pessoa descontraida, sem preocupações e muito rebelde. Preferia jogar o tempo fora escrevendo poesias haikai do que passas as horas estudando ou treinando.

Por instantes pensei em minhas condições de “ultimo ser proveniente de Irids” (meu planeta), e compreendi a sua rebeldia e os sentimentos que ele carregava dentro de si.

A vida de Kyo passava em minha mente como um filme. Ele parece ser de uma dualidade incrivel: ao mesmo tempo que possui o controle das chamas que saem de suas mãos, é um homem muito frio e arrogante em certos momentos.

Falei baixinho enquanto o encarava:

- As vezes ser rebelde é bom para jogarmos fora o que passa de ruim na nossa cabeça... mas não podemos confundir isso com supremacia. Os preços a serem pagos podem ser altos demais, garoto.... – afastei a franja curta que caia em seu rosto e estava levemente grudada em suor, beijei sua testa de leve.

O proximo a cair em meu campo de visão era o Ruivão. Comecei a rir quando pensei nisso, pois era engraçado a sua forma de vestir-se. Se ele soubesse que isso viraria moda dali a dez anos...

Iori Yagami, foi o nome que me veio a mente quando me aproximei. Ele tem a pele clara, cabelos vermelhos, trajava uma jaqueta preta curta com o desenho de uma lua minguante nas costas junto com uma longa camisa branca por baixo. O engraçado mesmo é o cinto usado à altura dos joelhos, o qual une suas pernas e calças vermelhas.

Sentei em um muro rindo das coisas engraçadas que me vinham a mente ao ver aqueles meninos. Descongelei o tempo para observar melhor o andar da carruagem. Tomei o cuidado de permanecer invisivel para todos ali.

O ruivo cairia usando aquele cinto preso nas pernas enquanto luta? Já me bastava o meu tombo que havia ocorrido há uma hora atras.

Uma cena q apareceu na mente do ruivo me perturbava. Havia algo ali que impulsionava eles a se matarem... Iori me pareceu ser um homem egocêntrico e inteligente. Mas aos poucos, vendo como ele agia perante a luta com o rapaz de cabelos prateados, percebi que ele é um lutador completamente homicida. Um calafrio me percorreu a espinha.

Deixo-o de lado um pouco e me importo com quem realmente estava causando o caos: o garoto que caiu em cima de mim, que se chamava Chris e todos o estavam gritando pelo nome de Orochi.

Achei estranho o fato da imagem física daquele garoto estar diferente da imagem mental que ele criava de si mesmo.

Todos nós temos uma imagem de nosso corpo periférico gravada no subconsciente, esta é nossa imagem mental. A imagem física é como os outros nos vêem.

No caso de Chris, a imagem que ele criava era a de um garoto de estatura média, com a idade tenra de um adolescente, cabelos curtos e castanhos. Coisa totalmente diferente do que eu via a minha frente: um homem musculoso, de cabelos brancos e torax tatuado.

Naquele instante parei o tempo novamente para observar de perto o que ocorria na mente do garoto, que agora tinha a imagem de um homem mais que desenvolvido.

- Por que tamanha mudança fisica sem o reflexo mental acompanhar? – fiz a pergunta tocando o topo de sua cabeça. Lógico que tive que levantar até as pontas dos pés para fazer isso.

Bendita hora que escolhi parecer uma humana baixinha.....