Sabor das amêndoas doces

Ele fecha o livro sobre o peito, é um livro de poemas que acabara de comprar, cerra os olhos e revê cenas que antecederam a ida a Livraria. Lembrou da melancolia que sentira naquela tarde e do sabor amargo do último café que degustou no trabalho.

No início da noite, ele fora a Livraria Cultura e na ida enquanto caminhava sentiu algo diferente; o coração oscilava ora para melancólico ora para ansioso, observou sua imagem através de uma vitrine e constatou que não se olhava há muito tempo, anos talvez, sentiu o peso dos ombros, seu modo duro de caminhar marchando sempre com uma mesma batida de pé e questionou em seu intimo como se havia imposto essa maneira.

Passada a vitrine os pensamentos voltaram-se para a obra que iria comprar, gostava de consultar as indicações científicas que recebia em seu local de trabalho e a cada semana escolher uma delas para leitura. Automaticamente ultrapassou as portas de vidro da Livraria Cultura e sentiu o aroma de um inebriante perfume, era suave, porém intenso de tal forma que parecia penetrar na sua pele e lembrava inevitavelmente as terras árabes.

Como hipnotizado seguiu o rastro envolvente, a fragrância exalava da pequena figura de uma mulher de cabelos espessos, escuros, presos ligeiramente na nuca alcançando a metade das costas, a seguia sem ser percebido de maneira quase delicada, não queria quebrar o encanto. A moça se dirigiu as estantes das obras de Poesias e folheou alguns volumes com intimidade, ele aproveitou-se da concentração dela para olhá-la de frente, o rosto de pele azeitonada era tão inebriante quanto o aroma. Ela pegou um dos livros e foi-se de maneira suave mas rápida, enquanto ele manuseava curiosamente os livros que ela havia folheado antes da escolha, ele pegou um dos volumes rapidamente, pois percebera que ela já estava pagando e pretendia alcançá-la, estava diante de uma situação que não sabia como se portar, logo ele que resolvia problemas diários os mais diversos.

Foi também para pagar e sair, e o fez, mas não a alcançou, não mais a viu. Ele foi e voltou pelas esquinas e arredores, lamentavelmente não sentiu o perfume.

Agora de olhos cerrados tendo acabado de ler poemas de amor sente no ar e na pele o aroma levemente adocicado. Na boca o gosto amargo do café foi substituído como que por encantamento pelo sabor das amêndoas doces.

Regina Romeiro
Enviado por Regina Romeiro em 26/10/2008
Reeditado em 08/01/2009
Código do texto: T1248787
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