Amor que não desiste*

Renato estava pensando em tudo o que lhe acontecera nestes dois últimos meses. Como sua vida havia tomado um rumo totalmente inesperado.

Mas ele estava gostando dessa nova vida, da casa nova, melhor dizendo mansão, com piscina, quadra de esportes, um belo jardim e árvores, muitas árvores. Empregados para servi-lo a qualquer instante. Parecia um sonho, um conto de fadas. Só uma coisa o perturbava: Não queria separar-se de seus antigos pais.

Quem o visse agora, não o reconheceria. Roupa bem arrumada, cabelos impecavelmente penteados, nem parecia aquele Renato que só usava roupas novas quando das principais festividades. Ele era um dos muitos rapazes pobres de Belém. Fora adotado por uma família de poucos recursos quando tinha apenas sete anos. Antes, ficava perambulando pelas ruas da cidade até que, numa manhã, o casal Ronaldo e Clarice passou por uma dessas esquinas e o garoto lhes chamou a atenção. Percebia-se, apesar do estado em que se encontrava, que era um menino bonito, moreno, de olhos meio esverdeados.

Clarice logo se apaixonou pelo moleque. Sugeriu ao marido que o adotassem, já que não podiam ter filhos. Ele, mesmo sabendo que não dispunham de condições para dar tudo o que uma criança necessita, se animou com a idéia. Trabalharia mais ainda para que nada faltasse a Renato.

Restava saber se ele aceitaria a proposta do casal. Perguntaram-lhe onde ficava quando não estava na rua, ao que o garoto lhes respondeu que à noite costumava dormir num abrigo para menores. Ele também pareceu gostar da idéia e acabou aceitando o convite.

O garoto cresceu saudável. Fez o primário e o ginásio numa escola pública de Belém. Sempre foi um aluno aplicado, o que dava orgulho aos seus pais. Já ia ingressar no antigo segundo grau quando um fato novo aconteceu em sua vida.

Certa manhã de domingo, chega à casa de Ronaldo e Clarice um carro, de onde saiu um casal muito bem vestido e educado. Disseram querer falar com os donos da casa. Surpresos com aquela visita, pediram para o casal entrar, não sem antes pedirem que não reparassem, pois era casa de pobre.

Perguntados sobre o motivo da visita, Adriano e Simone contaram-lhe que há dezessete anos tiveram seu filho roubado da maternidade e, desde então, começaram a luta para encontrá-lo. Depois de muita procura, chegaram até ali.

Ronaldo e Clarice ficaram apavorados com a idéia de perder o seu único filho, mas depois, passado o susto, viram que poderia ser bom para o futuro de Renato se ele realmente fosse o filho daquela família, que possuía excelente condição financeira.

O rapaz não estava na hora da tal visita. Fora participar de um campeonato de bairro com os colegas. Era considerado um “craque da redonda”, por isso muito solicitado pelos times do bairro.

Ao chegar, soube da novidade. De início ficara assustado. Nunca pensara que ele, antes sem ninguém, agora tinha duas famílias.

Um encontro entre eles foi marcado na casa dos novos pais.

Ao ver o rapaz, Simone não teve dúvidas, era o seu filho roubado. Adriano, mais cauteloso, disse-lhe que precisavam fazer o exame de DNA, para terem certeza absoluta de que aquele era seu filho. Feito o exame, tudo foi confirmado.

Renato se refaz dos pensamentos e lembra que prometera a Ronaldo e Clarice que voltariam no dia seguinte para a casa deles. Pensou então que, embora gostando da nova vida, não queria viver longe dos pais adotivos.

Adriano e Simone se anteciparam e sugeriram a Clarice e Ronaldo que passassem a morar em uma bela casa ao lado da deles, para que Renato pudesse usufruir da companhia das duas famílias, o que foi aceito e todos conviveram harmonicamente.

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* COSTA, LAIRSON. Insanidades. Belém: L & A Editora, 2006.

Lairson Costa
Enviado por Lairson Costa em 14/10/2008
Código do texto: T1228652
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