Um buraco na areia, um mergulho no mar.

Tainá, 15 anos, havia terminado tudo ali mesmo no motel Sunshine. Fred, com quem mal acabara de perder a virgindade, a tinha deixado sozinha no ponto de ônibus da rua da praia. Desistiu de esperar o ônibus, pois necessitava pensar um pouco sobre tod aquela situação estranha que estava acontecendo. Fred era muito importante para ela, mas, na cabeça da menina, parecia que para ele tudo havia sido tão sem importância quanto beber uma caneca de café pela manhã. Sentou-se na praia com os olhos fixos no mar e, então, pôs-se a cavar um buraco na areia como que impulsionada pelas lembranças boas de sua infância ali em Niterói. O sol estava escaldante, mas não impediu Tainá, que, lançando todo o seu rancor pela ausência de Fred na areia, cavou mais e mais fundo, até que sentiu que algo duro encostava-se aos seus dedos da mão direita. Resolveu cavar até obter o objeto por completo.

Uma estátua de barro amarela e marrom, com a figura de uma mulher negra de corpo muito exuberante estava diante dela. Lembrou das estórias de pirata que a avó Cacilda contava-lhe para dormir. Então, a menina esqueceu-se um pouco da tristeza e foi para casa mostrar o seu tesouro para vovó.

Dona Cacilda contou-lhe que aquela era uma imagem sagrada de Iemanjá, um orixá que protegia os pescadores e lhes trazia boas pescas, e contou também que durante todo o mês de setembro os pescadores da colônia de Jurujuba (a mesma praia onde Tainá havia encontrado a estátua) fazem festas e procissões para agradecer as bençãos da santa para aquele povoado, e que a santa é responsável tanto pela esterilidade do mar, com todos os seus frutos, quanto das mulheres, com sua prole.

A estátua, com o tempo, passou a ser o objeto mais importante do quarto da garota, que passara a conversar com a santa como se ela pudesse escutá-la de verdade. Um dia Tainá, depois de assistir o noticiário da TV, contou a Iê (a forma como passou a chamar sua amiga) sobre a grande quantidade de óleo que havia sido derramada por um navio petrolífero na baia de Guanabara, e que por isso a pesca havia seria proibida por pelo menos uns dois anos até que o mar se restabelecesse e os peixinhos voltassem a nadar novamente sadios por ali. Tainá sentiu-se amargurada junto com Iê por causa do mar e também por causa dos pescadores que ficariam desempregados. A essa altura, as duas eram quase uma coisa só: pele, gesso e coração. Aproveitando o período de férias da escola, resolveram se mudar para Búzios.

Deixaram dona Cacilda e seu Marcos já com saudades e foram para a casa de tia Margareth, bem do centro da cidade. Logo no primeiro dia, visitaram a estátua de brigite Bardot e imaginaram como a vida das duas seria diferente perto daquele marzão limpo e um pouco menos tocado pelo homeme que o mar de Jurujuba. Puderam também descobrir o que a correria enlouquecedora da cidade e o ritmo escola-inglês-natação-dever-de-casa não deixava: o cheiro das pplantas, o canto dos pássaros e a gravidez de Tainá. Iê ajudou a preparar a vinda de Jorginho, e Tainá achou que era a hora de agradecer a Iê. Arrumou um vestido parecido com o dela e dançou em sua homenagem na festa dos pescadores da Praia das Tartarugas: agradeceu a companhia, o bebê, e desejou boa sorte na viagem, pondo uvas e muitas flores no barco mais bonito que encontrou na loja de dona Soraia....e apesar da difícil separação, lá foi Iê morar com as sereias!

Luciana Sá
Enviado por Luciana Sá em 12/10/2008
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