O Poço dos Rumores

Era uma montanha rochosa, quase inacessível e inexplorada, que se assemelhava a um degrau no meio daquele vasto e imenso nada. Poucos conheciam o lugar, mas a maioria sabia da existência de um “poço de rumores” que havia ali. Aquele poço era chamado assim por causa de uma criatura, que sempre habitou naquele lugar. Para ela o poço era o mundo.

Há pouco tempo, ela começou a olhar para o alto e ver que aquele pequeno círculo mudava de cor, uma hora era azul claro, outra escuro com pontos brilhantes. Entendeu que o sol e a lua tinham sempre muita presa, pois permaneciam pouquíssimo tempo no “círculo”.Começou a inquietar-se com alguns rumores que ouvia fora do seu mundo.

Estes rumores eram de Alguns que se aventuravam em explorar o lugar, afoitos para acharem o poço e descobrir o porquê dos rumores, o que aquilo significava, se era verdadeiro ou não. Uns encontraram o poço, mas como não ouviam nada, começaram a atirar pedras e nada de rumores. Outros, ficaram entediados esperando os rumores e foram embora, porque o poço não significava nada para eles. Todos que chegaram ali, de uma forma ou de outra, não ouviram nada e resolveram voltar, afinal, era só um poço.

Apenas Um, talvez o mais curioso e ousado, encontrou o poço e ali permaneceu até ouvir o primeiro rumor. No início ele não entendeu muito bem, mas decidiu olhar bem lá no fundo do poço e viu. Finalmente alguém viu de onde partiam os rumores. Eram de uma criatura apavorada. Pouco a pouco, com muita paciência, ele começou a entender que os rumores eram palavras, que as palavras eram frases e as frases começavam a fazer sentido. Isso aconteceu também com a criatura, começou a compreender alguma coisa.

Um dia, depois de haver conquistado a confiança da criatura, Um resolveu jogar uma corda para ver o que acontecia. A criatura desconfiou, tinha medo, mas subiu. Muitas vezes parava no meio do caminho, afinal ela nunca esteve fora do poço! Subia um pouco, parava, subia mais e parava. Um sempre insistia, dizia para não ter medo, para confiar. Subiu mais um pouco... mais um pouco até que segurou a mão de Um e chegou à borda. Saiu, ficou em êxtase. Viu que aquele círculo azul , não era só um círculo, que havia tanto espaço em volta daquele poço, havia tantos caminhos para seguir, havia muita coisa para aprender.

Ela não se arrependeu de ter confiado em Um, sentiu o ar puro, sentiu o calor do sol, sentiu aquela mão que segurava a sua. Permaneceu assim, a olhar o horizonte, a segurar a mão de Um, a experimentar a liberdade. As únicas coisas que Ela sabe agora é que : é livre para caminhar ; é livre para aprender; é livre para fazer isto de mãos dadas.

Ravenna
Enviado por Ravenna em 03/10/2008
Reeditado em 03/10/2008
Código do texto: T1209861
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