Visitas inusitadas
Era um povoado pequeno encravado nas montanhas, cercado por eucaliptos frondosos que ressaltavam o seu aspecto bucólico e balsamisavam o ar que nele circulava, com o seu delicioso perfume. As pessoas costumavam extrair o seu óleo assegurando que possuía propriedades curativas para muitos males e usavam as suas folhas para fazer um delicioso xarope que tomavam para combater a gripe e, de forma artesanal, vendiam nas cidades vizinhas quando iam fazer compras e, vez por outra, se consultar.
Pessoas saudáveis, de hábitos simples, se alimentavam de maneira frugal. Criavam cabras que lhes forneciam o leite e a carne; mas preferiam abater os bodes sempre que um novo nascia, assim preservavam as fêmeas para procriarem só abatendo-as quando já não mais davam crias. Gostavam de fazer queijo com o leite o que lhes rendia um bom dinheiro junto com o xarope, as colchas de retalho, os ovos de galinha, os pratos pintados à mão e as geléias de frutas regionais que eram muito comentadas por serem de um sabor sem igual, principalmente a de marmelo.
Assim viviam na simplicidade que Deus lhes havia facultado e todos os dias a Ele agradeciam com os joelhos no chão, aos mãos em atitude de prece e o espírito louvando ao seu criador.Nada reclamavam e nada mais desejavam além do que já possuiam. Eram felizes!
Uma noite, não muito quente, recolheram-se mais cedo para finalizar as tarefas que estavam em andamento e dormirem mais cedo pois alguns deles viajariam antes do sol nascer, para comprar suprimentos e levar a mercadoria que vendiam numa cidade próxima, mas não tão próxima, e bem maior do que o lugar onde moravam.
Subitamente, no meio da noite, o povoado foi literalmente acordado por uma forte explosão precedida de um clarão de tal magnitude que impedia as pessoas abrirem os olhos. Desta maneira não puderam contar com fidedignidade o que havia acontecido mas se lembravam perfeitamente dos dois fatos citados: o clarão e a explosão. Em seguida,silêncio total!
Alguns mais corajosos abriram as suas portas, pegaram as suas carabinas e se dirigiram às alamedas em busca do desconhecido fator que os havia alarmado. Caminharam segurando lanternas e carabinas, com as pernas trêmulas e o coração aos saltos. Mas não se rendiam pois afinal de contas eram homens e as suas mulheres e os seus filhos aguardavam por uma resposta, em casa, muito aflitos.
Se aproximaram de uma clareira entre os eucaliptos e puderam divisar um enorme brilho opalino que se tornava azulado e lilás como se fora uma lâmpada irradiando luzes diversas. Aproximaram-se lentamente, pé ante pé, chegaram nas imediações da clareira onde, estupefatos pararam como se tivessem petrificados. O que os seus olhos viam eles jamais se esqueceriam.
Uma imensa nave iluminada por luzes opalinas de cores que se entremeavam entre o azul e o lilás, pairava alguns centímetros acima do solo e possuía uma porta aberta na sua parte inferior onde havia uma escada iluminada por um brilho inugualável, permitindo o trânsito de seres enormes, longilíneos, cabelos negros e compridos, tez morena,túnicas diáfanas de uma tonalidade vítrea sem serem transparentes, sandálias acetinadas bordadas com pedrarias, um bracelete dourado no braço direito e, cingindo a fronte de todos, uma coroa de espinhos dourados.
Os moradores prenderam a respiração ao mesmo tempo que percebiam estarem os seres desconhecidos conversando entre si. Aos poucos perderam o receio e se aproximaram mais a fim de tentar estabelecer contacto.
Eis que de repente escutam o maior silêncio das suas vidas! Silêncio total quebrado apenas pela respiração de todos.Os viajores desconhecidos fitam nos seus olhos com intensidade e profundidade.Eles então fecham os seus marejados de lágrimas e retomam a caminhada de volta para os seus lares. Dentro de cada um havia sido lançada a semente de uma certeza.
Enquanto retornavam lentamente, sentiram um leve roçar de brisa sobre as suas cabeças. Voltaram-se de uma só vez ao mesmo tempo em que a nave se deslocava rumo ao infinito. Ainda assim, puderam ver num último relance,sobre esta, uma magnífica coroa de espinhos de aspecto diamantino.
Ao chegarem nos seus lares, interpelados pelas suas esposas e filhos, disseram ter sido uma bomba que algum viajante tinha jogado na clareira.Todos deram a mesma explicação sem mesmo terem feito um acordo entre si.
A partir desta noite, estes moradores passaram a ter sonhos reveladores e desenvolveram a capacidade de curar as doenças até então desenganadas, apenas com a imposição das mãos e a magnetização da água.
Muitos ficaram desconfiados mas nada disseram e a maioria agradeceu a Deus por mais esta bênção com que foram agraciados.E assim seguiram as suas vidas na mais pura e verdadeira felicidade...
Bons sonhos para todos.Bjs,soninha