Mega Vó 2: Motorista Desalmado

Motorista Desalmado

Ana Esther

(14/05/2008)

Inverno, dia de chuva, um friozinho daqueles... Dona Alfazema tinha consulta no médico, marcada há três meses, justo para aquele dia. A vontade era ficar em casa, no quentinho, seus 76 anos pesavam. Contudo, Dona Alfazema sabia que se perdesse aquela consulta não conseguiria outra tão cedo. Vestiu-se como se estivesse indo para a Sibéria, gorro, luvas, cachecol, meias de lã e botas forradinhas... E lá se tocou ela bem encolhidinha para a parada de ônibus.

Na parada, todos muito saradões, pareciam estar em pleno verão... camisetas, bermudas, ninguém com sombrinhas, alguns poucos carregavam no braço um casaquinho de nada. Dona Alfazema se arrepiava toda só de olhar para eles. O primeiro ônibus que passou estava tão abarrotado de gente que ela preferiu esperar o próximo. Ficara sozinha no ponto.

Quando avistou o outro ônibus se aproximando fez sinal com o braço. Sua surpresa foi enorme ao perceber que o motorista não parou para ela. E agora, o que fazer? Uma lágrima escorreu por seu rosto cheinho de rugas. Neste instante para seu total espanto eis que surge no céu... uma velhinha voadora empunhando uma bengala: a Mega Vó, defensora dos idosos oprimidos!

A super poderosa Mega Vó aterrissou em frente ao ônibus e foi falar com o motorista desalmado. ‘Meu filho, mas isto é coisa que se faça com uma velhinha?’ A Mega Vó disse com um carinho imenso na voz ao mesmo tempo em que jogava em cima do motorista boquiaberto o seu poderoso Olhar do Arrependimento. O motorista nem pode responder. Por sua mente passavam imagens de sua infância junto a sua querida avozinha, tão delicada e alegre, que sempre preparava especialmente para ele uns docinhos gostosos e contava estorinhas para ele dormir...

O motorista desalmado foi derretendo. Não havia lágrimas em seu rosto mas seu peito doía terrivelmente. Como é que ele conseguira ficar tão insensível? Deixar senhorinhas, como a Dona Alfazema, estateladas em paradas de ônibus naquele clima, era maldade demais. Só porque não pagavam passagem... O motorista envergonhou-se do seu pensamento tão mesquinho. Além de desrespeitar uma lei ele percebeu que estava agindo como um monstro malvado. Mas por que ele fazia isto?

A Mega Vó notou o arrependimento sincero do motorista e o abraçou com grande ternura. Mais uma vez o seu Olhar do Arrependimento funcionara. O rapaz se dera conta de como estava sendo ridículo ao agir daquela forma. Pasmos, os passageiros crivaram os olhos na Mega Vó sem saber de onde ela surgira e como conseguira parar o ônibus.

Estupefata, dona Alfazema viu o ônibus dando marcha ré para apanhá-la na parada. O motorista pediu-lhe desculpas e esperou até ela sentar. Então arrancou e o ônibus seguiu seu destino. Com uma diferença incrível, o coração de todos ali estava bem mais leve. Olharam pelas janelinhas e avistaram nos céus a Mega Vó, aquela velhinha encantadora, voando com sua Bengala Mágica talvez em auxílio de algum outro idoso em apuros.

*Esta aventura da Mega Vó foi publicada no Jornal Cultura&Lazer (Florianópolis) e também em www.jornalculturaelazer.zip.net