UM CENTAURO NA AMAZÔNIA
                                   (Hull de La Fuente)



Cap. XIII - Final




Roraima. Kirone bebia tranqüilo das águas do rio. O índio aproximou-se do centauro e pela primeira vez viu sua nova imagem refletida nas águas. Sem esconder a admiração, indagou ao amigo, chamando-o pelo nome:

_Kirone! Este sou eu mesmo? Como posso ter crescido assim se a minha gente é de estatura baixa? Você fez de mim um guerreiro alto e forte. – a seguir emocionado, abraçou-se ao amigo “homem-cavalo”, que o fitava divertido.

_“Eis allen tin’ heméran, Kirone!” (Até um dia, Kirone!). Grande amigo, eu serei o guerreiro que meu pai sonhou, graças a você. Eu nasci índio, como nos chamaram os homens que vieram do outro lado do oceano, quando aqui chegaram; mas acima de tudo eu sou humano, "tenho até alma," conforme foi reconhecido por Bula papal, em 1537. – falou em tom de ironia.

_Bravo! Você fala grego perfeitamente. E assim será com outras línguas. Você despertou do sono bem determinado, cheio de coragem, fazendo uso do conhecimento adquirido e até com certo humor irônico. Seja feliz, amigo Kalibe. Lute por sua bela terra verde.

_Eycharistéo soi, phìle! (Muito obrigado, amigo). Nunca o esquecerei.

O centauro ajeitou a alça do alforje no ombro e completou:

_Quando você encontrar dificuldades intransponíveis, vá para o meio da taba, olhe na direção da Constelação de Centauros – disse apontando para o lado onde encontrá-la – e peça sabedoria. Aquela que vem do alto, você a obterá. Após essas palavras o centauro desapareceu.

Próximo à aldeia, Kalibe encontrou um posto da Fundação Nacional do Índio, o rapaz olhou com interesse para o mesmo e pensou: “Minha luta vai começar por aqui, na selva mesmo. Vou estudar e aprender todo o sistema das leis dos homens brancos. Eu sei que com isto serei emancipado, como determina a lei tutelar deles. Naquela ocasião perderei minha identidade étnica, não serei nem índio, nem branco, serei aculturado, como são classificados os índios que assimilam a cultura dos civilizados. Se for necessário, farei carreira política. Este é o preço que pagarei pela demarcação das terras Yanomami. Contudo, a minha gente sobreviverá. Eu juro por meu pai Wauaré, por minha aldeia que foi dizimada e por você, amigo centauro”. Kalibe fechou a mão e ergueu o punho para o alto numa jura silenciosa. Sua batalha ia começar ali.

Enquanto isto, distante, a milhares de estrelas, Kirone contava para seus amigos a nova versão da história do planeta Terra. Definitivamente, os centauros não poderiam ter permanecido nela. E concluiu:
 
“A primeira Tessália continuará sendo apenas uma região da antiga Grécia, onde, o mito sobre os centauros será, para sempre, cantado em prosa e versos pelos poetas.”

FIM 




Obs.: Esta história foi escrita para participar de um concurso literário. A idéia era transformá-la, a partir desta etapa, em história em quadrinhos, onde o indio Kalibe viveria centenas de aventuras na selva e nas cidades. Seu professor Kirone, tal qual o rei dos centauros da antiga Grécia, Quirão, sempre o instruiria e o guiaria nessas aventuras. Muita ação e encantamento existiria. Contudo, não encontrei alguém que me ajudasse a por essas idéias em prática, faltaram recursos e, principalmente, um desenhista.

Hull de La Fuente
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Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 22/09/2008
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