A árvore que queria ser gente (Lembrança do dia da árvore)
Á beira da estrada, mostra sua força e vida, convida a descansar na sua sombra.
Forte, robusta, verde, fresca.Acena suas folhas aos viajantes cansados como quem dá bom dia.Porém quase ninguém se importa com ela, ninguém quer parar sua jornada e ouvir o que tem a contar, quantas estórias já se passou embaixo dos seus galhos.Quantos casais namorados já não fizeram um coração em seu tronco, deixando-a como testemunha de um amor que valeria a pena e outros que não passaria de fogo de palha, amor de verão, protegido pela frescura de sua sombra.
Ela está lá, acenando, balançando seus galhos, numa luta de chamar atenção, pois muitos anos já se passam e suas vizinhas ali já não estão mais.O que acontecera a elas?
Os anos passam e suas folhas já enfrentaram muitos outonos, sua copa já recebeu muitos raios, seus tronco abrigou e desabrigou durante a chuva e pôde agüentar o sol escaldante do meio dia.Porém ela continua lá, a insistir por companhia, de alguma criança que ouça seus contos de fada, das vezes que viu Chapeuzinho passar pelo caminho a seguir para a casa da vovó, ou até mesmo da vez que ela e suas companheiras cresceram a ponto de invadir o castelo da Bela Adormecida e dele fazer uma floresta só.
Porém é em vão seu desejo de companhia, os viajantes não estão preocupados com seu faz de conta, as crianças nem tão pouco sentam mais à sua sombra, as mulheres não escrevem mais corações nem fazem juras de amor debaixo dela.Ela está a mercê do destino das companheiras!
Soube pelo vento que algumas viajaram milhões de quilômetros e se tornaram grandes obras de arte, outras foram ser mão de obra nas mãos de carpinteiro e serviram pra serem móveis a enfeitar, outras fizeram papel.Essas pelo menos continuam a registrar momentos felizes, quem sabe até os tristes, porém estão a servir de orelha e ouvir os contos e poemas de amor do coração da moça que sofre, ou do jovem que sonha ser doutor, até do poeta que anseia mudanças de um mundo melhor para todos.
No entanto ela se preocupa, qual será seu fim?
Que destino aprouve a natureza lhe preparar?
De certo ocupará posição de honra, ou quem sabe adornará castelos, mansões, parque de diversões, já que amava tanto ver as crianças brincarem debaixo dela, certamente prolongará seus dias com elas.
Sua vida vai se extinguindo pelo vento, que leva suas folhas e a deixa ressequida, a terra também já está fraca e não lhe oferta mais nutrientes de vida, seus ramos não vingam mais e suas raízes morrem ao encontrar concreto e paralelepípedos. Não há saída pra ela.
Um homem que passa por ali a observa, e ela cansada, porém com o último suspiro de esperança anseia que o homem a faça companhia e queira ouvir suas estórias ou até que conte pra ela sua vida, suas canções, seus dilemas.O homem, porém lhe tira o machado da sacola e começa a descer sobre o seu lenho triste e velho.
-De nada mais te serve Oh!Árvore velha!Vamos comigo sepultar!
E arrancam seus últimos sonhos, seus últimos desejos!
Um caminhão logo se acerca e lhe atira feito pedra sem dó nem piedade, a leva pra uma marcenaria.
Ainda chorosa, a árvore velha pensa ser seu destino um móvel a dar descanso, ou guardar um objeto qualquer.Entretanto sua forma se torna em caixote, que servirá pra sepultar um morto qualquer.
Á tarde lhe passam betume e deitam sobre ela o cadáver indigente! Sepultam em um buraco os sonhos da arvore que apenas queria ter vida de gente.