A ÍNDIA E O FORASTEIRO E OS ALBATROZES QUE SOUBERAM AMAR.
Era um final de tarde que já dizia adeus.
Uma brisa levemente gelada que chegava a balançar as copas dos coqueiros, ditava o toque da dança das gaivotas que sobrevoavam aquela montanha, uma a uma como se estivessem num bailé harmonizado, planando suas asas a testemunhar aquela cena, onde o jovem forasteiro emitia sinais para sua amada, alertando-a para o momento que se aproximava a primavera.
Os tempos idos de um outono-inverno cinzento de maiores conflitos já se apaziguavam, e era hora de voar.
As fortes ondas que se esparramavam às pedras, jorrando as suas espumas , deixavam suas marcas no belo verde musgo, perpetuando um limo tão lindo quanto a vegetação das árvores que surgiam daquela pedra que sem explicação plausível derramava água cristalina de suas entranhas para encharcar aquele mar imenso, gotejando qual lágrimas.
O pranto que imergia dos olhos daquele corajoso guerreiro, inundava aquela praia e o peito da nativa brejeira que ao perceber a chegada dos sinais dos céus, correu pra buscar a benção dos seus.
Aquela índia que depois de muito servir ao seu senhor, percebia-se naquele instante sem as amarras que durante a vida toda lhe impusera. Era chegada a hora da partida, ela que tantas vezes ousou atravessar a ponte imaginável dos seus anseios, agora estava a alguns passos de vir ao encontro dos seus sonhos molhados de suor e desejos.
Sua emoção só não era maior ao se comparar com a dor da despedida dos seus amados irmãos e filhas.
Soa o sino, suspendem-se as cortinas, anuncia-se o claquete, acendem-se os refletores de um novo tempo, de uma nova estação de flores e luz. Os dois protagonistas vão se encontrar para mais um ato, sendo que desta feita sem hiatos.
O amor, a esperança, a fé, e a firme vontade de se querer ser feliz prevaleceram no coração daqueles amantes que desde há muito dantes escreveram seus destinos pautados no caderno do existir e nas lembranças de outras vidas de um poeta sonhador.
E quanto aos homens sérios de plantão que insistem em duvidar em apostar na equação irracional do amor, impondo suas fórmulas matemáticas, ao determinarem tempo de validade de uma paixão, saibam eles que os números das retas infinitesimais se perderam ao longo do livro razão, quando resolveram buscar uma explicação pras coisas feitas pelo coração.
Já àquele que ousar em ser feliz basta olhar para o céu, e toda vez que perceber que por cima daquelas nuvens vogam dois albatrozes, saiba que ali vive o símbolo de uma ÍNDIA E UM FORASTEIRO que souberam amar...
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS) 15/09/2008