"Se você ama alguém, deixe-o livre". - O rouxinol

O tempo passa, e minhas crianças hoje são pais!

Ah..., mas como me lembro da sala da Televisão depois do jantar aconchegava meus quatro filhotes para contar história. Os olhinhos iam se fechando e como fazia Sherezada interrompia cada conto para continuá-lo na noite seguinte.

Hans Christian Andersen, Irmãos Grimm, Esopo, a corajosa Sherazade, eram nossos convidados de honra e recebidos com grande entusiasmo e carinho.

A cortina se abria: Fadas, gnomos, animais encantados entravam no cenário.

Como é belo mundo das fadas! Seres mágicos têm suas raízes nas noites dos tempos! Os sonhos não determinavam o lugar onde eles chegariam, mas davam força necessária para levá-los as estrelas, pisar na Lua ao encontro de algum castelo.

A recordação desta crença persiste no mais profundo da psique humana.

Pequeninas obras de arte que nos envolve em seu enredo, comove, incitando a mente com a sorte de seus personagens!

Relata os pequeninos contrastes da sociedade, apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados". Enviando a mensagem de igualdade, do qual “os homens devem ter direitos iguais...

Tal experiência cotidiana permite que a criança identifique com as dificuldades ou alegrias de seus heróis ensinando-os mesmo despercebidamente a enfrentar com coragem e dignidade os vales das perdas e das frustrações.

Se não houvesse contexto real – as histórias não despertariam o interesse nas crianças que buscam neles, além da diversão, um aprendizado apropriado à sua segurança, pois na hora das dificuldades o gênio da Garrafa será liberto!

Era a minha intenção intensificar a imaginação e a criatividade de meus filhos com mil e uma atividades: montagem de alguma peça transformando-a em teatro com ingressos vendidos, mesinha de frente da casa com produtos baratos que eram vendidos, futebol, tendo como juíza - eu, etc., etc.

As fábulas de Esopo são Lendas cujos personagens – “geralmente animais” agiam como seres humanos ilustrando sempre um preceito moral.

Bons alunos aprendem a matemática de multiplicar e dividir, como também - só consegue ganhar quando aprende a perder, só consegue receber, quando aprende a se doar…

“A Lenda do Rouxinol” contribuiu para realização desta tarefa.

Amor combina com liberdade.

A criatura humana não deve ter a pretensão de querer violar a alma do seu semelhante.

Amor sem exigências –– sem prisões - com liberdade e sinceridade.

Amor é como uma roseira dançando no embalo do vento, chuva, brisa, sol, Lua.

A lenda do rouxinol

Há mais de mil anos, num suntuoso palácio vivia o imperador da China.

À volta do palácio, um enorme jardim e uma floresta de onde se via o mar.

Entre as árvores, um rouxinol cantava maravilhosamente.

Encantado, determinou que o pássaro fosse capturado e levado ao palácio, para que pudesse ouvi-lo cantar em todas as horas do dia; e que os mais hábeis artesãos recebessem os metais mais preciosos e as gemas mais raras, para que pudessem construir a mais rica gaiola que já se viu neste mundo.

Assim se fez. E ao pássaro extraordinário foi reservado um local de honra no palácio, onde a esmerada iluminação fazia refulgir todo o esplendor da magnífica gaiola.

Entretanto, o rouxinol definhava a cada dia.

As suas penas, antes brilhantes e vistosas tornaram-se opacas e nunca mais se ouviu o seu canto. Em vão o Imperador ordenou que lhe fosse trazido os mais atraentes e saborosos petiscos, que com as próprias mãos ofertava ao pássaro amado.

Um dia, o rouxinol fugiu. E nem todos os emissários do império enviados pela China inteira foram capazes de encontrá-lo novamente.

Então a tristeza dominou o Imperador minando as suas forças.

E em pouco tempo viu-se o poderoso regente preso ao leito, dominado por misteriosa e persistente doença. Os maiores médicos do mundo foram chamados.

E veio uma madrugada em que, em meio ao delírio da febre, julgou o imperador ver ao pé de seu leito o rouxinol. Queixou-se, desvairado:

- Ingrato, eis que te dei tudo de mim! Dei-te a gaiola mais rica que jamais existiu, o melhor lugar do palácio e até mesmo os melhores petiscos do mundo, com as minhas próprias mãos!

Eu te amava e mesmo assim me abandonaste!

Respondeu-lhe o rouxinol:

- Dizes que me amavas... e mesmo assim era mais importante a tua vaidade.

Para que todos pudessem ver e ouvir o pássaro maravilhoso que possuías, me encerraste em uma gaiola, ao teu lado, privando-me de tudo que eu mesmo amava.

Julgas acaso, que a gaiola mais rica possa substituir a beleza e a imensidão do céu?

Ou que os esplendores do palácio me sejam mais agradáveis que voar livre entre as flores vendo a sua beleza e respirando o seu aroma, sentindo o calor do sol e o orvalho fresco da manhã?

Certo é que me alimentaste com as tuas mãos e que para mim procuraste os petiscos que melhores julgavas. Mas como podes acreditar que me fossem mais saborosos que os alimentos por mim mesmo escolhidos e por meu próprio bico colhido?

Porém, não me cabe julgar-te. Sei que é assim entre os homens; o que chamais amor não é senão a satisfação das vossas vontades.

Em nome do que dizeis sentir, buscais acorrentar a vós aquele que jurais amar; e não acreditais que alguém vos ame, a menos que se curve a vossos desejos esquecendo as suas próprias necessidades.

O que chamais “dor de amor” é, na verdade, o vosso egoísmo contrariado.

Deixa-me apenas, mostrar-te o que é o amor.

Porque, embora os emissários que enviaste para capturar-me não me tenham encontrado, eu jamais me afastei de ti; escondi-me em um arbusto do jardim, de onde às vezes podia ver-te, sem que me visses. E renunciei ao canto, que me denunciaria, para desfrutar da liberdade.

Entretanto retorno, agora que precisas de mim.

E apenas te peço que não tentes prender-me, ou o amor se perderia na revolta.

É certo que não estarei contigo todo o tempo que quiseres, mas hás de ouvir-me sempre que me for possível.

Deixo-me cantar para ti porque o amo, não porque assim o desejas!

Raiava o dia. O Imperador, já melhor da febre que o castigara, julgou ouvir um som maravilhoso que se espalhava pelo quarto, trazendo de volta a alegria e as cores da vida.

Abriu os olhos para a luz do amanhecer como se os abrisse para a esperança.

No parapeito da janela, cantando como nunca, estava o rouxinol

"Se você ama alguém, deixe-o livre". (Sting)

Um conto maravilhoso e comovente que só mesmo uma mestra como você poderia ter feito. Uma lição de vida, para melhor compreendermos o que é, realmente, o amor. Além de muito bem escrito, naturalmente...

Beijos Aimberê Engel Macedo – (Meu amigo que partiu para outra dimensão).

Marília
Enviado por Marília em 15/09/2008
Reeditado em 19/03/2015
Código do texto: T1179067
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