Suicidio ou pedido de amor a vida?

Lutei brevemente contra minha vontade de estar em qualquer lugar e tornar-me um estereótipo de ser-homem. Ser um lugar comum, um vegetal qualquer que vive e pesa, uma erva daninha, um anormal que se joga do alto dum edifício por que não tem forças pra lutar contra sua própria vontade.

Pensando assim, ví meu corpo sucubindo à esmo ao chão frio. Num estatelar da minha cabeça, pensei então comigo:

_ Cairei e deixarei de servir a esse povo pobre e mesquinho.

Mas, com um súbito impacto desesperado não sei se foi o vento ou de qualquer outra metafísica estranha. O tempo congelou. Pude parar e sentar no ar para pensar sobre tudo o que me aconteceu, foi então que percebi o quão previsível era o ser-homem desesperado.

De todas as alternativas o suicídio seria a menos prejudicial ao meu ego, o corpo? Que se dane o corpo.

Meu estado ao estar sentado era indiscutivelmente sóbrio e tranquilo, talvez eu tenha esperado por isso toda a minha vida desde o nascimento até aquela bendita hora que eu antecipava, não acredito em Deus ou qualquer outra divindade que possa rogar por meu corpo(não alma), não acredito em alma, céu ou inferno. Estou aqui, e se não gosto de onde estou pra que irei continuar a existir e me deteriorar cada vez mais?

E pensando assim, parece que tudo voltou ao normal, abri os meus braços, senti o vento da liberdade, uma breve lágrima correu com um riso inocente. Me senti como se tivese ganho o primeiro doce quando criança.

Mas a realidade é dura e fria com as pessoas que fraquejam.

Por um breve momento me arrependi de estar aqui, lembrei-me de Ana e de todas as metáforas com quem me deitei nesses meus vinte e sete anos de vida. Foi então que o peito em profunda agonia e desespero começou a chorar, senti pequenas folhas crescerem de minhas unhas, pássaros saiam de meus ouvidos e tudo o que mais apreciava tornara-se madeira, pó.

Meus olhos fechavam e cada vez mais podia sentir o doce hálito do asfalto, ele me abria os braços e disse estar esperando por meu cadáver desde o momento em que meu pai rasgara a buceta da minha mãe. Disse também que sentia o ar que eu respirava como a única saída de sentir-se tão vivo quanto eu que fui fruto duma vagabunda e um bêbado, que a anormal da minha mãe me forçara a fazer incesto com minha irmã, e assim matando-nos aos poucos.

_ Então é isso?. Perguntei-me em profundo desmazelo.

Estou aqui, caindo, conversando com o asfalto que abre-me sua boca, para devorar-me. Realmente eu não estou em sã consciência, estou enlouquecendo, sentindo meu corpo pesar, conversano com o asfalto de bocas, olhos, pernas, braços, e restos ,me esperando para devorar-me.

Então, realmente é isso o fim? A vida não passa de meras ilusões que descartamos ao nos jogarmos dum edifício, tomarmos remédio, overdose ou cirrose?

Ainda bem que decidi cair e abraçar o asfalto para nos tornarmos um e fazermos parte do mesmo universo que, por mais assombroso que possa parecer, deve ser bem melhor do que qualquer vidinha humana, e aqui, enquanto caio posso refletir sobre a banalidade que é estar vivo.

Cada vez mais perto, me encontro com o negro asfalto frio e molhado, introduzo-me em seu ser, tornamos-nos um, a onipotencia, o ser supremo, e tornando-me árvore, fico aqui, estatelado, preso a isso.

Sem vida!!!

Deimien Deinch
Enviado por Deimien Deinch em 01/09/2008
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