O dia em que minha vida mudou

Passeava pela rua quando em um beco me deparei. Observei algumas crianças que fracas e sujas, porém felizes corriam no pequeno beco, ao redor de uma poça de água.

De repente uma fria mão encostou em meu ombro, tão pequena e frágil e ao mesmo tempo apreensiva. Virei-me e dei de cara com uma menina de não mais que dez anos, com voz baixa e um tanto nervosa disse-me:

- Moça, tem um trocado? Eu já estou sem comer há dois dias e vim para cá a fim de conseguir algo.

Envergonhada a garota prosseguiu:

- Não precisa ser muito, o pouco que tiver já serve, minha fome é muita.

De relance olhei para a menina e disse-lhe:

- Venha comigo.

Apreensiva seguiu-me pelo cortiço até chegarmos a rua, andamos por quase dez minutos, até chegarmos a uma pequena sorveteria no fim da estrada, entramos e nos sentamos de frente para o balcão.

De repente olhei para a garota e lhe pedi seu nome, respondeu-me sem muita vontade:

- Maria.

Ao fim da frase perguntei-lhe:

- Onde está sua família?

- Não tenho família, vivo na rua, e nada tenho, por isso estava a lhe pedir...

Depois do choque, a interrompi assustada:

- Mora na rua?

- Sim moça, não tenho outro jeito.

A garota abaixou a cabeça e já ia saindo, quando percebi que de seus olhos escorreu uma lágrima, tão pura e verdadeira, como alguém que muito já sofreu.

Num impulso imediato, levantei-me e abracei a garota, coloquei-a novamente na cadeira e chamei a moça da sorveteria:

-Por favor, traga-me duas taças grandes de sorvete de chocolate, e com muita cobertura.

Os olhos da menina brilharam, afinal sua fome era muita. A alegria voltou a sua face e em silêncio olhou-me com olhos reluzentes, os quais muito me comoveram.

Após tomarmos o sorvete, peguei a mão da menina, e com ela sai rumo á minha casa. Quando chegamos, apertei a mão da garota e disse-lhe:

-Agora você faz parte da minha família.

Entramos, e quando fechei a porta, iniciou-se uma nova vida para mim que aprendi o valor da família e para a garota que agora tinha um lar.

Este é o fim de um dia do qual jamais esquecerei, o dia em que minha vida mudou.

Pois minha solidão se completava e naquele momento a compartilharia com um ser ainda mais só do que eu.

Marina Dalmass
Enviado por Marina Dalmass em 25/08/2008
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T1145299