Pensamentos de um cão mimado V
Olá, gente...
Tenho muita coisa para contar. Sei que faz mais de três semanas que não escrevo, mas é que andava ocupado com o trabalho da mamãe. Por falar nela, ela ficou muito brava comigo a semana passada, pois ela saiu para trabalhar e quando voltou eu tinha feito uma enorme bagunça na casa. Não sei se vocês sabem, mas eu agora estou ficando sozinho quando todos saem para trabalhar; é uma verdadeira festa.
No começo, eu sentia muita solidão, mas agora aprendi a aproveitar o meu tempo sozinho: penso na vida, faço planos para o futuro, penso nas histórias que vou escrever, brinco com os meus bichinhos e faço um pouco de bagunça na casa.
Outro dia, a mamãe e a minha irmã entraram em casa e eu tinha destruído todo o papel higiênico do banheiro, rasgado a caixa de produtos de beleza que estava em cima da cama, jogado a camisola da mamãe no chão - afinal de contas necessito do cheiro de meus donos –, brincado com o ursinho de pelúcia que ela ganhou do papai e... pior: mordido o livro que ela estava lendo. Mas se fosse um livro qualquer, ela, com certeza, não teria ficado tão brava, porém foi o livro do seu autor preferido, no qual ela lê tudo o que ele escreve, crônicas, assiste a suas novelas e lê todos os livros que ele lança. Coincidência ou não, o livro que eu mordi conta a história de um cão e seu relacionamento com o seu dono e, segundo mamãe, a história é muito emocionante!!!
Tentei conversar com mamãe, dizendo que eu também queria ler o livro, mas ela não acreditou e brigou muito comigo. Fiquei até com ciúmes do autor desse livro, afinal, onde já se viu brigar comigo por causa de um livro?!
A minha irmã e o papai tentaram me consolar, mas foi em vão, pois chorei muito, e só melhorei quando entrei no quarto e vi que mamãe também estava chorando. Logo imaginei que ela estivesse com remorso... porém qual foi a minha surpresa quando ela disse que estava chorando porque o cão do autor – no livro e na vida real – tinha morrido e que seu dono havia retratado sobre todas as suas aventuras com seu cãozinho no livro, inclusive que o cão já tinha até sido autor de crônicas para uma extinta revista.
Pode uma coisa dessas? Voltei a chorar, só que não foi porque mamãe havia brigado comigo, e sim porque fiquei emocionado com a história. Quando mamãe me viu no quarto, pegou-me no colo e disse que o autor, o seu ídolo, tinha razão e que o bicho-homem não é dono do “seu cão”, mas que o “seu cão” é o verdadeiro dono do bicho-homem. Achei o máximo!!! Até que enfim alguém disse alguma coisa certa sobre cães!!!
Com toda a história que mamãe contou e com a filosofia do autor do livro, tornei-me seu fã número dois, pois o primeiro lugar já pertence à mamãe, uma vez que ela o conhece pessoalmente e se orgulha sempre de ter feito um curso com ele. Ainda bem que papai não é tão ciumento!
Sabe, gente... são muitas aventuras retratas no livro, mas o que eu achei mais interessante é que o autor diz que, nós, os cães somos anjos... “Anjos de quatro patas”.
Espero que vocês ao lerem esse conto pensem em nós como anjos e saibam que temos muito a oferecer. E que mamãe não fique tão brava comigo quando eu fizer bagunça, pensando em mim como o seu anjo, o "seu anjo de quatro patas"!
Lambeijinhos do Spyk.
P.S.: Não quero fazer propaganda, mas o nome do livro que me emocionou é “Anjo de quatro patas” e o autor é o Walcyr Carrasco. Leiam, pois tenho certeza de que irão gostar!