Lofrien
Floresta de Drakonom
3ª era do vento
A entrada do templo não era com ele esperava. Na verdade era muito maior do que ele pretendia encontrar. A subida foi árdua, mas a paisagem encheu os olhos daquele ser mágico. Ao sair, três dias anteriores de sua morada, Adriel levou consigo apenas a esperança de sobreviver àquilo que chamavam de “o mal”. Sua imortalidade estava ameaçada e o jovem não queria perder o que lhe dava oportunidade de viver nas terras que amava: A vida.
O cheiro da madeira antiga com a relva se misturava e produzia uma agradável sensação ao nosso jovem. Trajava uma túnica de linho élfico tão alva quanto a neve, onde haviam detalhes e bordados com aspecto da floresta. Seu arco e flechas envolviam o longo tronco daquele andarilho. As botas que lhe eram por proteção se tornaram incômodas após a íngreme subida até o templo. Não havia uma trilha ou escadas para facilitarem a chegada até aquele lugar inóspito e sim havia a incerteza de encontrar um lugar quase secreto. Os longos cabelos negros contrastavam com as águas da fonte que jorrava a leste do templo. Adriel se inclinou a beber daquelas águas, que refrescaram sua garganta e suas memórias. O frescor da água se misturou com odor daquelas plantas que tomavam conta da entrada do local.
Adriel percebeu inscrições curiosas na parede de entrada do templo. Era uma língua desconhecida até mesmo para os elfos, que eram seres de extrema sabedoria e de extrema empatia com animais. Estar naquele lugar poderia proporcionar ao jovem a oportunidade de sobreviver àquela moléstia que lhe tirara a tranqüilidade. Esse “mal” que contagiou Adriel era algo singular. Não produzia feridas ou dores, apenas tirava aos poucos a essência da vida.
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Aos imortais, foi designada uma praga, que sem delongas extrai a vitalidade. Será o destino de alguns Elfos. Sem motivo, rancor ou mágoa. Apenas se apoderará dos escolhidos. Escolhidos pela Efêmera, dos quais se tornarão fruto do que mais temiam: A morte .
(Sábio élfico, 5ª era da passagem)
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Amor. Era o que movia Adriel na sua busca pela vida. Amor pelo seu lar, natureza e irmãos da grande floresta de Lofrien. Com dúvidas e incertezas no coração Adriel adentrou pela grande e antiga porta do Templo...
Pátio de Horinór
3ª era do vento
Um vasto corredor invadiu os olhos de Adriel. Não era o que ele esperava. Por fora, aquela porta de madeira parecia apenas guardar um humilde e pequeno templo. Mas o que ele viu foi um pátio com salas e pequenos altares. No final do pátio havia uma escada que levava a outra porta, esta que era um pouco menor. Caminhando pelo pátio pode perceber que o lugar estava vazio e tranqüilo, assim como toda região. Procurou por humanos ali. Nada encontrou. Em cada porta que batia, nenhuma correspondia a sua expectativa. Uma pergunta pairava em seu coração... Será que havia ido ao lugar certo? Não se avistava nenhum ser vivente, a não ser as aves de rapina que sobrevoavam o pico do monte mais próximo. Caminhando a passos preocupados e rápidos o hospedeiro do “mal” alcançou a escada que levava a porta do templo e antes mesmo que batesse, ela se abriu.
Templo de Horinór
3ª era do vento
Era marrom. Todo o templo, inclusive sua abóbada eram marrons. Não era tão diferente das histórias que Mythrandir lhe contava. Aliás, Mythrandir, o sábio de Lofrien, foi quem instrui Adriel nos caminhos da verdade. Além de conselheiro, eram amigos. As lembranças das estórias que o amigo contava invadiram a mente do jovem, que não pôde evitar a saudade. Saudades de quando era criança e tinha aprendido a se comunicar com os cavalos, saudade de quando ia colher os frutos mágicos à leste de Lofrien. O tempo parou por instante. E foi nesse pequeno momento que o jovem percebeu que estava a sós com seu destino.
No templo o único som era o de seus passos. O silêncio reinava por absoluto. Não havia bancos e nem mesmo vitrais bonitos. Apenas um altar e uma sala disposta ao fim do salão. Todo o templo era de madeira e folhas e não se tinha janelas. Adriel tocava as paredes com as mãos e observava a maneira rudimentar de construção. Sentia-se aflito, pois não encontrava alguém que pudesse o ajudar. Ainda duvidava das palavras de quem o mandara ali, mas se lembrou que Mythrandir nunca falhara com ele. E ele recordou com carinho e incerteza o momento em que seu velho amigo e conselheiro lhe disse o que fazer.
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_Filho, A leste da floresta de Drakonom existe um monastério em meio à clareira, onde poderás encontrar respostas, para sua cura. Lá habita um monge. Ele te guiará ao caminho certo. Toma-o como seu norte e cumpre a tua sina. Estarás só, é verdade. Mas lembre-se que és um ser fantástico, dotado de empatia e saber. Recrutarás companheiros para sua missão e seguirá ao desconhecido. Vá em paz, na esperança de retorno breve meu jovem.
E o dispensou. Colocando uma mão sobre a fronte de Adriel enquanto a destra segurava o cajado.
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Um monge. Um monge o ajudaria. Mas onde estaria aquele ser? A única e ultima esperança estava naquela pequena sala à esquerda do salão. E foi lá. Naquela sala que o jovem recebeu o sopro de esperança. O monge meditava, parecia fora de si. Adriel se dirigiu a ele entrado pela pequena porta com nesgas antigas e marcas do tempo.
A túnica marrom cobria todo o corpo daquele homem. A cabeça estava envolta em um capuz, que não deixava o rosto à mostra. O jovem não sabia como agir. Cogitou entre o tocar no ombro e o chamar de senhor. E com um infeliz passo, derrubou um cálice com água no chão. O barulho ecoou num vácuo de pensamentos. Mas o homem, que estava de costas para Adriel, não esboçou nenhuma reação quanto ao barulho. Nenhum movimento sequer. O ambiente tinha um cheiro agradável, uma mistura de lírios, torrente de águas frescas e a terra do ambiente externo ao templo. Lofrien: a floresta encantada dos elfos, o odor trazia o lar à memória do moço.
O monge não emitia nenhum tipo de som ou sinal de inquietação. Adriel não entendia o que ele estava fazendo. Elfos não meditavam. Como dizia Mytrhandir: “Meditar é para pessoas que não estão em paz consigo mesmas”. O jovem voltou à entrada da sala para ver se achava algo. Nada. Nenhum som e nem movimento. Estranhamente o som das águas que corriam no exterior do templo havia cessado. Nem os pássaros cantavam mais. “Deve ser algo de minha mente.”- pensou nosso jovem. Em uma última esperança, ele voltou novamente à pequena sala onde o monge estava.
O monge não estava mais lá. O cálice que havia tombado no chão já não existia. Nem a água derramada. Pra onde teria ido aquele monge? Por um momento Adriel se desesperou pensando ser algo de sua mente. Adriel procurou em todas as partes da sala e daquele templo. Em todos os possíveis esconderijos. Mas nada encontrou. A tristeza mais uma vez tomou conta do nosso imortal ser... Que em pouco tempo perderia a essência da vida. Junto com aquele templo que parecia abandonado, nosso jovem saiu convicto que a derrota chegara. Nada o ajudaria mais. Não veria mais Lofrien. Não comeria dos frutos vistosos da grande floresta. Não veria mais Winyem, sua amada.
A porta que outrora fora sua esperança de vida. Agora era a saída. Ele a abriu. E não acreditou no que seus olhos viram...
Floresta de Drakonom
3ª era do vento
Neve. Toda a paisagem que dantes resplandecia o verde e as cores, agora estava tomada pela alva neve. O som das águas cessara, pois estavam congeladas. Os pássaros não mais cantavam, pois estavam abrigados em seus ninhos. Nem mesmo os ouvidos dos elfos, que eram tão apurados, conseguiram ouvir os passos do homem que se aproximou por trás, tocando-lhe o ombro direito. Adriel virou-se rapidamente com seus reflexos apurados e percebeu que o monge, que dantes vira em estado imóvel, agora sorria. Sorriso este, que refletiu felicidade nos olhos do jovem. Novamente ele não sabia o que fazer ou falar. “Além da vida, este mal deve estar sugando-me também a sabedoria”- pensou ele.
“_ Ao acaso procurava por mim?” – Perguntou-lhe o monge. Adriel percebeu que ele era muito menor do que aparentava na sala.
“_ Sim. Não somente pela vossa presença, mas juntamente busco respostas para uma questão que me aflige.” - Disse nosso jovem abaixando a cabeça e suspirando.
“_ Está frio. Havia um bom tempo que eu não presenciava um ar tão gélido.” – Tremeu o monge se envolvendo em sua túnica e colocando o capuz. “_ Acompanhe-me.” Disse o monge respeitosamente, virando-se e seguindo rumo ao templo novamente.
Adriel não cogitou em outra ação, a não ser seguir o homem que poderia ser sua única esperança. E novamente entraram pela grande porta de madeira, que parecia abrir com maior facilidade nas mãos do monge.
Pátio de Horinór
3ª era do vento
O monge conduzia nosso imortal pelo extenso pátio. Adriel observava tudo atentamente e perguntou:
“_ Por que os ares mudaram de maneira repentina?”
“_ Jovem nesta terra, nada acontece de forma linear. Nada tem um motivo ou razão. Aqui as árvores têm vontade própria. O céu se move segundo bel-prazer. O ar se presenteia com partículas novas todos os dias. Não existem estações... Existem eras.” – Pronunciou o monge.
“_ Em que era estais aqui?”
“_ 3ª Era do vento meu jovem”- Disse o monge conduzindo-o a leste do pátio.
“_ A porta de entrada, possui inscrições, das quais, nunca meus olhos viram...”
“_ Poucos olhos viram, jovem. És mágico apenas por ter chegado até aqui.” - Falou suspirando.
Eles seguiam rumo ao leste do pátio, onde ao final uma extensa parede de madeira possuía encaixes semelhantes a um círculo. Adriel viu o monge retirar do pescoço uma corrente com um pêndulo. O monge encaixou - o na parede e girou, dando início a uma seqüência de manivelas e catracas que começaram a girar incessantemente. O chão tremeu por um instante e o que era um imenso obstáculo na frente dos nossos personagens se tornou uma passagem com interior escuro e gélido. O monge logo adentrou naquele lugar e sem pestanejar, nosso jovem o seguiu.
Sala secreta
3ª era do vento
Desceram uma escada que lavava ao subsolo do templo. O subterrâneo era grande e no centro do lugar havia estrutura complexa do tamanho de um homem comum. Colunas colossais sustentavam o lugar. As forças dos elementos da natureza estavam presentes nos desenhos das paredes. Havia um mecanismo muito complexo de engrenagens e catracas que levavam à uma cúpula vidro, que parecia estar vazia. O monge explicou a Adriel que havia uma pequena semente de Cronun, uma pequena planta cujas sementes eram raras de se encontrar, e as poucas que havia solucionavam os problemas dos seres mágicos. Adriel coçou a cabeça não entendendo como aquela pequena semente o ajudaria... Repentinamente eis que nosso jovem viu a grande esperança. Aquilo que poderia mudar seu destino...
“_Era um bilhete premiado da “Mega-sena”?” gritou Yago.
“_ Droga! Você sempre quebra o clima das minhas histórias!” Disse Lucas.
“_ Ah! Assim como as outras não gostei dessa também...” sussurrou baixando os olhos.
“_ Assim vou desistir de ser escritor! Nem meu melhor amigo gosta... Humpf!”
“_Ah cara...” Disse Yago abraçando o amigo “_Você está melhorando!”
Vendo o desapontamento de Lucas, o amigo sugeriu:
“_Ei! Que tal irmos ao shopping?”
“_Não! Não quero...” choramingou Lucas.
“_Ah... Vamos cara, aí a gente passa naquela loja de livros velhos... Que tal?”
“_Não é loja de livros velhos! É sebo! Já te falei!”
“_Er... Sebo... isso! Vamos então?”
“_Tá bem...” Disse Lucas, amassando as folhas, deixando Adriel para trás e só na sala secreta...