Magia de lotus

Foi num bairro do prazer em Kyoto que a vi através da persiana de bambu. Exótica, lenta, romântica e sensual. Ostentava quimono vermelho com obi branco, e ensaiava gestos teatrais na cerimônia do chá. Apertados tamancos davam formas delicadas aos seus pés pequenos. O penteado bem feito ornamentado no lado esquerdo com uma flor de lótus, dava um aspecto soberbo a sua estatura pequena. Sóbria maquiagem escondia sua pele de pêssego, e os olhos estavam cercados de cores vivas, mais vivas que seu olhar. Registrei a inédita cena numa fotografia digital, e fui convidado a me retirar.

Atormentado, me vi cercado por enormes seguranças de quimonos pretos. Não pude voltar para procura-la.

Voei para casa no dia seguinte, mas não era mais o mesmo.

O movimento confuso das ruas do Brasil me aturdia. Sua imagem dava voltas em minha cabeça e provocava pequenos calafrios: uma delicada gueixa se movendo com gestos lentos num ensaio mágico para agradar o cliente.

Precisava ver para acreditar que você existia. Hoje vivo alimentado pela fotografia que tenho. Nela seus maliciosos olhos serenos estavam em mim...