POR UMA NOITE APENAS.

Às vezes você vinha, me chamava, entrava e me amava como se nunca tivesse partido. Chegava como se o tempo tivesse parado desde a última vez e eu sem qualquer relutância sorria e abria meus braços pra você. Beijos ardentes e envolventes nos conduziam de encontro ao outro num só corpo num só desejo: o de ser feliz por uma noite apenas. Bebidas, cigarros, músicas e muito amor embalavam aquelas noites.

Por uma noite apenas eu vivia como se o mundo lá fora não existisse porque o tempo ali dentro havia parado. Epa! Espera ai! Então não era você quem chegava como se o tempo tivesse parado, era eu quem ficava ali esperando sua volta paralisada no tempo. Quantas vezes devo ter feito isto. Agora me dou conta das incontáveis esperas pelo teu retorno. Nunca deixei de receber, nunca desejei me separar de você, mas um dia, não sei dizer, tudo mudou, e eu não quis mais estar, não quis mais esperar seu retorno, não quis mais amar você. Alguma coisa havia mudado, alguma coisa havia se partido.

Penso que as coisas sejam assim mesmo: um dia deixamos de amar esse tipo de amor que só acontece por uma noite apenas cheio de paixão, de tesão, de loucuras e de desprezo ao que vem depois, ao dia seguinte, ao compromisso. No fundo buscamos um amor embalado pelo cotidiano, pelo que deu certo, mesmo que, embalados também pelos ciúmes e incertezas que toda aventura amorosa nos traz. Precisamos do olhar nos olhos do outro e reconhecer a outra face que nos conduz uma felicidade, que nos ofereça alguma resposta as nossas dúvidas, que nos conforte as dores, os sofrimentos. Precisamos do compromisso, da doação, da ilusão da simples existência do outro no dia a dia das nossas vidas, do cotidiano.

O outro? Aquele amor da paixão, da solidão, do tesão puro e simplesmente? Este deixa pois, para vivê-los por uma noite apenas.

Por Graça Costa.

Amparo. 2007.