O LIVRO DO DESTINO

O mercado daquela cidade oriental era vasto e populoso;todos compravam de tudo,desde tapetes até especiarias e a clientela era cosmopolita,ricos xeiques,escravos,viajantes estrangeiros e mendigos.Um deles,chamou logo minha atenção;falava agitado,gesticulava muito,praguejava sem cessar,olhava desconfiado as pessoas que passavam,agitando-se ainda mais quando um potentado cruzava com ele,coberto de ouropéis e cercado por escravos obedientes.Não sei se era louco ou,se o fumo forte que usava,soltando longas baforadas,por certo uma mistura de fumo e haxixe,é que o tornava tão inquieto e agressivo.Gritava impropérios para os passantes,apertando entre as mãos um turbante imundo e esfarrapado:

-Mac Allah,ò mulçumanos;eu já fui rico e poderoso!eu tive o destino de todos vocês nas minhas mãos!

Uns rosnavam contra êle, porém,os mais compassivos,diziam:-È um pobre diabo!Não regula bem do juízo.

Eu me sentia atraído por essa figura extravagante,e,procurei me aproximar dele,com ternura,até que ganhei sua confiança.

-Esse pessoal me toma por doido;não querem crer que já tive nessas mãos,o destino da humanidade inteira.

Fiquei perplexo!Aquela monocórdia e insistente afirmação me deixava confuso.Mas,não abalava o mendigo,que continuou:

-Segundo reza o Alcorão-o livro de Allah- a vida de todos nós está escrita-maktub-no Grande Livro do Destino;Todos têm lá a sua página,com tudo de bom e de ruim que irá lhe acontecer.

-Em viagem pelo deserto,encontrei um feiticeiro que ia ser enforcado;usando minha força e sagacidade,consegui liberta-lo;em sinal de gratidão,deu-me um talismã,uma pedra maravilhosa,que permitia minha entrada na Gruta da Fatalidade,onde fica o Livro do Destino.Cheguei lá,depois de uma longa viagem,e,um djin,um gênio bom me deixou entrar,recomendando que eu só poderia ficar por cinco minutos.Era minha intenção alterar a minha página,escrevendo que seria muito rico e que teria uma vida longa e uma morte serena.Porém,lembrei-me dos meus inimigos.Como seria bom prejudica-los!Então,procurei as páginas deles e comecei a escrever coisas horrendas e maldosas,nos seus livros.Ah,como a vingança era doce!Tão entretido fiquei em causar o mal,que não reparei que o tempo tinha se esgotado;esqueci de fazer o bem a mim mesmo.Sem que eu esperasse,surgiu um efrite-gênio feroz-arrancou-me o talismã e me jogou fora da gruta,com estupidez.Na queda,perdi os sentidos e,quando acordei estava a léguas de distancia,num Oasis,ferido e faminto.Nunca mais pude voltar á gruta.Perdi a oportunidade de ser rico e feliz.Essa estória,seria verdadeira?O que sei é que ela encerra um grande ensinamento;Quantas pessoas há,neste mundo,que,preocupadas em levar o mal a seus semelhantes,se esquecem do bem que poderiam fazer a si próprios...

EXTRAÍDA E ADAPTADA DAS MIL E UMA NOITES)

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 16/07/2008
Código do texto: T1082723
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