O Alvorecer - 1º Alvorecer
1º Alvorecer
A Morte, pontual e sistemática, me despertou no crepúsculo do dia. Concedeu-me, conforme o nosso combinado, até o alvorecer, momento designado à minha sentença, para revelar-lhe os meus relatos.
_Morte, sei que possuis o poder sobre todos os destinos, e agradeço-te por seres complacente com este pobre poeta, que mais que nos tempos idos, neste tempo, apenas delira. Ainda zonzo pela paz do sono, início assim as minhas últimas palavras em vida.
No Jardim Paulista, na grande metrópole de São Paulo, havia uma senhora que jamais compreendeu o porque a sociedade permitia a existência de tantos excluídos. Lia e relia artigos nos jornais que mostravam a ‘vida’ de tantos miseráveis que estavam jogados às sarjetas da cidade. Resolveu, muito mais por curiosidade que benevolência, conhecer ‘in loco’ a miserabilidade destes sobreviventes da exclusão.
Certa noite, vestida e adornada como de costume, saiu em busca de materializar suas preocupações. Entrou no seu ‘Mercedes’, e acionou o controle remoto para abrir o portão eletrônico. Ainda absorta em sua aventura, não observou que estava sendo observada, e numa fração de segundo tinha apontado para si uma arma calibre ’38’.
_Nun-faiz-nada-velha!-Sai-numa-boa-da-caranga, disse o menino-ladrão, afoito e revoltado.
_Não me machuques, por favor! Imploro-te! Leves o carro, mas... mas... mas não me maltrates, disse a senhora àquela primeira aparição da realidade.
Como continuar fina e educada diante de um marginal?
_Cala-esse-bico-coroa-sinão...
Os primeiros raios solares já se despontam no horizonte. Inicia-se um novo ciclo solar, e para mim o último, e se quiseres, juíza de todos os destinos, podereis me sacrificar.
_Posso muito bem adiar tua sentença, visto que me interessei por esta história. Quero saber o que acontecerá a esta senhora. Devo me ocupar de outros corpos, então, amanhã te acordarei um pouco antes do sol nascer, e assim, me contarás o final. Até breve!