O significado da vida
Houve uma vez um jovem rei em seu reluzente castelo, que embora tivesse tudo que quisesse: uma esposa que o amava, uma linda filha, fosse muito valente e adorado por seus suditos, estava muito infeliz. O monarca, fingindo que aceitava todos os princípios da Santa Igreja, sempre se perguntava se o Senhor Deus existia e o porquê de estar vivo, se aquilo era tão monótono: apenas ficar sentado em seu trono o dia inteiro, assistir as repetitivas palhaçadas do bobo, receber visitas fúteis, participar de eventos chatos com gente igualmente CHATA. Para ele, isso era o fato boçal que se chamava viver.
Um dia, já não aguentando mais tamanha angústia, resolveu partir em busca do significado da vida. Iria enfrentar o que fosse para encontrá-lo. Vestiu-se como um velho camponês, para que não fosse notado, e despediu-se da rainha e da princesa, mas vendo que estas caiam em prantos por sua partida, disse-lhes:
- Não choreis, minhas queridas, pois quando voltar com minhas perguntas respondidas, estarei feliz.
Montou numa simples mula e, com o rosto coberto por um negro capuz, partiu em direção à floresta. Ao passar por um clareira, viu um casal de roxinóis se acariciando, empoleirados em uma roseira, e esta inteiramente florida por rosas cor-de-chá e folhas verde musgo aveludadas, que, banhadas pelo orvalho, radiavam o brilho do Sol da manhã. Olhou para a cabecinha do filhote qua surgia de dentro do ninho dos pássaros e que deu um curto pio para chamar seus pais. Estes foram ver o que queria seu feio bebê. Mas...ele: pelado, roco e raquítico iria um dia ser tão belo, gracioso e ter um canto lindo, como seus pais.
"Nossa", pensou fechando os olhos, o rei "que coisa perfeita." Admirou novamente um dos roxinóis, que agora cantava, e como cantava lindamente...
"Que animal inteligente." pensou o rei "Como vive a vida intensamente. Esforçou-se para crescer, aprender a voar e ser livre para viver..."
Nesse instante, o rei ajoelhou-se no chão, com lágrimas correndo pela face e, desesperado, gritou:
- Mas viver para que?!
Puxou sua espada e apontou-a para o próprio coração. Nesse momento, o pássaro calou-se e encarou o homem, que fez o mesmo. Para a surpresa do rei, o pássaro lhe perguntou:
- Por que te desesperas, meu senhor? Para que tirar tua própria vida?
Ele enxugou o rosto, levantou-se e disse ao pássaro:
- Minha vida é só monotonia. Não há nada nela de bom! Não posso mais suportar tal angústia, ó roxinol!
O pássaro, muito indignado, respondeu-lhe:
- Ora, mas como vós sois estranhos, bichos homens! Tu, meu senhor, és são e amado. Por que te desfarças de velho e esquecido? Nasceu com magníficas asas. Por que preferes rastejar? Tu tens o mundo em suas mãos. Por que jogá-lo contra ti? Por que não dás valor ao que és e ao que tens?
O rei disse:
- Mas por que não posso saber o porquê da vida? E o que vai me acontecer depois de minha morte?
E o roxinol, balançando a cabeça desapontado, disse:
- Vós sois muito preguiçosos, homens! Quereis definir tudo! O porquê da vida de cada um é de sua própria escolha. Podes fazer da tua vida o que quiseres! Ela te pertence, não é? Pois faça dela o que bem entenderes! E saber o que vem depois que ela termina? Ora, vós pensais mesmo que podem saber de tudo e tudo terem sobre vosso comando! Não se contentam em não saber, perdem o tempo da vida se perguntando, se acham infelizes e vítimas do mundo por, simplesmente, não saberem, e morrem sem saber! Que desperdício! Na verdade, ninguém sabe, só acha, só tenta saber, meu senhor.
O rei, impressionado, disse:
- E tu, roxinol, sabes?
O pássaro suspirou e simplesmente respondeu:
- Eu não! Ora...quem sou eu, meu senhor? Como poderia saber? Sou só um pássaro.
E vôou.
O rei sorriu e, com um brilho nos olhos, contemplou novamente a clareira e voltou para o castelo o mais rápido que pode. Chegando lá, abraçou forte a filha e beijou tão ternamente a esposa como nunca fizera antes. A rainha, surpresa por vê-lo tão radiante, perguntou:
- E então?
Ele sorriu e respondeu:
- Amo-vos muito, minhas queridas, e estou feliz! Muito FELIZ!
Fim.