Pensamentos de um cão mimado I
Meu nome é Spyk, sou da raça Lhasa Apso e fui adotado por uma linda família. Tenho pai, mãe, duas irmãs - uma que também quer ser minha mãe -, prima, avós e até madrinha. Vê se pode madrinha!!!
Tenho quatro meses e sou o bebê da casa, embora, às vezes, não veja graça nisso. Todos aqui me mimam bastante e eu acabo ficando confuso, pois quando eles querem me repreender acabo não entendendo nada.
Para ser sincero, acho o bicho-homem muito complicado. Quando esqueço e faço xixi ou cocô no lugar errado, e minha irmã me dá bronca, a minha mãe fica furiosa, me pega no colo e me faz cafuné, deixando a minha irmã brava. Mas quando quero pular no sofá, acontece o contrário: a minha mãe fica brava e a minha irmã não liga.
O meu pai acha que o melhor para me educar é batendo, porém como mamãe é psicóloga, deixou para lá e só limpa o que eu sujo. Ele sempre me deixa comer tudo aquilo que não posso, deixando assim, mamãe furiosa e preocupada com a minha saúde. Papai nunca diz “não” para o que peço para comer e, todos os dias, me dá a deliciosa cenourinha.
Mas, o que mais gosto de fazer é brincar com as pessoas. Adoro quando vem visita em casa, pois eu pulo, lato, faço até xixi nos seus pés e todos adoram, pois me fazem muito carinho. Só não entendo o acontece quando saio com a mamãe e com a minha irmã, pois algumas pessoas nem me olham, me ignoram e eu me sinto rejeitado. Muitas vezes choro e mamãe me consola, dizendo que nem todos gostam de cachorros. Pode alguém não gostar da gente? Pois é, mas o bicho-homem tem as suas manias, pelo menos é o que diz minha mãe.
Outro dia, vi uma criatura bonitinha, fofinha e peluda. Puxei a mamãe para ir brincar com aquela coisinha miúda. Ela levou um susto e disse que aquela criatura era minha inimiga. Inimiga? Pensei. Como que ela é minha inimiga se nunca nos vimos?
Ao chegar em casa, mamãe contou o fato para o meu pai e ele disse que eu era muito dado e que era perigoso me deixar sem coleira na rua, pedindo também que não me deixasse chegar perto daquela criatura: o gato. Então, me pus a pensar sobre o porquê do nome gato e sobre por que ele era meu inimigo.
Sei que sou novinho, sou filhote e tenho muita coisa para aprender. Mas será que algum dia o bicho-homem irá me entender e esclarecer as inúmeras dúvidas que tenho sobre o mundo? Será que o bicho-homem entende realmente o cachorrês? É porque nós, cachorrinhos, entendemos perfeitamente o português e, no meu caso, o castelhano, pois mamãe faz curso e fala constantemente comigo. Ela diz que sou a única criatura da casa que não se incomoda com o seu castelhano. No início, não entendia, mas agora sou um expert nessa língua.
Espero também que a minha família entenda que a minha espécie vive em matilhas e que preciso ser comandado, pois do contrário dominarei a todos. Eles, aqui em casa, não sabem o que fazer para me pôr limites. Assisto a inúmeras reuniões familiares e a cada semana surge uma nova teoria para me educar. Mas, no fim eles a deixam de lado para me mimar, pois acabam ficando com dó de mim, achando que estou sofrendo com as regras impostas. Basta um olhar ou um latidinho para que eles deixem as novas regras e inventem outras.
Não sei até quando isso vai durar, pois sempre testo os seus limites e eles se rendem aos meus caprichos. É só fazer uma nova gracinha ou mostrar que fiz uma descoberta para que eles se derretam e me deixem livre.
Já me chamaram de tirano, mas sei que sou apenas mimado e que sou como uma criança, quero limites, quero ser compreendido, mas antes de tudo, quero aproveitar a vida com tudo o que ela tem de melhor!!!
Até logo e até o próximo capítulo.