Ilhas

Somos duas ilhas, unidas por um mar... que eu ainda desconheço.

Eu era uma ilha solitária no meio de um oceano escuro, cheio de lembranças vazias e geladas.

Então o oceano se revoltou de tal forma, tornando-se quente.

Os seres que haviam nele se moveram de tal forma - aqueles peixes indiferentes -, a unir-me a uma outra ilha, também sozinha, como eu.

Era estranho ver aquela ilha tão próxima a minha, tantos anos de solidão... E então eu agitei o mar, e tentei afastá-la, pois sua presença me deixava confusa, embaralhada, ela mostrava-se bela, aberta e alegre. Eu era uma ilha que se escondia numa floresta, cheia de armadilhas e animais selvagens. Um interior só e com medo.

A lembrança daquela ilha, antes perto, agora afastada, fazia chover em minha ilha. A areia amontoava-se. As árvores perdiam folhas, o vento as levava. Decidi trazê-la de volta. Revoltamos o mar... E nada. Chovia cada vez mais em minha ilha. Choveu por dias. Até que uma vez, em ondas revoltas... Ela voltou.

Voltou com uma aparência fechada, mas conseguia ainda ver a beleza e o calor.

Minhas árvores, minhas plantas desejavam enlaçá-la, cada vez mais...

Então, finalmente a abracei, e juntas deixamos que meus dias de solidão terminassem.

Embora em alguns momentos minha ilha se sentisse um tanto perdida e confusa pela presença de outra, tão livre, morna e iluminada, - e pelos seus próprios desvaneios, ondas que se quebravam e invertiam, um mar que pregava peças... - esses problemas foram passando.

Algumas vezes ainda chove em minha ilha...

...Mas agora é uma chuva renovadora.